O Núcleo de Estudos Ambientais e Litorâneos (Neal), em atividade desde 2005 no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, realizou um seminário em 21 de setembro para apresentar resultados de pesquisas desenvolvidas em parceria com a Universidade de Havana. O evento fez parte do projeto temático Fapesp intitulado “A paisagem como unidade de análise espacial sob uma abordagem geossistêmica: o litoral do Estado de São Paulo/Brasil e o litoral de Havana/Cuba”, com a presença de pesquisadores cubanos. Os estudos são embasados na abordagem da geoecologia da paisagem e propõem a elaboração de cartografia síntese com vistas ao planejamento territorial e uma análise sobre os modelos de gestão costeira adotados nos dois países.
A professora Regina Célia de Oliveira, coordenadora do Neal e do seminário, explica que o projeto em conjunto com os cubanos foi viabilizado por meio de aditivo ao convênio guarda-chuva anteriormente firmado entre a Unicamp e a Universidade de Havana, no âmbito institucional, e que está aberto a todas as unidades. “Uma das propostas do projeto é discutir como se dá a gestão costeira aqui, num regime político e econômico como o nosso, e como se dá na região de Cuba, onde a presença do poder estatal é muito mais forte.”
Segundo a docente do Departamento de Geografia, a Ilha, embora venha de um processo bastante antigo e diverso de ocupação, apresenta uma série de problemas ambientais no seu entorno costeiro, sobretudo em razão de eventos extremos (no caso, furacões), o que traz impacto também em termos de planejamento. “Um aspecto importante que temos a aprender com os cubanos se refere à participação popular: ouvir e buscar informações dentro da comunidade é uma prática de governo, em que as pessoas se sentem parte do planejamento, participando das várias etapas do processo e entendendo as dificuldades de sua efetivação. Isso cria uma forte relação de identidade com o espaço.”
Regina Oliveira acrescenta que, em se tratando de eventos extremos, Cuba adota uma política preventiva removendo as populações de áreas de maior risco, agindo posteriormente em condições emergenciais nas áreas mais afetadas. “Há um ano o país foi atingido por um furacão de grande escala e não houve uma morte sequer, apesar do impacto gigantesco, porque a população das áreas de risco foi evacuada uma semana antes. Cuba também oferece apoio a outras ilhas do Caribe, movendo médicos, engenheiros e serviços emergenciais para aquelas que sofreram impacto maior. A relação de comunidade é realmente bastante forte na região.”
Além dos furacões, Cuba sofre com sérios problemas de erosão costeira e muitas pessoas vivendo em áreas de risco. “Há um nível de pobreza grande, o que faz com que essas populações fiquem ainda mais vulneráveis aos problemas ambientais; os impactos são mais severos quanto maior o nível de vulnerabilidade. O interesse dos cubanos nesse intercâmbio está na produção tecnológica, em função da maior facilidade de recursos que temos. Apesar da grave crise econômica no Brasil, ainda conseguimos certo apoio do Estado para produzir ciência. Lá, eles produzem muita coisa, mas com grande dificuldade.”
Regina Oliveira recorda que alunos e professores do IG já haviam realizado pesquisas em parceria com a Universidade de Havana antes deste projeto Fapesp aprovado no ano passado e que tem duração de cinco anos renovável por mais cinco. A mesa de abertura do seminário, que aconteceu no auditório do Instituto de Economia (IE), teve a apresentação de trabalhos de pesquisadores do Núcleo de Estudos Ambientais e Litorâneos. A mesa de encerramento – “Desafios políticos, técnicos e ambientais para a gestão costeira: cenários brasileiro e cubano” – contou com a participação de dois professores de Cuba: Jose Mateo Rodriguez, da Universidade de Havana, que já realizou pesquisas em várias áreas litorâneas do Brasil e atualmente é pesquisador visitante na Universidade Federal de Santa Maria (RS); e Maira Celeiro Chaple, do Instituto de Geografia Tropical cubano.