Os números grandes de hoje são ainda maiores quando a gente volta para aquele dia, naquele ano de 1968, quando garotos recém-chegados à universidade observavam, da escadaria da faculdade, tratores derrubando um canavial. A turma de Ciência da Computação acompanhava o loteamento da Cidade Universitária, onde só havia, na época, terra e alguns poucos prédios. Era a Unicamp com algumas centenas de matriculados na graduação. Hoje são quase 40 mil entre graduação e pós-graduação.
O Ciclo Básico foi inaugurado três anos depois. A praça em frente seria palco de uma cena histórica, décadas mais tarde. Daniel Milanezi é chamado para fazer parte do grupo. Os rapazes que observavam, com ele, os tratores e outros vários colegas, agora são senhores aposentados que ocupam outra escadaria, a da Biblioteca Central César Lattes. A foto do encontro da “Turma de 1968” é registrada por muitas câmeras e celulares.
Morador de Brasília há quarenta anos, Milanezi nunca mais voltou à Unicamp e não é capaz de reconhecer o lugar onde está. “Essa praça central...como é o nome disso aqui?” A grama “generosa” da praça do Ciclo Básico chama a atenção dele, como tudo. O olhar longe que procura o jovem Daniel. “Parece que eu olho assim e, de repente, me vejo andando por aí. Cadê aquele pessoal?”
Eram muitos Antônios, vários Carlos, diversos Josés, Paulos, Albertos, algumas poucas mulheres, um negro. Casaram-se, tiveram filhos, netos, mudaram de cidades, exerceram ou não a profissão, uma parte morreu. Pegaram o carro, o ônibus, o avião, reservaram hotéis ou ficaram na casa de parentes e no sábado, dia 22, às 9 da manhã todos aqueles que podiam, estavam se abraçando em frente ao Centro de Convenções da Unicamp.
Planejado com a antecedência de alguns anos, o reencontro com os colegas de faculdade teve o apoio da universidade e de um reitor nascido naquele mesmo ano de 1968. Houve o café da manhã, o culto ecumênico e a solenidade.
Anunciados pelo registro acadêmico, os dois organizadores, José Maurício Gonçalves Abreu, RA 680110 e Frederico Atílio, RA 680065, ocuparam suas cadeiras ao lado da coordenadora geral da Unicamp, Teresa Atvars e do reitor, Marcelo Knobel. Dois troféus de campeonatos disputados na época foram entregues para a Unicamp. “Receber de vocês esse patrimônio é uma honra sem precedentes”, afirmou Atvars.
Marcelo Knobel lembrou uma fala atribuída ao fundador da Unicamp, Zeferino Vaz. Ele dizia que uma boa universidade se faz com pessoas, pessoas e pessoas. “É isso o que a gente tem, pessoas construindo a universidade e construindo o País”. O reitor lembrou que a Unicamp é uma universidade consolidada, fundamental para o desenvolvimento brasileiro e sugeriu que os alunos pioneiros escrevam um livro com suas histórias.
O velho amigo Fred ainda conseguiu ler um longo texto que preparou contando a história de 1968, “o ano em que tudo começou”. Ele detalhou como foi organizado o encontro, gestado há pelo menos duas décadas entre espetos na brasa e caipirinhas. “Entendemos que precisávamos de um encontro ‘para trabalhar’ no encontro de verdade”. Foi quando as coisas avançaram.
Pensaram nas repúblicas, todas, em quem ocupava as repúblicas, entraram em contato com a Universidade e aos poucos foram construindo aquele dia, em que todos estavam novamente juntos. Quem casou com quem. Quem virou padrinho de quem. “Na minha concepção criamos uma família chamada Unicamp”, concluiu Fred.
Acompanhe no Registro Geral, produzido pela TV Unicamp, as mulheres e o único negro da turma de 1968
Assista os vídeos que foram apresentados no dia 22:
1968 no mundo, no Brasil e na Unicamp
Fotos dos alunos nos registros da Universidade (sem áudio)
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