A Unicamp está sediando de 29 de julho a 1º de agosto o maior evento acadêmico do país na área de agricultura e desenvolvimento rural: o 56º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober), que este ano tem como tema as “Transformações Recentes na Agropecuária Brasileira: desafios em gestão, inovação, sustentabilidade e inclusão social”. Mais de mil pessoas estão se distribuindo pelos auditórios do Centro de Convenções, do Instituto de Economia (IE) e do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), interessadas nas mesas-redondas, painéis, exposição de trabalhos científicos e minicursos.
Antonio Marcio Buainain, professor do IE e coordenador da comissão organizadora local, observa que a Sober é uma das sociedades científicas mais tradicionais em pesquisas sobre o meio rural, que envolvem não apenas a agropecuária, mas também as populações e as questões do território em geral. “Entendemos que a agropecuária vem sendo o eixo do crescimento da economia brasileira – um crescimento pequeno, mas que se deve à contribuição desse setor, que passa por transformações e enfrenta grandes desafios.”
Segundo Buainain, o primeiro grande desafio para a agropecuária é continuar crescendo, e com sustentabilidade em seu sentido amplo, o que inclui o meio ambiente e a dimensão social e política, a fim de atender ao aumento da demanda por alimentos no Brasil e no mundo. “É uma grande oportunidade que o país tem para abastecer o mercado mundial de alimentos. Para isso, a nossa agricultura precisa crescer, e sem poluir, desmatar e envenenar.”
O segundo grande desafio, acrescenta o docente da Unicamp, é o ambiental. “A nosso ver, a questão do meio ambiente é a grande bomba que a humanidade tem nas mãos. No passado, tivemos a bomba da fome: o filósofo [Thomas] Malthus preconizava que a humanidade iria padecer por falta de alimentos, com a produção não conseguindo acompanhar a demanda e entrando em colapso – o chamado ‘fantasma malthusiano’. Esse fantasma foi afastado com a revolução verde, introduzida no final dos anos 50 e que é a base da modernização agropecuária tal como conhecemos hoje.”
Buainain atenta que a agropecuária atual é cheia de problemas e que o mundo continua tendo quase um bilhão de pessoas em condições de insuficiência alimentar, mas que isso não se deve à falta de alimentos, e sim aos conflitos sociais, como as grandes migrações. “Há disponibilidade e o acesso a alimentos é viável. O fantasma de hoje é o meio ambiente e a agropecuária não é o principal fator, como parece ser senso comum. É cômodo para quem está na cidade responsabilizar o agricultor, quando somos nós que temos um padrão de consumo insustentável, produzimos lixo sem cessar e preferimos o automóvel à bicicleta ou caminhada.”
A inclusão social é o terceiro desafio apontado pelo professor do IE, diante dos milhares de pequenos agricultores que estão ficando à margem do processo de produção e precisam ser incorporados. “Para o setor agropecuário vencer esses três grandes desafios, um ingrediente básico é a inovação e de capacidade de gestão. Sem inovação não vamos encontrar soluções para produzir mais alimentos poupando o meio ambiente. E é preciso considerar que a agricultura está integrada à economia nacional e mundial, o agricultor deixou de ser apenas quem joga a semente para depois colher – quem semeia precisa se proteger dos riscos, saber comercializar e estar antenado nas tecnologias disponíveis.”
Antonio Marcio Buainain comentou ainda os dados do Censo Agropecuário 2017 divulgados pelo IBGE na semana passada, dando conta de um aumento de 5% na área ocupada pela agropecuária (16,5 milhões de hectares, equivalente à área do estado do Acre) em relação ao Censo de 2006. “Com isso, houve desmatamento e, também, uma expansão do número de estabelecimentos que usam produtos químicos. A imprensa publicou esses dados como algo negativo, mas a leitura pode ser outra: que em 15 anos a área cresceu pouco e, em compensação, a produção de grãos mais do que dobrou. Mas precisamos olhar mais profundamente para os dados, que deverão ser muito úteis para entender essas transformações da agricultura.”
Programação
O 56º Congresso da Sober teve como organizador o professor Lauro Francisco Mattei, presidente da entidade. Da organização local também participaram Rodrigo Lanna e Marcelo Pereira da Cunha. Depois da sessão solene de abertura e de aula magna – “Transformações na agropecuária brasileira” – na noite de domingo, os trabalhos foram abertos efetivamente na segunda-feira, com três painéis: “Conjuntura econômica e social em tempos de crise e os desafios para a agropecuária brasileira”, “Produção agropecuária: alcances e limites na busca da sustentabilidade” e “Desafios da Pós-Graduação em tempos de crise”.
Mais informações no site do evento: http://sober.org.br/congresso2018/