O Alzheimer é uma doença cerebral neurodegenerativa, na qual existe morte progressiva de neurônios relacionados a funções cognitivas como memória, atenção, linguagem, capacidade de tomada de decisões. Trata-se de uma patologia que produz impactos sociais e econômicos à vida dos seus portadores, dos familiares, dos cuidadores e da sociedade como um todo. E essa é somente uma face da doença, pois existem outras que devem ser consideradas como por exemplo o preconceito para com essas pessoas, em geral associado ao envelhecimento. Nesta sexta-feira (21), Dia Mundial da Pessoa com Doença de Alzheimer, a Unicamp reforçará o valor de se buscar informações sobre o assunto, principalmente tendo em vista que a patologia é incurável e que há um incontestável aumento da população idosa em nosso meio, devido a uma melhor qualidade de vida atualmente. Para falar sobre o assunto, o Portal da Unicamp entrevistou o neurologista da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Márcio Balthazar, que vê na data uma oportunidade para que as pessoas entendam um pouco o que é essa doença, como ela começa a dar os primeiros sinais de alerta e o que fazer quando ela já se instalou? O neurologista enfatizou que conhecer a doença ajuda a elevar as chances de chegar a um diagnóstico precoce. Segundo ele, a data não é uma celebração, mas é, antes, um marco para que temas relevantes como esse sejam trazidos a debate no meio acadêmico e em outras situações da esfera social. Leia a seguir.
Portal Unicamp - É importante ter no calendário oficial um dia específico para lembrar sobre a doença de Alzheimer?
Balthazar - As campanhas de conscientização sobre doenças são importantes para alertar a população, aumentar seu conhecimento sobre o tema e facilitar o reconhecimento dos sintomas iniciais, o que pode ajudar também no tratamento.
Portal Unicamp - Como a patologia mostra as primeiras manifestações? Qual é o gatilho para que ela seja disparada?
Balthazar - Em geral, a manifestação mais precoce é a dificuldade em armazenar informações novas. Esse é o tipo de memória mais comumente acometido. Assim, a pessoa pode ter dificuldade em guardar recados, pode ser repetitiva (perguntar várias vezes a mesma coisa), perder objetos com frequência, ter dificuldade com datas e compromissos, por exemplo. Com o tempo, passa a apresentar outras dificuldades como desorientação espacial, dificuldade de tomar decisões e dificuldade com nomes. Também pode apresentar sintomas neuropsiquiátricos como apatia (perda de motivação), depressão, ideias delirantes, entre outros. Não há necessariamente um “gatilho”. Mas em geral a doença vem aos poucos, de forma insidiosa. Outras vezes, condições clínicas como infecções ou eventos emocionalmente traumáticos, como perda de um cônjuge, podem revelar alterações de forma mais evidente.
Portal Unicamp - No passado, as pessoas diziam que os idosos estavam ficando “gagás”. Parece que isso era encarado como um processo mais fisiológico, natural do envelhecimento. Essa ideia já estava ligada à doença de Alzheimer, embora as pessoas utilizassem outro termo?
Balthazar - É possível que sim, embora outras causas de demência também sejam comuns no envelhecimento. Um esquecimento consistentemente maior do que em outras pessoas da mesma faixa sociocultural não deve ser encarado como normal e deve sugerir procura de atendimento médico.
Portal Unicamp – Prossegue existindo preconceito com relação a essa doença?
Balthazar – Sim. Termos largamente empregados como “gagá” ou “esclerosado” são pejorativos e não refletem a realidade da doença, sobretudo nas fases mais leves.
Portal Unicamp - Ainda hoje ela aparece mais no grupo dos idosos?Balthazar – O envelhecimento é o principal fator de risco para a doença.
Portal Unicamp - O que a Unicamp tem feito em relação à pesquisa de novas drogas e em termos de conduta para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas?
Balthazar - Até onde sei, não há estudo com novas drogas na Unicamp. A linha de pesquisa do nosso grupo da Neurologia é ligada a biomarcadores para diagnóstico precoce, com exames de sangue, líquor e ressonância magnética cerebral. Em relação a atendimento, há ambulatórios tanto na Neurologia quanto na Psiquiatria e na Geriatria que prestam atendimento de qualidade para os pacientes. Recentemente, fizemos uma pesquisa com atividade física para pacientes com comprometimento cognitivo leve para avaliar possíveis melhoras na parte clínica e nos biomarcadores.
Portal Unicamp - Qual a sua mensagem para os familiares de alguém que tem Alzheimer?
Balthazar - A doença de Alzheimer não afeta apenas o indivíduo, mas todos os familiares e cuidadores próximos. É preciso buscar conhecimento sobre como lidar com os pacientes, ter paciência e, muitas vezes, procurar ajuda profissional para as próprias angústias. Aconselho que os pacientes não desistam do tratamento. Mesmo não havendo cura, em geral as pessoas podem sentir melhora dos sintomas que causam mais transtornos.