Com objetivo de ampliar o debate sobre a homofobia e a maneira como esta marca sua presença no esporte, a Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp está promovendo uma série de workshops abordando os diversos aspectos da temática. A iniciativa é do professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e aluno da FEF, Wagner Xavier de Camargo, e tem apoio da organização europeia Fare, de combate a desigualdade no futebol, e do Departamento de Educação Física e Humanidades (DEFH) da FEF.
A primeira oficina, que aconteceu na sexta-feira (5), na Sala da Congregação da FEF, debateu os problemas enfrentados pela mulher no esporte, destacando aspectos da misoginia e da lesbofobia. Os próximos encontros acontecerão nos dias 26 de outubro e 9 de novembro, sobre os temas transgeneridade e homofobia, respectivamente.
“O esporte tem uma posição muito tradicional e não quer discutir esses assuntos”, afirmou Sergio Giglio, professor do DEFH e um dos organizadores do evento. Para ele, é fundamental abrir espaço para esse debate, pois ele tende a ser visibilizado. “Permanecemos fechados em uma bolha, onde homofobia, lesbofobia e misoginia, teoricamente, não estão presentes. Quando aparecem, são considerados ‘parte do jogo’. Não podemos aceitar isso. Tais atitudes precisam ser combatidas e só serão, se forem discutidas”, ressaltou.
Na mesa de abertura, o diretor da FEF, Orival Andries Junior, e a chefe do DEFH, Silvia Cristina Franco Amaral, parabenizaram a organização do evento pela iniciativa. “O tema do evento é extremamente importante, principalmente no momento político que estamos vivendo hoje. Temos visto manifestações homofóbicas generalizadas nas redes sociais e outros espaços e isso precisa ser combatido com todas as forças”, afirmou Cristina.
De acordo com Wagner Xavier de Camargo, além de apresentar o debate acadêmico sobre a temática, as oficinas são espaço para troca de experiências e planejamento de ações. “Seja como técnica, professor ou estudante, precisamos pensar no que cada um pode fazer para minimizar os preconceitos instituídos. Precisamos propor ações práticas, para que todos possam sair daqui com uma agenda a seguir em sua área de atuação”, explicou Camargo.
“Não precisamos todos torcer pelo mesmo time. Precisamos aceitar as nossas diferenças. Talvez este seja o grande desafio da humanidade hoje”, pontuou Giglio.
Para a mulher lésbica, os desafios no esporte são ainda maiores, conforme apontou Marina Carvalho, estudante da FEF e palestrante do encontro. Por um lado, têm que enfrentar a misoginia por serem mulheres, e por outro, fetichização e violência física, por serem lésbicas. “Em todos os casos, a tentativa é de subjugação, baseada na crença de que a mulher deve servir ao homem”, explicou.
Segundo Giglio, o futebol possui contornos ainda mais hostis para esse debate. “O futebol é um lugar muito machista. Os são altamente coibidos de se manifestar sobre assuntos como homossexualismo. Mesmo lutar contra a homofobia e o racismo pode significar perdas contratuais na estrutura atual. Existe uma parte cruel dessa estrutura de circulação de jogadores pelos clubes. Mesmo em clubes que se posicionam abertamente contra a homofobia, os jogadores individualmente não conseguem se posicionar”, completou.