“Nós vamos explorar a fronteira do conhecimento tecnocientífico de outra forma, de uma maneira que alavanque a sociedade que nós queremos construir”, afirmou Renato Dagnino, na última sexta-feira (31), durante homenagem organizada por ex-alunos e orientandos, pelos seus 70 anos de idade e 40 de Unicamp. Em trajetória que se confunde com a história do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, do qual foi pioneiro ao auxiliar Amilcar Herrera, o fundador, a implementar as linhas mestras da unidade, Dagnino é hoje uma das principais referências do pensamento latino-americano em Ciência, Tecnologia e Sociedade. O evento, intitulado “Universidade e política cognitiva para a radicalização da democracia: o pensamento de Renato Dagnino”, aconteceu no auditório da Associação dos Docentes da Unicamp (ADunicamp) e contou com a presença de professores, funcionários, alunos e ex-alunos de diversas unidades.
“Dagnino participou em todos os projetos importantes sobre política científica e tecnológica feitos na América Latina. É certamente um dos pilares do nosso departamento, não só na perspectiva da construção institucional, mas da construção das ideias. Ele sempre teve argumentos muito próprios, e é extremamente comprometido com o ideário que defende”, declarou a professora Lea Velho, colega de Dagnino no Departamento de Política Científica e Tecnológica (Dpct) desde a década de 1990.
Ferrenho defensor de uma política de ciência e tecnologia engajada na promoção de uma sociedade mais justa, Dagnino insistiu na importância de “avermelhar as mentes ainda cinzentas” da Universidade. O professor explica que a grande maioria dos acadêmicos persiste na crença da neutralidade da tecnociência. Essa concepção, segundo Dagnino, circunscreve a agenda de pesquisa e docência aos interesses e valores do capital. “Nós estamos fazendo muito pouco nas nossas instituições públicas de ensino e pesquisa para superar os limites impostos pela dinâmica tecnocientífica das transnacionais. Queremos uma universidade produzindo conhecimento tecnocientífico junto com a população, junto com a classe trabalhadora, para materializar a sociedade que queremos”, enfatizou Dagnino.
De acordo com Marcio Pochmann, do Instituto de Economia (IE), onde Dagnino concluiu mestrado e doutorado, “o professor Renato faz parte de uma geração que lutou muito pelos ideais de uma universidade aberta, crítica, produtora de conhecimento e capaz de formar quadros para além das preocupações do mercado de trabalho”.
“Não se trata de pensar ciência e tecnologia em abstrato, mas pensar como a gente deve produzir ciência e tecnologia num país tão desigual e tão injusto como o Brasil”, destacou Wagner Romão, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e presidente da ADunicamp. “O pensamento do professor Renato nos ajuda a manter o prumo e o rumo. É essa a ideia do sulear”, concluiu, fazendo referência ao livro “Suleando a Retomada: o pensamento de Renato Dagnino”, lançado durante o evento.
Dagnino, cuja produção científica esteve vinculada à atuação política, seja em instâncias governamentais, seja junto a entidades de classe ou movimentos sociais, afirma a necessidade de uma adequação sociotécnica, que possibilite o reprojetamento da tecnociência que temos, impregnada com os interesses do capital. “Nós não queremos a propriedade privada dos meios de produção do capitalismo, nem a propriedade estatal do socialismo real. Nós queremos a propriedade coletiva dos meios de produção e a autogestão. Para isso precisamos trabalhar aqui por uma tecnociência que alavanque e afirme a economia solidária no nosso tecido econômico produtivo e que privilegie a geração de trabalho e renda e não de um inexequível cenário de emprego e salário”, concluiu.