O posicionamento da Unicamp nos diferentes rankings de avaliação de desempenho, tanto nacionais quanto internacionais, é resultado das atividades desenvolvidas pelo conjunto da instituição e não uma meta a ser alcançada. A afirmação foi feita nesta quarta-feira (8) pela pró-reitora de Desenvolvimento Universitário, professora Marisa Beppu, durante participação no workshop promovido pelo projeto Indicadores de Desempenho nas Universidades Estaduais Paulistas, que conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O evento foi realizado no Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp, em São Paulo.
De acordo com Marisa Beppu, a Universidade dispõe de diversos mecanismos que permitem diagnosticar a qualidade das suas atividades, definir caminhos a percorrer e construir uma visão de futuro. Entre as ferramentas disponíveis estão o Planejamento Estratégico (Planes), a Avaliação Institucional e a Avaliação de Desempenho de Docentes e Pesquisadores. “Um dos desafios que temos é discutir continuamente se as métricas que usamos estão adequadas e se estão medindo adequadamente o que pretendemos”, disse.
Nesse sentido, o reitor da Unesp, professor Sandro Roberto Valentini, destacou que as avaliações de desempenho devem considerar as assimetrias existentes entre as unidades e órgãos das universidades. Ele observou que não é possível usar a mesma métrica para analisar uma faculdade com 70 anos de atividades e outra com somente cinco anos. A tendência, ponderou, é que a primeira esteja muito mais consolidada em termos institucionais e científicos que a segunda.
Em sua fala, Valentini sugeriu a incorporação de indicadores de avaliação de impacto social nas variáveis medidas pelos rankings. O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, concordou com o colega, acrescentando que há características distintas entre faculdades e institutos, como a maior ou menor aproximação com a sociedade ou o nível de internacionalização. “Essas desigualdades devem ser levadas em conta no momento da avaliação”, declarou. Para o presidente do Conselho Superior da Fapesp, José Goldemberg, as métricas “precisam considerar as diferenças e objetivos das unidades a serem avaliadas”.
Livro e cooperações
Durante o workshop, o ex-reitor da USP e coordenador do projeto Indicadores de Desempenho nas Universidades Estaduais Paulistas, Jacques Marcovitch, promoveu o lançamento do livro “Repensar a Universidade: desempenho acadêmico e comparações internacionais”, do qual é o organizador. A obra reúne artigos de docentes e pesquisadores das três universidades estaduais de São Paulo, que tratam a questão da avaliação de desempenho sob diferentes aspectos. A publicação está disponível tanto em versão impressa quanto eletrônica.
Segundo Marcovitch, o livro está apoiado na ideia compartilhada pelas três universidades estaduais paulistas da construção de uma visão de futuro. “Repensar a universidade, como consta no título do livro, significa defender os seus valores e reforçar seu compromisso com a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão. Simultaneamente, significa renovar seus laços com a sociedade, que está em rápida transformação. São movimentos que pressupõem tanto a volta, para rever e corrigir, quanto o avanço, para conquistar posições inovadoras”, pontuou.
Um dos autores do livro, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, aproveitou a sua fala para desmistificar algumas “certezas” sobre a cooperação entre universidades e empresas no Brasil. De acordo com ele, a relação entre Unicamp e USP – os dados sobre a Unesp não estavam disponíveis – e o segmento corporativo, por exemplo, é bastante intensa, seja no que se refere a investimento, seja na produção conjunta de artigos científicos. “Existe uma espécie de mantra repetido à exaustão de que a parceria entre empresas e universidades brasileiras é inexpressiva. Ocorre que os números mostram um quadro muito diferente disso. Em determinados casos, essa interação é tão ou mais significativa que em instituições como MIT, Universidade da Califórnia em Berkeley e Universidade da Califórnia em Davis”, sustentou.
O artigo assinado por Brito traz tabelas comparativas que contestam a ideia de que universidades e empresas não atuam conjuntamente. “Conhecer esse tipo de indicador certamente contribuirá para criar melhores estratégias para o sistema de ciência e tecnologia brasileiro. Usá-lo em rankings pode estimular as melhores universidades brasileiras a melhorarem seus sistemas de registro e controle para conhecerem e informarem corretamente os valores. A ideia central é: primeiro conhecer; depois, conhecer para mudar; e, por fim, mudar para melhorar”.