Somente 13% dos alunos ingressam na Unicamp sabendo o que é plágio em trabalhos acadêmicos, enquanto 87% chegam sem estarem familiarizados com o tema; e 36% dos graduandos, pós-graduandos e pós-doutorandos já parafrasearam ou copiaram um conteúdo sem citar a fonte original. Estes são alguns resultados da pesquisa “Integridade acadêmica na Unicamp: o que os alunos pensam?”, apresentada em workshop promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) e pela organização internacional Turnitin, segunda-feira à tarde, no auditório da FCM. O estudo faz parte do eixo de ações educativas e preventivas do programa da PRP visando promover boas práticas acadêmicas na Universidade.
O professor Munir Salomão Skaf, pró-reitor de Pesquisa, afirma que a PRP e a Unicamp em seu todo estão está muito interessados em estabelecer uma política institucional de boas práticas acadêmicas e de pesquisa. “A Fapesp já possui o seu Código de Boas Práticas Científicas desde 2011, assim como a USP desde o ano passado. É uma demanda crescente em todas as boas universidades e agências de fomento do Brasil e do mundo. Criamos no começo deste ano um grupo de trabalho que ficou encarregado de trabalhar em diferentes frentes.”
Segundo o pró-reitor, uma frente está responsável por criar políticas gerais como marco regulatório e protocolo, explicitar os princípios de conduta em pesquisa e estabelecer critérios de apuração, deixando claro o que a Unicamp entende como boas práticas acadêmicas e integridade científica. “O segundo eixo, tratado nesse evento, é o de promover ações educativas de disseminação desta cultura. Começamos por essa enquete, com auxílio da Turnitin, envolvendo 958 alunos de graduação, pós-graduação e pós-doutorado, a fim de mapear o que eles entendem por plágio e boa conduta científica.”
Este é um primeiro passo, acrescenta Munir Skaf, para depois se promover ações preventivas e educativas, juntamente com as Pró-Reitorias de Graduação e de Pós-Graduação, como por exemplo, seminários regulares sobre o tema em inícios de semestres. “Esse mapeamento permitiu identificar algumas demandas, como a de que mais de 90% dos alunos acham que questões de integridade acadêmica são importantes para sua formação. Falando da graduação, é importante fazer com que os alunos tenham conhecimento do que é um plágio, de quando podem copiar um texto, de boas práticas ao se fazer ciência.”
O pró-reitor salienta que, embora pesquisadores e orientadores estejam cientes das regras, devem tomar muito cuidado em relação a trabalhos já publicados e que tenham trechos copiados de outras fontes. “É comum que em um trabalho escrito a muitas mãos, alguém insira parte de texto publicado, voluntária ou involuntariamente. Às vezes, o próprio autor, ao copiar trecho de um artigo seu publicado anteriormente, comete o que se chama autoplágio.”
Sabine Righetti, mestre e doutora pela Unicamp e uma das responsáveis pela pesquisa, esclarece que a má conduta acadêmica implica fabricação ou falsificação de dados ou informações, e plágio ou engano ao reportar dados de outra pesquisa. “Nos interessou mais a questão do plágio. Temos poucos estudos no Brasil e um dos mais importantes é da professora Sonia Vasconcelos, da UFRJ, publicado em 2016. Ela aponta que em relação a retratações – estudos cancelados ou parcialmente cancelados por má conduta –, 46% eram por plágio. O CNPq criou uma comissão para acompanhar esses casos em 2011 e, no ano passado, a Fapesp anunciou que dentro de alguns anos (sem especificar quando) deixaria de dar apoio a universidades que não tivessem uma clara política de integridade acadêmica.”
Ana Paula Morales, doutoranda da Unicamp que apresentou os números do início, explica que a pesquisa teve duas etapas: a primeira por meio de questionário disparado para todos os alunos de graduação, pós e pós-doc (quase 40 mil) e a segunda com entrevistas coletivas junto a grupos focais. “Recebemos 958 respostas, 35% de estudantes da graduação e 65% da pós-graduação, com uma divisão homogênea em termos de sexo e participação de todas as áreas. Na graduação, 48% já tinham feito ou faziam iniciação científica. A maioria acha que o plágio não é intencional, com justificativas como falta de tempo, de planejamento, dificuldades para escrever e desconhecimento das regras. Mais de 90% concordam que é importante a Unicamp ter uma política de integridade acadêmica.”
Parceria
Uma das organizadoras do workshop, Mariana Rutigliano, gerente de marketing da Turnitin para a América Latina, conta que a empresa trabalha com 18 mil instituições em todo o mundo, apoiando processos de integridade acadêmica que garantem a qualidade da pesquisa. “São processos fundamentais que já acontecem em diversos países, mas não no Brasil. Por isso, estamos orgulhosos de realizar esse projeto com a Unicamp (a mais forte em pesquisa no país) para que possamos, junto com USP, Unesp, Fapesp e outras agências de fomento, dar mais luz a boas práticas e mostrar a importância desses processos para a inovação.”
Para Mariana, a pesquisa mostra que os alunos sentem necessidade de mais workshops e aulas que os ajudem no processo de escrita científica. “Somente 13% dos estudantes sabem o que é plágio quando entram na Universidade. Daí a preocupação com políticas que não sejam punitivas, mas educacionais e preventivas, para formar uma cultura de como fazer pesquisa e sempre criando algo novo. Uma coisa é saber escrever, outra é saber a escrita acadêmica. Existe uma carência nesse processo e também de ferramentas que os apoiem, como o uso de Turnitin. É interessante ver que eles têm consciência de que não sabem, que precisam aprender.”