O desejo sincero de contribuir com a Unicamp e a sociedade, que bancaram uma formação que permitiram sua ascensão profissional, fez com que quatro ex-alunos do Instituto de Computação (IC) idealizassem e implantassem um modelo de doação de bolsas para graduandos da iniciação científica. Em 2017, em sua primeira edição, o Bolsa Alumni contemplou quatro alunos com doações dos idealizadores; agora em 2018 são sete bolsistas e 16 doadores, sendo que mais ex-alunos já manifestaram interesse em contribuir, criando a perspectiva de que o movimento cresça e se torne perene. Não há informações de iniciativas semelhantes na Unicamp ou em outras instituições brasileiras.
Desde que se formou engenheiro de computação em 2008, Uirauna Caetano (que também obteve MBA na Universidade da Califórnia – Berkeley) buscava formas de retribuir a oportunidade de ter estudado em uma universidade renomada e, ainda por cima, gratuita. “Infelizmente poucos têm essa chance. Aqui nos Estados Unidos é muito comum ex-alunos (alumni) doarem para as universidades onde estudaram, mesmo se elas são pagas”, afirma o hoje gerente de estratégia para Android no Google. “Em 2017, universidades americanas receberam 43,6 bilhões (com ‘b’, mesmo) de dólares em doações, sendo 11 bilhões de ex-alunos. Eu quero criar a mesma mentalidade no Brasil: devolver para a sociedade parte da oportunidade que ela nos deu.”
Ao esbarrar na ausência de modelos de doação na Unicamp e no país, Uirauna Caetano teve a ideia de patrocinar diretamente alunos de graduação com bolsas de pesquisa. “Assim, não só incentivamos a pesquisa básica, tornando a iniciação científica competitiva com o estágio em termos de salário, como também ajudamos a criar um programa de doações para a Universidade. Depois de conversar com três amigos que têm ideias parecidas, todos alumni da Unicamp, lançamos a primeira edição patrocinando bolsas de um ano para quatro alunos do IC.”
O professor Rodolfo Azevedo recorda que já havia sido indicado para assumir a direção do IC quando recebeu uma mensagem dos ex-alunos contando sobre a ideia e, como participaria de um evento na Califórnia, pôde discutir os detalhes pessoalmente com Uirauna Caetano, Thiago Teodoro, Samuel Goto e Marcus Nascimento. “Logo que voltei e tomei posse, implantamos o Bolsa Alumni com uma chamada que teve quatro alunos selecionados. Os idealizadores da bolsa fizeram outros cursos lá fora e inclusive doaram para as respectivas instituições, mas lamentavam a dificuldade para fazer o mesmo no Brasil. Eles são doadores também nesta segunda edição.”>
Segundo Azevedo, trata-se de uma bolsa complementar de 300 reais por mês, durante 12 meses, sendo que o aluno já deve ser bolsista de uma agência de fomento brasileira. “Cada agência possui sua norma para autorizar o complemento, que deve ser solicitado pelo próprio beneficiado. Um fato em relação ao IC é que nossos alunos conseguem estágios com valores bem mais altos que das bolsas de iniciação científica – na faixa de 500 a 600 reais, enquanto os estágios partem de 1.000 reais, somando-se ainda os benefícios. A bolsa Alumni vem contribuir para diminuir essa distância. Temos novos doadores tanto do exterior como espalhados pelo Brasil, como um do Acre. São profissionais que já alcançaram patamares interessantes na carreira.”
Despertando uma cultura
Maria Kersanach, contemplada da edição de 2017, fez neste semestre um estágio voluntário no Laboratório de Engenharia Neural da Universidade George Mason, em Virgínia (EUA), trabalhando em diferentes projetos envolvendo de cultura celular a programação para realidade aumentada. “Paguei minhas passagens com parte do dinheiro que estou juntando em três anos de bolsa CNPq e, nesse último ano, também de bolsa Alumni, que me ajudou bastante na parte de documentação. Acho essa iniciativa incrível, é uma forma de incentivar e valorizar a pesquisa feita no Brasil. Aqui a gente nem paga para estar nas melhores universidades e, quando sai formado, não quer mais saber delas. A bolsa é uma forma de despertar essa cultura na Unicamp. Espero voltar para fazer algo semelhante e que comigo estejam cada vez mais ex-alunos.”
Uirauna Caetano, que agora integra o Comitê da Bolsa Alumni com os três amigos, afirma que a proposta para os próximos anos é tornar o programa mais robusto e sustentável, a fim de que continue crescendo e se torne perene. “Gostaria de ver esse modelo, que é simples e não exige muita estrutura, estendido e aplicado em outros institutos da Unicamp e universidades. Se ex-alunos e professores de outras unidades tiverem interesse em implantar algo semelhante, estamos à disposição para ajudar com o que já aprendemos no nosso programa.”
Comitê do Bolsa Alumni (e doadores)
Uirauna Caetano
Thiago Teodoro
Samuel Goto
Marcus Nascimento>
Doadores de 2018
Henrique Dante de Almeida
Leandro Bezerra Di Barcelos
Fábio Henrique da Silva
Karina Mochetti de Magalhaes
Luis Felipe Strano Moraes
Wilton Pinheiro
Pedro Henrique Gomes
Carlos Eduardo Rosa Machado
Pedro Ribeiro
Guilherme Adriano Fôlego
Guilherme Gonçalves
Thiago Valverde
Contemplados de 2018
Rafael Eiki Matheus Imamura
Nicolas dos Santos França
Gabriel Pellegrino da Silva
Andreza Aparecida dos Santos
Pedro Alan Tapia Ramos
Vicenzo Cano Cesconetto
Akari Ishikawa
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