Não foram unicamente os elementos arquitetônicos, as ramificações, as folhas e as cores vibrantes, das obras inéditas da artista plástica Suely Pinotti, que atraíram a atenção do público que compareceu ao Espaço Cultural Casa do Lago da Unicamp na manhã dessa quarta-feira (15), para a exposição da artista. Um grande número de pessoas esteve no local para celebrar a autora das obras, que foi uma das fundadoras do Instituto de Artes (IA) da Unicamp e esposa do mastologista José Aristodemo Pinotti (já falecido), reitor desta Universidade no período de 1982-1986.
Presentes no evento, o reitor da Unicamp Marcelo Knobel e os pró-reitores Fernando Hashimoto (da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura - Proec) e Eliana Amaral (da Pró-Reitoria de Graduação - PRG) passaram pela exposição a fim de abraçar a artista, que tem seu nome intimamente ligado à história da Unicamp e do Hospital da Mulher - Caism, criado por Pinotti e um grupo de docentes em 1986. Também marcaram presença a artista plástica Fúlvia Gonçalves, o diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Luiz Carlos Zeferino, o superintendente do Caism Luís Sarian, a diretora associada do Caism Julia Yoriko Shinzato, o presidente do Centro de Pesquisas Materno-Infantis de Campinas (Cemicamp) Luis Bahamondes, além de professores, alunos, funcionários e convidados.
Suely Pinotti aproveitou para doar três telas do seu acervo mais recente, produzidas nos dois últimos anos, para o Caism, o Cemicamp e a Reitoria. “As doações são uma homenagem a todos os que apoiaram o projeto de trabalho do Pinotti, que teve uma importante atuação também na área cultural e nas artes. Vivemos mais de 50 anos juntos e acabamos um influenciando o outro, sobretudo na vida universitária: ele médico e eu artista plástica. Caminhamos juntos e sempre dividimos nossos sonhos e objetivos”, revela.
Ao falar particularmente sobre a doação da obra para o Caism, Suely comenta que essa iniciativa a fez relembrar que o hospital era "a menina dos olhos" do professor Pinotti. “Este foi praticamente o primeiro grande projeto dele na medicina. Foi um projeto bem-executado porque tinha uma equipe maravilhosa, idealista e que deu continuidade a essa iniciativa, que está cada vez mais importante e que serviu de modelo a outros hospitais internacionalmente. Tenho uma gratidão elevada por esses amigos e colegas do meu marido."
Na exposição, a artista apresenta 24 obras (sendo um díptico, ou seja, duas obras em uma), que poderão ser vistas pelo público até o próximo dia 4 de setembro. As pinturas são confeccionadas com tinta acrílica e ela conta que as obras também possuem leves toques com óleo. As telas são de dimensões diferentes, variando de 50x70 cm a 1,44x1,00 m.
De acordo com Fúlvia Gonçalves, que também foi professora do IA da Unicamp, "as composições de Suely são dotadas de forte expressão criadora e, o que é mais admirável: essa produção nunca parou e está fortemente entranhada na vida da artista. As pinturas dela têm sempre elementos novos sem, no entanto, alterar o seu estilo”, ressalta.
Fúlvia afirma que os elementos arquitetônicos, junto com as ramificações e as folhas, vêm de fora para dentro para se encontrar nas telas. Segundo ela, apesar de às vezes as pessoas não notarem isso, no diálogo com a obra, verifica-se que esses elementos são insólitos, incomuns. Além do mais, eles mostram um visual amadurecido que remete às obras italianas do Renascimento e que se projetam neste trabalho. “A Suely é minha amiga de muitos anos e é uma lutadora. Trabalhou nas galerias da Unicamp e já teve uma galeria antes de vir para cá. O professor Pinotti sempre foi um incentivador das artes. Com ele, criei os painéis da fachada do Caism."
Mesmo aposentada da Unicamp, Suely Pinotti relata que continua tendo a instituição como referencial. Ela já fez outras doações para a Universidade, como por exemplo uma obra de arte (uma madona) para o Caism, instalada estrategicamente na recepção do hospital. Suely ainda hoje faz parte do Conselho do Cemicamp, que abriga docentes do Departamento de Tocoginecologia da FCM e que se situa no campus de Barão Geraldo.
Suely Pinotti é doutora em artes pela Unicamp, já tendo realizado dezenas de exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. É especialista em Recursos Audiovisuais pela USP. Na década de 1970, iniciou seus trabalhos artísticos em Campinas, fazendo parte da Equipe Convívio, liderada pelo artista plástico Bernardo Caro, um dos expoentes na área. Na mesma década, foi diretora de artes plásticas do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (CCLA).
Veja a repercussão da exposição de Suely Pinotti a seguir:
“O professor Pinotti foi uma figura fundamental na vida da Universidade, e a Suely mantém essa conexão. Trazer essa exposição para a Unicamp é um marco, pois se trata de uma artista reconhecida e querida. Para nós, é uma honra receber essas obras para que possamos avançar no campo da arte. Conheço a professora Suely desde criança, quando vim morar no Brasil.”
Marcelo Knobel, reitor da Unicamp
“Vim prestigiar a Suely Pinotti, pois ela tem uma importância inclusive histórica. Participou do início do IA, que quase coincide com o início da Universidade. São já 47 anos. Toda a atividade cultural, ainda mais desse peso, deve ser estimulada aqui. Vejo como artista (músico ) que a comunidade ganha muito com isso, de ter um ambiente cultural, visto que isso modifica muito o dia a dia das pessoas, com um contato mais sensível. Isso sem falar da importância técnica das obras, de podermos presenciar o trabalho de uma artista renomada que está com umas lindas peças feitas recentemente.”
Fernando Hashimoto, pró-reitor de Extensão e Cultura (Proec)
"O professor Pinotti é um ícone para nós, porque ele foi responsável por ter materializado o Caism, sempre pensando na saúde da mulher. A Suely acompanhou a criação do hospital e as obras dela sempre foram muito valorizadas por nós. É muito importante então que tenhamos a imagem dela imortalizada em obras que farão parte do nosso acervo e que nos fazem muito gosto."
Eliana Amaral, pró-reitora de Graduação
“O Caism é um hospital relativamente jovem que, na sua trajetória, abriu um espaço para a incorporação de quadros. Esse convívio do hospital com as artes torna o ambiente hospitalar mais agradável, bonito e humanizado. Isso é muito bom para os pacientes e para as pessoas que ali trabalham. E a Suely Pinotti é uma grande colaboradora e agora está doando mais uma tela para nós, motivo de muito orgulho para todos. A obra fará parte do patrimônio do Caism, assim como a memória das realizações do professor Pinotti."
Luiz Carlos Zeferino, diretor da FCM
“A aridez arquitetônica do Caism contrasta com algumas obras de arte que justamente nos dão noção da nossa identidade institucional. Temos por exemplo murais da Fúlvia Gonçalves que ficam nos frontões do Caism. Temos uma obra da própria Suely Pinotti no nosso saguão de entrada do hospital. Esse vínculo que criamos, essa construção afetiva do hospital e mesmo a sua concepção são muito ligados a artistas como Suely e Fúlvia. O professor Pinotti foi um grande incentivador das artes, um polímata. Então ele tinha uma capacidade e inteligência para múltiplos saberes. E um deles era a questão relacionada à arte. Devemos muito aos artistas que conosco construíram a identidade da nossa instituição.”
Luís Sarian, superintendente do Hospital da Mulher - Caism
“O Cemicamp nasceu com Aristodemo Pinotti. Suely Pinotti também sempre esteve vinculada a nós, e isso até hoje. Ela faz parte do nosso conselho do Cemicamp. Desde que a conheço, foi uma das defensoras dos direitos das mulheres, assim como o professor Pinotti. Então termos um quadro dela, assim como termos uma obra de Fúlvia Gonçalves em nosso acervo, é muito relevante para nós que apreciamos essa arte.”
Luis Bahamondes, diretor-presidente do Cemicamp