Reunir especialistas em metodologias de previsões científicas e tecnológicas com suas consequências sociais, traçando cenários para os próximos 10 a 50 anos, foi o objetivo do worskhop “O futuro já começou”, organizado nesta quinta-feira pela Faculdade de Engenharia Química (FEQ) e pelo Nipe (Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético) da Unicamp. No evento também foi lançado o primeiro volume do livro A ciência e a tecnologia do futuro: Aplicações dos métodos de previsão e prospecção no âmbito científico-tecnológico e social (Edições Brasil), com artigos de autores de várias instituições de ensino e pesquisa.
Wagner dos Santos Oliveira, professor da FEQ e organizador do workshop realizado no auditório desta unidade, observa que o mundo vive uma era digital muito intensa, com mudanças sociais de igual magnitude. “Notamos que as áreas de conhecimento estão se entrelaçando fortemente. Hoje as engenharias estão ligadas com a medicina, a física com as engenharias, numa mudança que se reflete na sociedade através da chamada era digital. Estamos falando de metodologias de previsão – e não de sentimentos – que estão muito bem estabelecidas e fundamentadas na matemática. Conseguimos obter visões de cenários futuros com certa precisão num intervalo de 10 a 50 anos – acima disso entra um pouco do fator opinião (ou sentimentos).”
Diante das mudanças em ciência e tecnologia que vêm ocorrendo muito rapidamente, uma previsão destacada por Wagner Oliveira, por exemplo, é de empregos que desaparecerão nos próximos 30 anos. “Especialistas da área preveem robôs entrando em nichos de mão de obra como de empregados de escritórios, que fazem serviços rotineiros, a exemplo dos contadores – os robôs já entraram na indústria. É importante chamar a atenção sobre essas previsões para que os trabalhadores possam se enquadrar em novos conhecimentos, minimizando o fator angustiante do desemprego.”
O docente da Unicamp acha interessante, por outro lado, antever que os robôs não ocuparão postos que exigem o senso comum, o poder de discernimento humano, como em grande parte da área de humanas – artistas de teatro, romancistas, juízes, advogados. “Falta aos robôs a consciência, mesmo para serviços mais humildes: canteiros criados por um jardineiro não deixam de ser uma obra de arte.
As palestras do workshop versaram sobre o futuro industrial, da energia, do ensino, da energia nuclear, da ciência e tecnologia e da sociedade (empregabilidade), e também sobre mapas tecnológicos e prospecção e tendências tecnológicas. “Um colega americano [Len Mei, de Illinois] vai falar de tecnologias que vão mudar o mundo, como a computação quântica. Deixaremos de ter computadores de mesa, porque vamos trabalhar com chips ligados à nuvem. Na medicina, nanorobôs serão introduzidos no corpo humano, dirigidos para combater células cancerosas, mas que são capazes de se reproduzirem – o que pode ser um risco para nós.”
Wagner dos Santos Oliveira é também um dos organizadores do livro A ciência e a tecnologia do futuro, juntamente com Herlandi de Souza Andrade (Centro Paula Souza), Messias Borges Silva (USP) e Milton de Freitas Chagas Junior (Inpe). “A ideia é convidar especialistas em metodologias de previsão para que publiquem principalmente previsões de médio e longo prazo (de 30 a 50 anos), envolvendo todas as áreas do conhecimento, justamente para estarmos preparados para o futuro.”