Lauro Barata, paraense, químico de produtos naturais, é o ganhador da medalha de mérito IFEAT 2018, a poderosa federação internacional da indústria de perfumistas e produtores de aromas e óleos essenciais. O prêmio foi entregue em Cartagena, na Colômbia, no último dia 11. A medalha foi concedida pela sua trajetória profissional como pesquisador dedicado à ciência & tecnologia dos cheiros e aromas, dos óleos essenciais das plantas da Amazônia, e especialmente do pau-rosa e da priprioca. O prêmio o coloca entre os principais nomes internacionais dos quais é o primeiro brasileiro a receber, colocando de volta a Amazônia e as suas riquezas aromáticas num lugar privilegiado e com isso atraindo a atenção dos mais de mil ilustres participantes no evento na Colômbia. Lauro Barata é professor aposentado do Instituto de Química da Unicamp e está atualmente na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).
O destino do professor Barata parece ter sido traçado pelos cheiros, fragrâncias e perfumes amazônicos. Já no momento do seu nascimento, em Belém do Pará, filho de um comandante de navio que ia de Belém à Letícia na Colômbia, ele foi, como mandavam os costumes locais recebido no mundo com defumação aromática. Belém, e o Norte da Amazônia, mantêm uma ligação íntima com cheiros e perfumes, caseiros, naturais ou não, mas sempre intensos, fortes e ligados à emoção e que vão muito além de perfumes e passam pela culinária local. Na Amazônia ainda se preserva o uso místico num sentido mais amplo das “Drogas do Sertão”, uma mistura de heranças ancestrais que trabalham o poder dos cheiros de uma maneira que engloba não só o corpo, mas também o espírito. Passado e futuro se entrelaçam na sabedoria herdada na Amazônia e até hoje mantida viva. As mais novas pesquisas neurológicas que envolvem o sistema límbico confirmam que cheiros e perfumes são poderosos e podem ajudar na cura de doenças do corpo e da alma. Especialmente os banhos de cheiro, feito em casa ou vendido nas famosas barracas do Ver-o-Peso de Belém e em outros mercados locais mostram isso e são trabalhados por Barata e colaboradores hoje na Ufopa. Contendo cumaru, casca preciosa, priprioca, estoraque e outras plantas cheirosas os perfumes destas plantas carregam óleos essenciais e fecham o círculo da ideia ao produto.
Barata se lembra ainda adolescente com nitidez dos cheiros agradabilíssimos que lhes chegava ao nariz, cada vez que passava em frente da fábrica de sabonetes de luxo Phebo, quando ia para o colégio. Era o cheiro marcante e emocionante do perfume de rosas, obtido com a essência do pau-rosa, hoje praticamente extinto e com exploração controlada. Poucos lembram, mas, o famoso sabonete Phebo nasceu em Belém, de onde conquistou o Brasil. Muito mais tarde, já perto da aposentadoria da Unicamp, de onde ele se preparou de pagar o seu tributo à Amazônia, nasceu no imaginário do professor uma nova tecnologia, consequência de um dossiê preparado para a famosa casa de perfumes franceses Chanel. A técnica desenvolvida por ele hoje é empregada com grande sucesso na Amazônia, o que permite que o quase extinto pau rosa (Aniba rosaeodora) pode ser de novo explorado, mas de uma maneira completamente sustentável, sem destruir as árvores. Para honrar esse trabalho fundamental ganhou em 2006 o prêmio Samuel Benchimol, que foi criado in memorian a um outro grande cientista e comerciante de Manaus que por sua vez exportava toneis e toneis de pau-rosa para as casas de perfumaria fina. A história dos cheiros da Amazônia ainda tem muitos capítulos a serem escritas.
Hoje aposentado pela Unicamp, o professor Barata vive em Santarém, Pará, onde continua sua trajetória de sucesso, agora como professor visitante na Ufopa, uma nova universidade dedicada à ciência e tecnologia no seio da Amazônia. Continua pesquisando o pau-rosa com colegas do INPA para agora desvendar o DNA das plantas supostamente ditas “pau-rosa”, já que a identificação botânica destas, por ser complicada, limita sua exploração comercial. Retomou recentemente suas pesquisas anteriores com a andiroba (Carapa guianensis) e o grande foco agora são resíduos deixados pela indústria que contêm valiosas substancias anti-inflamatórias. Em outro recente projeto dedica-se a encontrar as bases para a comercialização do óleo essencial de priprioca (Cyperus articulatus), que tem grande potencial para ser colocado na indústria mundial de perfumaria, deixando a região de ser apenas exportadora de commodities.
Lauro Barata recebeu o prêmio em Cartagena, na Colômbia, pelo seu trabalho focado em produtos não madeireiros da Amazônia, contribuindo para mostrar saídas viáveis para manter a floresta Amazônica em pé. Dedicou o prêmio ao seu pai, Guiomary Moreira Barata, o comandante, que o encaminhou para a carreira de cientista que, além disso, lhe permitiu traçar o caminho pioneiro de juntar a academia com a indústria, mostrando que as duas só podem aprender uma com outra.