A exposição à poluição atmosférica pode favorecer o desenvolvimento da obesidade e a resistência à insulina, um dos fatores que provocam diabetes. É uma hipótese que está sendo testada na pesquisa de doutorado da estudante Olívia Zordão, ligada ao Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades – OCRC, sediado na Unicamp. O trabalho está entre os vários pôsteres exibidos no V Simpósio OCRC, realizado até esta sexta-feira, (25) na Unicamp. Há cinco anos os pesquisadores do centro estudam as relações entre a obesidade e todas as doenças que ela acompanha, como diabetes, hipertensão ou aterosclerose, entre outras.
O OCRC é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids), apoiados pela Fapesp. O simpósio reuniu, em dois dias, os pesquisadores da área. Além de palestras são apresentados os resultados já obtidos de várias pesquisas. E há muito o que comemorar. De acordo com diretor do centro, Licio Augusto Velloso, em cinco anos mais de 500 trabalhos científicos foram publicados, obtendo mais de 7 mil citações, além de alguns produtos patenteados.
Um programa de difusão de conhecimento para a comunidade, envolvendo crianças de escolas públicas, também merece destaque. “Foram feitas atividades com crianças de ensino fundamental e médio, principalmente junto às escolas públicas de Campinas. Conseguimos atingir mais ou menos 85 mil pessoas em cinco anos”, afirmou o diretor.
Com visitas dos pesquisadores às escolas para falar de bons hábitos alimentares e sobre a importância do exercício físico, ou recebendo, na Unicamp, grupos de estudantes, o trabalho buscou despertar nas crianças a vontade de melhorar a alimentação e a qualidade de vida. “Apesar de ser difícil modificar o hábito das crianças nós precisamos ir plantando uma sementinha. Se elas já sabem desde pequenas que fazer atividades físicas e se alimentar de determinada forma são coisas boas, já é um grande passo”, relatou.
Em cinco anos de OCRC foram concluídas 120 dissertações de mestrado e teses de doutorado e mais de cinquenta pós-doutorados foram supervisionados. Todos os alunos trouxeram recursos para a Universidade por meio de bolsas ou verbas suplementares.
Em relação às pesquisas, a maior parte dos estudos, segundo Velloso, está buscando identificar alvos para potenciais medicamentos para tratar as doenças relacionadas com a obesidade. “A diabetes por exemplo, ainda não temos uma solução definitiva para a doença. Os pacientes precisam tomar medicamentos de forma contínua. Como existem componentes genéticos relacionados, a gente procura identificá-los para tentar, no futuro, alguma forma de terapia que possa oferecer um tratamento mais definitivo para essas doenças”.
Olívia Zordão estuda a exposição perinatal de camundongos à poluição atmosférica. “Mães grávidas, ou amamentando, ficam expostas em um concentrador de partículas atmosféricas que capta a poluição real da rua. Estimamos o tempo que seria necessário para igualar a uma exposição de área para o ser-humano na mesma região”, descreve a doutoranda. Já na etapa final do trabalho Olívia conseguiu observar que os camundongos machos engordaram e tiveram alteração no metabolismo de glicose. Falta verificar o que irá acontecer com os filhotes, que terminam de ter o cérebro formado apenas no período de amamentação. “Pode ser que haja uma programação metabólica porque a formação dos neurocircuitos do camundongo se dá na lactação, diferente do que ocorre no ser-humano”. Olívia é orientada pela professora Patrícia Prada, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e o trabalho tem a colaboração do grupo de pesquisa dos professores Mariana Veras e Paulo Saldiva, da Universidade de São Paulo (Usp)
O trabalho desenvolvido por Marcella Ramos Sant’Ana, no Laboratório de Genômica Nutricional, em Limeira, sugere que apenas a melhora da qualidade de gordura consumida já é suficiente para reduzir os fatores de risco para a doença de Alzheimer. “Estudos mostram que a doença tem estreita relação com a obesidade. Uma dieta rica em gordura saturada leva a uma inflamação no sistema nervoso central e a resistência à insulina, que podem ser responsáveis pelo surgimento de fatores de risco relacionados a doença de Alzheimer”. A aluna é orientada pelo professor Dennys Cintra, da FCA.
No estudo,a pesquisadora induziu a obesidade em camundongos e depois fez a substituição da dieta rica em gordura de porco pela dieta com óleo de semente de linhaça, rico em ômega 3. “Conseguimos reduzir a inflamação e melhorar a resistência à insulina, reduzindo os fatores de risco para doença de Alzheimer”. Os testes cognitivos, feitos em um labirinto aquático, mostraram que os animais que receberam óleo de semente de linhaça escapavam muito mais rápido e conseguiam reter a memória por mais tempo.