CIS-Guanabara é a nova casa do Projeto Guri em Campinas

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Evento de lançamento do Projeto Guri reuniu autoridades e pais de alunos de música
Evento de lançamento do Projeto Guri reuniu autoridades e pais de alunos de música

O músico Rafael Peregrino nunca imaginou que um dia pudesse integrar o grupo de alunos do Conservatório Royal de Mons, na Bélgica, tampouco, que viesse a cursar percussão sinfônica no Instituto de Artes da Unicamp. Essa escalada no mundo da música foi possível graças ao trabalho de base que desenvolveu em Marília, interior de São Paulo, no Projeto Guri, um dos maiores programas socioculturais do país, que a partir de hoje tem o CIS-Guanabara como sua mais nova casa em Campinas. A solenidade de abertura aconteceu nesta quinta-feira, às 10h00, e contou com as presenças do pró-reitor de Extensão e Cultura (PROEC-Unicamp), Fernando Hashimoto; do vice prefeito de Campinas, Henrique Magalhães Teixeira; da gerente da Regional do Guri, Eliza Langame e do diretor do CIS-Guanabara, Marcelo Rocco. Durante o evento, houve a apresentação do grupo Regional da Vila, formado por alunos e ex-alunos de pós-graduação e de graduação em música pela Unicamp, entre eles, Rafael Peregrino.

Para a gerente da Regional de Jundiaí do Projeto Guri, Eliza Langame, a história do aluno Rafael, da Unicamp, é um dos vários exemplos que ocorrem com certa frequência no Guri. “Isso para nós, é fenomenal, é ver o resultado de um trabalho conjunto, que nasce com a experimentação do aluno, cresce com ele se desenvolvendo, se descobrindo como músico e depois alcançando um patamar profissional, muitas vezes de estudo e de referência dentro da própria Unicamp. Isso é muito bacana, é muito positivo”, afirma orgulhosa.

O pró-reitor Fernando Hashimoto, docente do curso de música da Unicamp, destaca a importância do cunho social do Guri, programa que apresenta muita afinidade com as propostas na Universidade. “O projeto, além do aspecto social, tem muita qualidade no aspecto artístico. Muitos alunos que fazem hoje graduação na Unicamp passaram pelo Projeto Guri, um modelo de extensão muito parecido com o que procuramos desenvolver na Universidade. Vale salientar a importância da parceria com o Governo do Estado e com a Prefeitura de Campinas, fortalecendo essa relação por meio de projetos dessa natureza”, avalia. O vice-prefeito Henrique Magalhães Teixeira enaltece a parceria com a Unicamp e considera essa nova casa do Guri um local especial em que as crianças terão oportunidade de aprender música numa antiga estação de trem, num ambiente que estimula o conhecimento e que é de grande relevância para na história de Campinas.

Sobre a importância do projeto social, Hashimoto destaca a utilização da música como instrumento de desenvolvimento dessas crianças. “A formação na área de artes trabalha com a sensibilidade dos alunos. Se você pega esses alunos na faixa entre 6 e 12 anos de idade, por exemplo, você consegue um desenvolvimento pela música, atinge áreas específicas do cérebro que nenhuma outra forma de educação proporciona. Você cria uma melhoria geral na formação dessa criança. Além disso, o ensino de música apresenta outras qualidades como o sentido de coletividade, já que você nunca faz música sozinho, de organização, de disciplina, de responsabilidade. É como no esporte, que desenvolve muito a capacidade espacial, de percepção, de tridimensionalidade. Um adulto que não teve essa oportunidade, tem mais dificuldades. Então a gente sabe que essa formação mais global elabora um repertório que desenvolve um cidadão mais equilibrado, do ponto de vista intelectual. Isso também traz a criança para o mundo real, deixando de lado as microtelas. Pelo menos, no momento em que está ensaiando ou se apresentando, o aluno se dá conta de que existe um mundo fora do celular”.

Fazer do CIS-Guanabara a nova casa do Guri em Campinas, para Hashimoto, é estratégico, tanto para o projeto quanto para a Reitoria, porque o CIS é o espaço da Unicamp no centro da cidade. “Sediar o Guri não representa oferecer algo apenas para o aprendiz de música, mas também para sua família. Trata-se de uma atividade cultural que vai permitir que mais pessoas conheçam a Estação Guanabara, um centro cultural de relevância situado fora do campus da Unicamp”. Nesse sentido, a proposta do CIS, segundo o sociólogo e diretor do órgão, Marcelo Rocco, é oferecer paralelamente aos pais dos alunos atividades culturais enquanto as crianças estiverem em aula. Para Eliza Langame, contar com a Unicamp e, mais especificamente com o CIS-Guanabara como parceiro, é fundamental para o desenvolvimento do projeto Guri. “O trabalho que o centro cultural realiza vai complementar as ações do Guri e vice-versa. É a possibilidade de desenvolvimento de novos projetos, novas propostas para o espaço, tanto para os alunos do Guri quanto para o público que frequenta o CIS-Guanabara. Considero uma oportunidade ímpar de integração de linguagens culturais”, afirma.

Nessa linha de raciocínio, Rocco ressalta que, tradicionalmente, os centros de cultura têm nas artes um meio de interlocução com o público, de modo que a música, assim como as artes visuais e cênicas figuram, quase sempre, como aquelas que vertem expressiva gama de ações à sociedade quando comparadas aos outros campos de interesse. “Fomentar e ofertar ações no campo da música é algo já esperado por qualquer centro cultural, no entanto, nessa ação conjunta com o Guri, o que estamos viabilizando é um projeto de educação musical e, nesse sentido, ser um centro cultural que também abriga uma escola de música nos coloca numa condição de grande relevância e quem sai ganhando com isso é a sociedade”, afirma.

Durante a solenidade de abertura, a professora Diana Patrícia Ferreira de Santana, mãe de três alunos do Guri, fez um agradecimento especial aos educadores do projeto, mostrando o quanto eles são importantes para a formação de seus filhos. “A música tem uma função terapêutica que torna o ser humano melhor. O reflexo disso eu percebo dentro de casa”, afirma. Henrique Magalhães Teixeira, músico de formação, diz que o aprendizado da música é um desafio e a participação da família é essencial. “Ao longo desse percurso, o estímulo e apoio dos pais é fundamental para aflorar as potencialidades e o desenvolvimento dos alunos.” O evento contou com a palestra do historiador Henrique Anunziata que focalizou temas ligados ao patrimônio ferroviário. “É importante que os alunos e os pais que aqui permanecerão duas vezes na semana saibam da importância histórica dessa estação que a partir de agora se torna, também, uma escola de música”, ressalta. O aluno do curso de física da Unicamp e coordenador geral do Trote da Cidadania, Tiago Enrique Cantuário, participou do evento e fez a doação de 200 canecas para as crianças do Guri. “É a forma simbólica que encontramos para dar boas vindas às crianças que agora iniciam uma trajetória no CIS-Guanabara e que pode culminar, quem sabe, em algum curso de graduação da Universidade”, diz.

No CIS-Guanabara o curso começa no dia 28 de agosto. As aulas serão realizadas as terças e quintas, das 13h30 às 18h00, nas modalidades canto coral, cordas agudas (violino e viola), cordas graves (contrabaixo e violoncelo), madeiras (clarinete e saxofone) e metais (trompete, trombone e eufônio). Inicialmente, participam os alunos já matriculados no primeiro semestre. Ao todo são oferecidas 120 vagas. Em caso de desistência, novas vagas serão abertas. Os interessados devem procurar a coordenação do projeto nos dias de aulas. As atividades vão até a primeira semana de dezembro e após o recesso retornam em 2019. Além do CIS-Guanabara, o Projeto Guri atua em Campinas no DIC-5 e na Fundação CASA.

Mais sobre o Guri
O Projeto Guri é mantido pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e oferece, nos períodos de contraturno escolar, cursos de iniciação musical, luteria, canto coral, tecnologia em música, instrumentos de cordas dedilhadas, cordas friccionadas, sopros, teclados e percussão, para crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos incompletos. Anualmente, cerca de 50 mil alunos são atendidos em quase 400 polos de ensino, distribuídos por todo o Estado de São Paulo. Desde seu início, em 1995, o projeto já atendeu cerca de 650 mil jovens na Grande São Paulo, interior e litoral.

 A Amigos do Guri é uma organização social de cultura que administra o Projeto Guri. Desde 2004, é responsável pela gestão do programa no litoral e no interior do estado de São Paulo, incluindo os polos da Fundação CASA. Além do Governo de São Paulo, idealizador do projeto, a Amigos do Guri conta com o apoio de prefeituras, organizações sociais, empresas e pessoas físicas. Seus principais objetivos, segundo Eliza Langame, são fortalecer a formação das crianças, adolescentes e jovens como sujeitos integrados positivamente em sociedade e difundir a cultura musical em sua diversidade. “As ações propõem às crianças, adolescentes e jovens a potencialização de suas dimensões estética, afetiva, cognitiva, motora e social por meio da valorização das diferentes expressões culturais e o estímulo a criações e apresentações de grupos musicais”, explica.

O acesso ao Projeto Guri é universal e gratuito, porém, a organização desenvolveu políticas e práticas com foco na inclusão de alunos em situação de vulnerabilidade econômica e social. A partir do momento em que passam a  integrar o Guri, os alunos recebem atenção que vai muito além do ensino musical, com foco em trabalhar observando todas as condições que afetam a vida e o bem-estar de cada um, incluindo educação, assistência social, saúde, habitação, entre outras necessidades.

A partir de 2008, o Projeto Guri criou o programa “Aulas Espetáculo”, um circuito de apresentações interativas de grupos musicais brasileiros, reconhecidos pela crítica por suas propostas inovadoras. A ação visa democratizar o acesso à cultura para os alunos e a comunidade das cidades em que ocorrem as apresentações. Os artistas convidados mesclam ao seu show usual elementos didáticos, como conceitos sobre teoria e técnica musical, e interagem com os estudantes, de forma a ampliar seu universo de referências e inseri-los num novo contexto musical.

Outro programa é o “Grupos de Referência”, uma oportunidade para jovens em estágio mais avançado de aprendizagem de aprimorar seu conhecimento musical, melhorar suas técnicas, refinar seu repertório e participar de diversas atividades e eventos que proporcionam a troca de experiência com estudantes de diferentes polos, músicos e regentes de grande destaque nacional e internacional. “É o momento de deixar de seguir para serem seguidos, tornando-se exemplo para os guris em desenvolvimento”, afirma Eliza Langame. Rafael Peregrino antes vir para a Unicamp participou dos Grupos de Referência e também atuou como professor do projeto em cidades na região de Marilia, sua terra natal. “Com essa vivência no Guri e as possibilidades que o projeto me proporcionou, me sinto muito à vontade para dizer aos meninos que aproveitem mesmo essa experiência, que é única”, afirma o aluno da Unicamp.

Grupo Regional da Vila
Durante a cerimônia de abertura, o grupo Regional da Vila apresentou parte do repertório do projeto “Música Brasileira em foco: 100 anos de Jacob do Bandolim”. Formado por alunos e ex-alunos da pós-graduação e graduação em música pela Unicamp, o grupo nasceu em 2018 e tem como objetivo difundir a cultura musical brasileira através de um olhar sobre a linguagem musical singular do choro. Com apresentações em casas noturnas e centros culturais em São Paulo e Campinas, o Regional da Vila conta com cinco integrantes. Além do ex-aluno do Projeto Guri, Rafael Peregrino (pandeiro), integram o conjunto Ricardo Henrique (violão de seis cordas), Guilherme Sakamuta (bandolim), Maurício Guil (violão de sete cordas) e Eduardo Pereira (cavaquinho).

Ao longo desse ano, o grupo vem fazendo homenagem ao centenário de um dos maiores compositores e bandolinistas da música instrumental brasileira, Jacob do Bandolim. “O projeto Música Brasileira Em Foco: 100 Anos de Jacob do Bandolim, para além de sua abordagem artística, traz uma continuidade do programa Caminhos do Choro realizado em parceria com web rádio Unicamp, em que buscamos homenagear, mensalmente, um compositor ou instrumentista ligado ao choro”, afirma o integrante do grupo, Ricardo Henrique. “Nossa proposta é difundir a cultura do choro dentro e fora da universidade de forma a favorecer a ampliação do alcance social desse patrimônio cultural brasileiro”.

Grupo “Regional da Vila”: Homenagem a Jacob do Bandolim e  difusão da cultura do choro dentro e fora da universidade
Fernando Hashimoto: “Projetos dessa natureza solidificam parcerias entre a Universidade e os governos estadual e municipal”
Henrique Magalhaes Teixeira: “Aprender música é um desafio, daí a importância da família nessa caminhada com as crianças”
Marcelo Rocco: “O CIS-Guanabara está sediando um projeto de educação musical. Quem ganha é a sociedade”
Eliza Langame: “A parceria com a Unicamp é uma oportunidade ímpar de integração de linguagens culturais”
Rafael Peregrino: “Estou à vontade para dizer aos meninos que aproveitem, mesmo, essa experiência, que é única”
Integrantes da mesa durante de apresentação do projeto que vai reunir 120 alunos na Estação Guanabara
Imagem de capa
Integrante do Projeto Guri (Foto divulgação)

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004