“O diagnóstico da necessidade de mudança é evidente. As pessoas percebem. O que não se pode definir com precisão ainda é qual o caminho a trilhar. Talvez existam vários caminhos diferentes. O importante é que os professores, percebendo a necessidade, se articulem e se envolvam. A função da instituição é prover as diretrizes de atuação, prover os meios, mas quem vai entender o problema e propor a solução é o professor”, pontuou Carlos H. C. Ribeiro, pró-reitor de Graduação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em palestra nesta terça-feira (21), no EA2 da Unicamp. O evento aconteceu no âmbito do Programa RenovaGRAD, da Pró-Reitoria de Graduação (PRG) da Unicamp, que oferece apoio às coordenações de graduação e promove o debate sobre atividades de ensino e propostas curriculares.
Ao abrir o evento, o reitor Marcelo Knobel ressaltou a importância da colaboração com o ITA nas reflexões sobre o ensino das engenharias. A parceria desenvolve-se desde 2012, quando Knobel e Ribeiro compuseram uma comitiva que foi a Boston estudar o assunto, com recurso da Capes. “O entusiasmo produzido pelo curso nos professores para que prestassem atenção no ensino foi muito grande”, relatou Ribeiro, observando os impactos sentidos em sua instituição.
“Quando você tem uma unanimidade de alunos com problemas em uma disciplina, ou com determinada estrutura curricular, fica vidente que há um problema no oferecimento”, ressaltou Ribeiro. Segundo ele, essa percepção está na base das mudanças em curso no ITA. “Isso não quer dizer que o professor deve buscar metodologias ‘revolucionárias’. Muitas vezes modificações simples na estruturação da disciplina ou no encaminhamento do plano de atividades são suficientes”, contou.
As reformas realizadas no ITA, de acordo com o professor, passaram pela flexibilização dos currículos, pela incorporação de projetos dos alunos, por alterações substanciais no modelo de progressão funcional e principalmente pelo convencimento do corpo docente acerca da necessidade de repensar o processo de ensino-aprendizagem.
“A experiência ITA mostra como a criação de uma cultura de mudança faz com que as pessoas vejam o processo como uma necessidade, não como imposição da gestão. Não é de um dia para o outro. Como toda mudança institucional, esta precisa de tempo. Nosso momento agora é ideal para trazer experiências de várias instituições, ajudando o nosso corpo docente a refletir e perceber as possibilidades de mudança, aprimoramento”, afirmou Eliana Amaral, pró-reitora de Graduação da Unicamp.
Segundo ela, há uma demanda formal da PRG para que todos os cursos de graduação da Universidade revejam e aprimorem seus currículos e estratégias de aprendizagem até 2020. “Os currículos precisam se aproximar da aplicação do conhecimento, com trabalho em equipe e projetos inter e transdisciplinares que permitam refletir e propor caminhos para problemas do mundo que nos cerca, das comunidades onde estamos inseridos”, salientou.
No ITA, uma das medidas nesse sentido foi a implantação de um laboratório, hoje vinculado à duas disciplinas, dedicado a engajar os alunos no desenvolvimento de projetos com comunidades socioeconomicamente carentes. Segundo Ribeiro, são elaborados em colaboração com as comunidades e a partir das suas demandas. “Como projeto de engenharia para iniciantes é muito interessante, porque não exige conhecimentos teóricos muito aprofundados, tendo em vista que precisa ser de fácil implementação e manutenção. Ao mesmo tempo, propicia aos alunos a oportunidade de conviver e se comunicar com um estrato social e cultural que pode ser muito diferente do dele”, destacou.
O desenvolvimento de competências comunicativas e de trabalho em equipe nos estudantes também é preocupação aqui na Unicamp. Segundo a pró-reitora, é fundamental ter uma definição clara, para docentes e discentes, das competências esperadas dos egressos de cada curso, que devem guiar as propostas curriculares e o desenvolvimento dos cursos. “Há um currículo definido pelo Ministério da Educação e, em alguns casos, como nas engenharias, há normativas dos próprios conselhos. Mas precisamos ter claro o perfil do engenheiro que queremos formar na Unicamp. Um engenheiro que reflete, discute, interage e capaz de propor soluções ou melhorias precisa de uma formação sólida de base e outras competências que o instrumentalizem para lidar com o conhecimento e utilizá-lo de forma qualificada e criativa. Estamos nesse momento de repensar, trocar ideias entre os diferentes cursos na própria Unicamp e com instituições parceiras, do Brasil e do exterior”, destacou.