“Este é um tema novo para Unicamp. Pela primeira vez, preparamos e realizamos o vestibular indígena. O assunto é da maior relevância institucional, para que possamos aprender e fazer com qualidade e com a responsabilidade social que o assunto exige”, afirmou a coordenadora geral da Universidade, Teresa Atvars, durante abertura do primeiro seminário do Ciclo de Saberes Ancestrais, realizado nesta segunda-feira (3), no auditório do Centro de Convenções.
Idealizado pelo Grupo de Trabalho Inclusão Indígena, com apoio da Pró-reitoria de Graduação (PRG), o Ciclo reunirá acadêmicos indígenas de diferentes formações, a fim de ouvir experiências e construir coletivamente a acolhida dos novos estudantes que ingressarão na Unicamp pelo primeiro vestibular indígena, em andamento. Os próximos encontros acontecerão nos dias 2 de outubro (A Universidade comporta a etno-diversidade?), 12 de novembro (Entrei... e agora? Projetos acadêmicos e permanência indígena) e 13 de dezembro (As lutas pelos direitos indígenas: como criar alianças entre universidade e movimento indígena?) – Veja a programação completa no link.
No primeiro debate, participaram Cristine Takauá, do Fórum de Articulação dos Professores Indígenas SP; Luciano Ariabo Kezo, escritor e estudante do curso de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR); Alik Wunder, professora da Faculdade de Educação (FE) e membro do GT Inclusão Indígena; Eliana Amaral, Pró-reitora de Graduação e presidente do GT; e Daniel Munduruku, escritor, membro do GT e professor visitante da Unicamp, responsável pela curadoria e mediação de todo ciclo.
Segundo a Pró-reitora de Graduação, o seminário marcou o início de uma conversa que deverá perpassar toda a Universidade nos próximos meses. “Precisamos ouvir experiências de fora da Unicamp, que possam nos inspirar e ajudar a construir a acolhida aqui”, pontuou. A Eliana Amaral destacou ainda a importância do diálogo com os estudantes indígenas que já estão na Universidade, tanto na graduação como na pós-graduação. Segundo ela, a partir de levantamento realizado pelo GT nos registros acadêmicos, já há em torno de 40 estudantes na graduação que se identificam como indígenas.
“Estamos reunidos aqui para repensar nossa memória. Até que ponto o Brasil tem construído sua identidade colocando no palco da história os saberes dos nossos povos, da nossa ancestralidade? Este momento serve para começarmos a pensar na construção de uma identidade inclusiva, uma identidade que realmente seja composta por todas as nossas diferentes identidades”, refletiu Daniel Munduruku abrindo a sessão de debates.
Para Alik Wunder, o desafio da Unicamp agora é pensar a inclusão indígena dentro de uma via de mão dupla. “Precisamos pensar efetivamente nas condições de permanência, nas possibilidades reais de inclusão e pensar também naquilo que a universidade tem a aprender com os conhecimentos, a sabedoria e experiência de vida dessas pessoas que chegarão até nós. Precisamos reconhecer a inclusão de estudantes, mas também a inclusão de conhecimento de povos pouco conhecidos”, ressaltou.
O vestibular indígena, que está com as inscrições abertas até 14 de setembro, oferece 72 vagas, nos diversos cursos de graduação da Unicamp. “É um momento histórico, onde a universidade se abre para esses estudantes de muitos lugares e muitas identidades, que vem completar um pouco a própria universidade”, afirmou Munduruku.
A participação da plateia foi bastante ativa, com professores, dirigentes e estudantes mostrando muito interesse em entender as experiências dos participantes convidados. A partir dai, discutiu-se com o público como se tem pensado que a Unicamp poderá melhor receber esses estudantes e oferecer apoio para sua permanência e sucesso na conclusão de seu ciclo acadêmico, o foco de trabalho do GT Permanência Indígena.