Campanha Setembro Amarelo enfatiza prevenção ao suicídio com apoio de diferentes grupos

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A psicóloga Andreza Rubio, supervisora da Área de Neonatologia, durante atendimento
A psicóloga Andreza Rubio, supervisora da Área de Neonatologia, durante atendimento

A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo, a cada seis segundos uma pessoa atenta contra a própria vida e essa é a segunda maior causa de morte entre os jovens de 19 a 29 anos. Além disso, estes números recentes, da Organização Mundial da Saúde (OMS), sugerem que essa decisão impacta socialmente a vida de pelo menos seis pessoas ligadas a essa vítima. Trata-se de dados preocupantes para a saúde pública mundial. No Brasil, neste mês, a campanha Setembro Amarelo está sendo lembrada com ações e informações que põem ênfase na prevenção do suicídio, procurando trazer um diálogo aberto com a sociedade. A psicóloga Andreza Viviane Rubio, supervisora da Área de Neonatologia do Hospital da Mulher – Caism, falou ao Portal Unicamp como o suicídio pode ser prevenido com orientações profissionais e com o apoio da família e de grupos de suporte. De acordo com Andreza, distúrbios como a depressão felizmente têm tratamento. Leia entrevista a seguir.

Portal Unicamp - Por que falar sobre o suicídio?
Andreza - Para que isso deixe de ser algo que não possa ser dito. Quando não se toca no assunto, vão se perpetuando muitos preconceitos, tabus, mitos e estigmas. Quanto mais se leva informação clara e correta à população, mais se esclarece acerca do tema. O suicídio pode ser evitado. Não é uma barreira estanque. Basta pensar que alguém ao seu lado pode estar sofrendo calado e que nós podemos oferecer ajuda. O familiar que está vendo esse sofrimento pode ajudar conversando. Contar essa dor para outras pessoas pode ser o melhor remédio. Então essa campanha é muito importante porque traz conscientização para a prevenção do suicídio e para o cuidado em relação à saúde mental. Temos um corpo físico, temos uma mente, e o transtorno mental felizmente tem tratamento.

Portal Unicamp - Existe um perfil de alguém que comete o suicídio?
Andreza - Pesquisas mostram que a maioria das pessoas que cometeram o suicídio tinham algum transtorno mental associado, sendo o mais comum a depressão. Então temos a depressão, mas também temos os transtornos de personalidade. Há pessoas que são mais impulsivas, mais agressivas, fazem uso abusivo de álcool ou de outras drogas psicoativas. Além disso, muitas têm histórico de tentativas anteriores de suicídio. Todos esses fatores são sinais que aumentam o risco daquela pessoa cometer o suicídio. Se elas tiveram um diagnóstico de transtorno mental prévio e não estavam sendo tratadas adequadamente, se pudessem ter tido acesso a uma ajuda ou a um cuidado na área de saúde mental, talvez o suicídio tivesse sido evitado.

Portal Unicamp - Os números são preocupantes e não nos eximem da responsabilidade de viver alguma situação próxima.
Andreza - Sim. Estamos lidando o tempo todo com muitas pessoas e temos profissionais de saúde mental que desenvolvem uma parceria com o Caism. Temos pacientes que chegam ao nosso hospital com ideação e planejamento. Precisamos agir, orientar a família e fazer com que essas pessoas sempre tenham alguém por perto para evitar o pior. Devemos tentar ganhar tempo para que essa pessoa vislumbre uma nova alternativa de vida. Só ela realmente vai poder resolver isso.

Portal Unicamp - Por que em geral a pessoa comete o suicídio?
Andreza – É porque ela de fato não está feliz e deve estar passando por algum evento estressor como por exemplo uma violência física, sexual, emocional, separações, perdas conjugais. Não existe um único fator causal e nem uma única explicação. Pode haver vários fatores e é muito difícil explicar porque uma pessoa comete suicídio e outra pessoa, vivendo situação similar, não comete. Entendemos que cada um tem uma forma de responder àquele sofrimento e àquela dor. Cada um desenvolve as suas próprias resiliências e a sua capacidade de enfrentamento possíveis para determinadas situações.

Portal Unicamp - Quem mais comete o suicídio: homem ou mulher?
Andreza - Pesquisas apontam que os homens são os que mais cometem o suicídio e as mulheres são as que fazem um maior número de tentativas.  

Portal Unicamp - Como é possível ajudar quando se percebe que está havendo ideação?
Andreza - É preciso estar sempre atento aos sinais que a pessoa dá: verificar se ela tem tido uma mudança de comportamento, se está muito introspectiva nos últimos dias, se começou a se isolar, ficar distante da família, não querer participar de eventos sociais ou atividades que gostava de fazer, que eram prazerosas para ela, mas que deixam de ser de uma hora para outra.  

Portal Unicamp - A faixa etária em que normalmente ocorre o suicídio abrange também a fase de preparação para o vestibular, quando eles, no afã de ter que memorizar muito conteúdo em pouco tempo, podem ficar mais suscetíveis à ansiedade. Isso pode desencadear o suicídio em pessoas já com algum transtorno?
Andreza - Muitas vezes elas se sentem pressionadas pela alta expectativa dos pais, têm dificuldade de tolerar frustrações e daí começam a desenvolver alguns sintomas depressivos e um alto grau de ansiedade. Pessoas com doenças orgânicas, que fazem uso de medicamentos, que têm doenças dolorosas e doenças crônicas também são pessoas de risco para o suicídio.

Portal Unicamp - Como em geral elas agem?
Andreza - Elas começam a ficar muito pessimistas. Para elas, não vale mais a pena viver. Alimentam sentimentos de culpa: acham que atrapalham a vida de outras pessoas. Têm sentimentos de menos valia. Pensam que, se fossem embora, tudo ficaria melhor. Umas expressam que queriam dormir e não acordar mais. Essas frases têm que ser consideradas, uma vez que essas pessoas dão muito sinais de que algo não vai bem. Estão vivenciando uma dor psíquica muito grande e o seu semblante é sofrido. Contudo, normalmente as pessoas não se suicidam sem aviso. Portanto, é fundamental perceber que as ameaças podem ser mais sérias do que se possa imaginar.

Portal Unicamp - O que fazer nesse caso?
Andreza - A primeira coisa é não ignorar, não guardar segredo. Encontre um lugar adequado para ficar com essa pessoa e ter uma conversa aberta. Temos medo de falar sobre o assunto porque achamos que, se falarmos sobre o suicídio, reforçaremos essa ideia junto a essas pessoas. E isso não é real. É um mito. Quem vive esse sofrimento ficará aliviado e agradecido por ter com quem dividir as suas aflições.

Portal Unicamp - Como deve ser a abordagem a essa pessoa?
Andreza - Eu sempre falo para as pacientes que, quando estamos com uma sacola muito pesada, se a gente dividir uma alça com outra pessoa, a bagagem ficará bem mais leve. Daí será possível caminhar. Então é preciso estar ao lado dessa pessoa ouvindo, mas sem crítica. Deve-se ouvir com respeito e autenticidade. É preciso mostrar atenção e não falar com ela com pressa. Também é preciso dificultar o acesso dessa pessoa aos métodos que poderiam tirar a sua vida, ou seja, não deixar, em um momento de alto risco, que ela tenha acesso a facas, a medicamentos, a produtos agrotóxicos ou tóxicos, a produtos químicos, a cordas, etc. É fundamental proteger aquela pessoa de si própria naquele momento de crise, até que ela volte a refletir. Uma das características de quem está prestes a cometer o suicídio é ter uma grande rigidez de pensamento. Em geral, essa pessoa não consegue encontrar outra alternativa senão o suicídio. Para ela, a única saída é se matar.

Portal Unicamp - Além do tratamento, quais grupos poderiam apoiar a pessoa deprimida?
Andreza - Grupos de amigos, grupos religiosos, grupos abertos em unidades de saúde. Mas muitos se sentem à vontade de falar até com desconhecidos para não sofrerem nenhuma censura. Tudo isso é válido. O importante é exteriorizar as angústias. Se quem ajuda se dispõe a estar ao lado, a apoiar e a perceber que essa pessoa está com uma dor terrível, deve perguntar sempre como essa pessoa está e incentivá-la a procurar atendimento especializado nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), nas unidades básicas de saúde (UBS), em alguma equipe de saúde mental. Se a pessoa está fazendo planos de se matar, já com datas até, não a deixe sozinha. Deve levá-la a um serviço de emergência ou a um hospital porque ela precisa de cuidado intensivo.

Portal Unicamp - Como a Psicologia do Caism intervém junto a essa paciente?
Andreza - Quando identificamos algum risco iminente, encaminhamos essa paciente para a área de Psiquiatria do Hospital de Clínicas (HC), que tem uma equipe preparada e que vai avaliar a necessidade de internação, ou não,
e do tratamento mais adequado. Após avaliação psiquiátrica, a paciente mesma pode retornar ao Serviço de Psicologia e seguir em acompanhamento psicológico individualizado.  

 

 

 

 

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004