A ação foi planejada pelo Grupo de Estudos em Hepatites Virais da disciplina de infectologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Testes rápidos para a detecção do vírus da Hepatite C foram realizados por equipes instaladas na rampa de acesso ao Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. A iniciativa promovida nesta quinta-feira, 26, foi programada dentro do mês de conscientização das hepatites virais. Trata-se de ação conjunta entre a área de hepatologia da disciplina de gastroenterologia da FCM, a Faculdade de Enfermagem e o Departamento de DST/Aids da Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Campinas, em função do Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais, que ocorre no próximo sábado, 29.
Prioritariamente foram atendidas pessoas consideradas com maior risco para a doença: acima de 40 anos, diabéticos, quem recebeu transfusão de sangue ou foi submetido a uma cirurgia antes de 1993; e pessoas que fizeram piercing ou tatuagem em locais não seguros em relação à esterilização do material. Também são considerados de risco aqueles que tem por hábito compartilhar escovas de dente, lâminas de barbear, alicates de cutícula, etc.
O cozinheiro aposentado Vandinalvo Pereira dos Santos, morador de Campinas, não perdeu a oportunidade e foi checar se tinha o vírus ou não. “Qualquer pessoa pode ter a doença mas ficar sem saber é pior. Temos que saber o que se passa com a gente, sobre saúde a gente tem que estar sempre por dentro”, frisou.
Ele está certo. Com o diagnóstico precoce é possível evitar as consequências que ocorrem quando a doença se desenvolve. “A Hepatite C é silenciosa. Só aparecem sintomas quando a doença já está avançada, quando evolui para uma cirrose ou doença no fígado. Hoje a Hepatite C é a principal causa de indicação de transplante de fígado junto com o câncer”, alertou a médica infectologista Raquel Silveira Bello Stucchi, uma das organizadoras da ação.
Segundo a médica e professora da Unicamp, a intenção é estimular o diagnóstico precoce. "O tratamento hoje é oferecido pelo Sistema Único de Saúe (SUS), para todos que têm o vírus, não importa se em situação mais ou menos grave". Raquel Stucchi complementa que a pessoa irá tomar comprimidos, que o tempo de tratamento varia entre três e seis meses e há 90% de chance de cura.
Em relação aos estudos da Hepatite C, há, no Brasil, vários trabalhos na área de pesquisa epidemiológica, relata a professora. Uma situação particular do país são os homens que no passado fizeram uso de um estimulante injetável chamado glocoenergan. “Quase 30 por cento dos pacientes que atendemos fizeram uso da substância que não era considerada droga, mas sim um estimulante como os energéticos de hoje”. Há ainda aqueles que contraíram o vírus compartilhando seringas ou fazendo uso de droga inalatória como a cocaína.
Hepatite B
Segunda causa de cirrose de fígado por vírus, a Hepatite B pode ser prevenida tomando-se uma vacina, que está disponível na rede de saúde para todas as pessoas. “A vacina já está no calendário das crianças, mas todos os adultos também têm direito, aliás é uma vacina que se desenvolveu contra o câncer porque a doença também causa câncer de fígado”, explica a infectologista. A principal forma de transmissão é sexual, por isso, além da vacina, é importante fazer sexo seguro com preservativos e com o menor número de parceiros.
Já a Hepatite A tem causa alimentar mais frequentemente, além da transmissão por contato sexual. Em 2016 e 2017, afirmou a médica, houve um surto em homens que faziam sexo com outros homens. “No adulto a Hepatite A é muito sintomática e aumenta o risco de hepatite grave fulminante com risco de transplante”, observou. A vacina também já faz parte do calendário para crianças sendo que os adultos podem se imunizar na rede particular.
O termo hepatite significa uma inflamação do fígado. O vírus pode ainda acometer rins e causar insuficiência renal, ou mesmo o pâncreas, resultando em diabetes e doença gordurosa do fígado. Por esta razão o grupo de estudos está realizando uma parceria com o ambulatório de endocrinologia, na área de diabetes, para a realização dos testes rápidos em pacientes diabéticos atendidos na Unicamp.
Julho Verde
Além das ações relacionadas às hepatites virais, o mês de julho também se vestiu de verde na manhã dessa quinta-feira, no HC da Unicamp, para chamar a atenção da população para o câncer de cabeça e pescoço, cujo Dia Mundial de Prevenção à Doença é celebrado no dia 27. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para 2018 dão conta de 42.770 novos casos de câncer de cabeça e pescoço, somente no Brasil, sendo o câncer de cavidade oral, o 3º mais frequente entre os homens.
Responsável pelas ações do Julho Verde que aconteceram simultaneamente no HC e centro de Campinas, o médico otorrinolaringologista do Serviço de Cabeça e Pescoço do HC, Flávio Mignone Gripp, explicou que a iniciativa teve como objetivo orientar as pessoas sobre as causas da doença e oferecer dicas de prevenção.
“Os tumores de cabeça e pescoço são os cânceres localizados em regiões como boca, língua, palato mole e duro, gengivas, bochechas, amígdalas, faringe, laringe, esôfago cervical, glândula tireoide e seios paranasais”, explicou.
Alimentar-se de forma saudável, não fumar ou utilizar narguilé ou incenso, diminuir ou não consumir bebida alcoólica e não fazer sexo oral sem preservativo são medidas que podem ser adotadas para evitar o câncer de cabeça e pescoço, ainda de acordo com o médico da Unicamp.
“Visitar o dentista, periodicamente, cuidar da higiene oral diária, não morder lábios ou bochechas e manter as próteses dentárias sempre bem ajustadas também são cuidados importantes na prevenção da doença”, acrescentou o otorrinolaringologista.
E o que fazer se notar que algo não vai bem? A orientação da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço é muito clara: “Um nódulo no pescoço, uma ferida ou afta na boca e rouquidão persistentes são sintomas preocupantes. Se não desaparecerem em até 21 dias, procure um cirurgião de cabeça e pescoço”.
Sobre
O #JulhoVerde no HC da Unicamp foi organizado pelo Ambulatório de Otorrinolaringologia, Ambulatório de Substâncias Psicoativas (ASPA) e Coral FONO de Cabeça e Pescoço. Além do médico Flávio M. Gripp, a ação contou com o apoio e participação da fonoaudióloga Vanelli Colombo, dos enfermeiros Letícia Moura e Ermílio B. Júnior, da residente Bruna Schimit e dos funcionários técnico-administrativos Luiz de Lima Cota e Nereide Marcatto.