Evento na FCM abordará sexualidades e questões de gênero

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O obstetra do Caism Rodolfo Pacagnella, um dos organizadores do evento
O obstetra do Caism Rodolfo Pacagnella, um dos organizadores do evento

Muitas questões sexuais que não são abordadas na atenção primária de saúde, pelos médicos e profissionais da área, podem se constituir problemas que se arrastam para a assistência secundária e terciária, exigindo uma intervenção mais especializada. Para fomentar essa discussão, será realizado o I Congresso Internacional Multidisciplinar em Sexualidades (Cimsex): Educação, Inclusão e Transformação, evento que começa nesta quarta-feira (12) e que prossegue até sexta-feira (14), nas dependências da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O congresso abordará os aspectos emocionais e psicológicos da sexualidade, a educação sexual, os aspectos clínicos e jurídicos relacionados à identidade de gênero, à homofobia e à legislação. São esperados cerca de 300 participantes. Para discutir o atendimento integral, o coordenador de extensão da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e um dos organizadores do evento, Rodolfo Pacagnella, concedeu uma entrevista ao Portal Unicamp. O docente diz que a ideia, ao discutir o tema, não é procurar consensos e sim dissensos. “Queremos conhecer a multidisciplinaridade e os múltiplos olhares, promovendo a visão de que a sexualidade não é única. É múltipla e, por isso, o congresso internacional é multidisciplinar de sexualidade(s)”, ressalta o médico do Hospital da Mulher - Caism. Veja a programação do evento, que é organizado em conjunto com o Institutto Paulista de Sexualidade (Ipasex) e a Asociación Latinoamericana de Terapia Sexual y de Pareja. Acompanhe a entrevista a seguir.

Portal Unicamp - As pessoas têm a cultura de se informar acerca da sua sexualidade?
Rodolfo - Normalmente sim. Elas buscam se informar sobre os diferentes aspectos. A sexualidade é tudo o que envolve as interpretações do nosso corpo, desde o entendimento sobre as mudanças corporais na infância, na adolescência, as relações de prazer com o corpo, as relações de diferenças entre homens e mulheres, os papéis de gênero, as relações hierárquicas de papéis de gênero. Tudo isso é sexualidade e deveria estar muito presente na consulta médica, isso em qualquer especialidade. Então, é preciso que as pessoas entendam que a sexualidade faz parte do comportamento humano. Ela é uma resposta importante para a organização do ser humano na sociedade. É inclusive fundamental para que se ofereça um atendimento médico de qualidade que atenda aos anseios de cada paciente.

Portal da Unicamp - Qual é o ideal nesse tipo de atendimento?
Rodolfo - Quando nos propomos a oferecer um acolhimento e acompanhamento médico integral, é preciso considerar a abordagem de aspectos da sexualidade dentro da consulta médica, desde a infância, com a descoberta do corpo, passando pelas relações de gênero, pela descoberta da própria sexualidade e percepção do corpo, e pela presença do outro. Isso permeia o atendimento integral à saúde do indivíduo e é uma das bases do atendimento médico. É essencial que se consiga oferecer um olhar integral para as pessoas e ofertar assistência para as suas necessidades.

Portal da Unicamp - Como a sexualidade é abordada na atenção primária?
Rodolfo - O que acontece é que as questões relacionadas à sexualidade muitas vezes são relegadas a um segundo plano. Apesar da sua importância, o tema é pouco tratado, e as perguntas são pouco acolhidas durante a consulta. Muitas pessoas buscam atendimento médico alegando outros motivos, fazendo menção a uma dor crônica ou a uma outra situação quando, na verdade, a vontade é saber mais acerca da sua sexualidade. Raramente, isso é reconhecido como questão médica e acaba sendo desqualificado até pelo próprio profissional, que nem indaga sobre o assunto. A sexualidade faz parte da nossa forma de viver em sociedade e temos que reconhecer que as pessoas têm dúvidas e inquietações. Devemos acolher essas questões, evitando que elas se transformem em problema, disfunção ou patologia. A educação em saúde faz parte da consulta médica, da consulta clínica. Então quando se diz que há necessidade de cuidar da sexualidade na assistência médica é porque temos uma pirâmide invertida no nosso modelo de assistência, ou seja, a maior parte das pessoas que demandam queixa relacionada à sexualidade têm queixas simples que poderiam ser resolvidas apenas com orientação ou com acolhimento. O consultório é o lugar adequado para atender a essas questões, ainda que seja somente para as pessoas terem uma abertura de exporem suas angústias. Certamente, essa iniciativa ajudaria a encontrar caminhos diferentes. Particularmente, acreditamos que um número bem menor de pessoas precisa passar por uma terapia específica. Então, se for possível oferecer esse acolhimento para as pessoas que necessitam, dando “permissão” para falarem sobre isso, fornecendo informações específicas sobre a fisiologia e a resposta sexual, essas demandas podem ser resolvidas já na atenção primária.

Portal Unicamp - O que falta, a seu ver, para que o tema ganhe a relevância que merece?
Rodolfo - Nesse caso, as pessoas acham que precisam de muitas ferramentas para trabalharem na assistência. Os médicos acreditam que necessitam fazer cursos para poderem falar sobre sexualidade. Mas na verdade o que é necessário é acolher a pessoa, respeitar as suas dúvidas e oferecer informações, dando permissão para que ela se olhe, se toque e sinta prazer, pois isso não é nenhum problema. Vemos então que essa estratégia pode ser suficiente para resolver boa parte das queixas sexuais.

Portal Unicamp - Como abordar as questões de gênero?
Rodolfo - No atendimento clínico, se não perguntamos se a pessoa tem interesse sexual por homem, por mulher ou por ambos, nunca saberemos. A pessoa até gostaria de falar sobre esse assunto, mas não fala. Então oferecer um olhar sobre a diversidade, para mostrar que o comportamento humano é muito diverso em relação à resposta sexual, ajuda a valorizar esses aspectos para que os profissionais da saúde também possam buscar mais conhecimento a respeito deles.

Portal Unicamp - Uma pergunta não respondida pode se constituir um problema?
Rodolfo - Uma queixa sexual, que pode ser uma dúvida em relação ao próprio corpo, se não cuidada, pode se transformar numa disfunção sexual. Uma mulher com uma queixa de que não tem prazer nas relações sexuais pode ter outros problemas, que vão se somando a esse, levando a disfunções no relacionamento pessoal, conjugal. Podem chegar a uma situação de desenvolver um quadro de não conseguir ter relações sexuais. Se oferecermos atenção para o que ela queixa naquele primeiro momento, é possível que tal situação não se constitua um problema futuro.

Portal Unicamp - Os problemas podem ser intensificados, quando não cuidados?
Rodolfo - Quando não se consegue qualificar a atenção primária para esse tipo de atendimento, vão chegando cada vez mais casos com esses problemas. Então é fundamental que estejamos em comunicação com outros níveis da atenção na rede pública para podermos qualificar a assistência, oferecendo um atendimento de fato integral. Antes que isso vire um problema lá na ponta (na atenção primária), é lá, teoricamente, que algo tem que ser feito. E nós estamos juntos nisso. Uma iniciativa que ocorre paralelamente à atenção primária é que o Caism da Unicamp já estuda a retomada do funcionamento do Ambulatório de Sexologia. Iremos cuidar das questões sexuais que se tornaram problemas sexuais não resolvidos na rede básica. Esse primeiro congresso marca o início das nossas atividades ambulatoriais, que devem começar em breve com os atendimentos. Além disso, estamos realizando algumas pesquisas em saúde sexual. Tivemos, por exemplo, avaliação recente de um dos aspectos da resposta sexual das mulheres no puerpério e agora buscaremos saber se os alunos do curso de medicina estão tendo contato com esse tema na vida acadêmica, para capacitá-los a realizar um atendimento integral. Queremos saber qual é a atitude e o conhecimento dos alunos em relação à sexualidade e ao atendimento às queixas sobre sexualidade que ocorrem durante a consulta médica. A ideia é saber quais são as lacunas para que eles possam agir fazendo o atendimento esperado.

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004