Entender a desigualdade da distribuição de riqueza no mundo é um dos principais desafios enfrentados por economistas e desenvolvedores de políticas públicas. Desde 2011, um novo índice pretende apresentar de maneira mais clara a situação, iluminando aspectos que permaneciam escondidos nas medições anteriores. O Índice Palma, por meio de uma razão simples entre a renda dos 10% mais ricos e a dos 40% mais pobres de cada país, sinaliza o locus do desajuste estrutural que perpassa todas as sociedades capitalistas, independente de seu nível de riqueza. José Gabriel Palma, cujos estudos deram origem à medida, participou nesta terça-feira (11), das comemorações dos 50 anos do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, com a palestra "Por que a desigualdade é tão desigual em todo o mundo?".
PhD em economia pela Universidade de Oxford e em Ciências Políticas pela Universidade de Sussex, José Gabriel Palma é professor titular da Faculdade de Economia da Universidade de Cambridge e co-editor do Cambridge Journal of Economics, uma das mais importantes revistas acadêmicas da área.
As investigações de Palma revelaram que os rendimentos dos 50% da população situados entre os extremos de riqueza e pobreza, a classe média, detém aproximadamente metade da renda nacional, quase invariavelmente. “Este dado que aponta que as desigualdades de renda estão concentradas nas extremidades”, destacou Roberto A. Z. Borghi, professor do IE, que foi orientado por Palma no seu doutorado em Cambridge.
De acordo com Palma, o que muda na desigualdade ao redor do mundo é a capacidade dos mais ricos “esmagarem” os mais pobres, representado no gráfico abaixo pelo setor d10+, que não aparece no gráfico da Alemanha e é 8% no caso do Uruguai. “É o tamanho dessa fatia da torta que muda ao redor do mundo e é nele que moram os esforços de distribuição de renda”, apontou.
Contudo, conforme destaca Palma, há um grupo de países em que outro setor que começa a aparecer (sinalizado no gráfico abaixo por d10++). Nesses países, onde a desigualdade é extrema, “além de esmagar os 40% mais pobres, os de cima esmagam também os do meio”, afirmou o economista. “De repente, os do meio perdem a propriedade da sua metade da torta”, completou.
Palma destacou, ainda, a crescente desigualdade de mercado, que afeta os países desenvolvidos desde o começo da globalização e da financeirização. “Hoje em dia, a Suécia tem uma desigualdade de mercado igual a média da América Latina”, ressaltou. Tal desigualdade é equalizada, nesses países, por crescentes transferências promovidas pelo Estado. “Para manter os níveis de desigualdade média, apesar dos crescentes níveis de desigualdade no mercado, o esforço distributivo precisou ser cada vez maior”, explicou.
De acordo com Borghi, o índice Palma vem sendo amplamente utilizado em relatórios de organismos internacionais, como as Nações Unidas, e pesquisas acadêmicas sobre o tema da desigualdade. "O indicador capta de modo mais claro as diferenças entre países, bem como se torna uma medida mais objetiva para se combater o fenômeno da desigualdade”, relatou.
Na abertura do evento, André Biancarelli, diretor associado do IE, lembrou que a data, 11 de setembro, além da queda das Torres Gêmeas, marcava os 45 anos do golpe militar que depôs Salvador Allende no Chile, pátria de origem de Palma. “É uma lembrança difícil, mas necessária, nessa época estranha da história do Brasil”, afirmou Biancarelli.
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