Chega ao mercado brasileiro, nos próximos meses, o medicamento Duavive, para o tratamento de sintomas vasomotores moderados e graves da menopausa, também conhecidos como ondas de calor ou fogachos. O novo fármaco é uma combinação de dois princípios ativos: estrogênios conjugados e acetato de bazedoxifeno. O produto foi aprovado recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O primeiro composto, usado há anos para repor o estrogênio que deixa de ser produzido pela mulher, alivia os sintomas vasomotores. O segundo age nos receptores de estrogênio das células das mamas e útero, inibindo os efeitos do uso isolado do estrogênio, normalmente adotado na terapia hormonal (TH) clássica.
De acordo com a docente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Lúcia Costa Paiva, diretora da Divisão de Ginecologia do Hospital da Mulher - Caism da Unicamp e chefe do Ambulatório de Menopausa, embora o estrogênio tenha efeito benéfico sobre os sintomas da menopausa, se ele for utilizado sozinho, pode aumentar o risco de câncer de endométrio. Em geral, recomenda-se então a sua associação com a progesterona (progestagênio ou progestogênio), um outro hormônio protetor contra o câncer de endométrio. Ocorre que a progesterona aumenta o risco do câncer de mama, de alterações metabólicas e de colesterol.
O novo medicamento é uma proposta interessante, conforme Lúcia Costa, pelo fato de não empregar progestogênio. Com isso, são administrados o estrogênio e o acetato de bazedoxifeno em medicação única. A professora explica que o Duavive é uma nova geração de TH que trata os sinais e sintomas do climatério em função da queda do estrogênio, situação que pode causar desconforto à mulher. Essa terapia hormonal praticamente não estimula efeitos adversos.
Essa classe de medicamento é chamada complexo estrogênico tecido seletivo (TSEC): dependendo do tecido, terá uma ação de estrogênio, ao passo que, em outros tecidos, terá ação neutra ou antagonista. Os cinco estudos clínicos realizados até aqui, conta ela, foram favoráveis à melhora dos sintomas, não apresentaram sangramentos vaginais, tiveram efeito protetor na densidade mamária e não sugeriram queixas importantes de mastalgias.
Lúcia Paiva afirma ainda que o Duavive é a terapia hormonal mais recente com estrogênios em baixa dosagem. A dose recomendada é um comprimido de 0,45 mg de estrogênios conjugados e 20 mg de bazedoxifeno por dia. “Mas esse medicamento como qualquer terapia hormonal”, frisa ela, “deve ser ingerido quando necessário e pelo menor tempo necessário”.
Efetividade
Segundo a docente da FCM Adriana Orcesi Pedro, também ginecologista do Caism e especialista em menopausa, os efeitos colaterais mais comuns na terapia hormonal com estrogênio e progestogênio são dor na mama, que pode ocorrer em até 20% dos casos; e sangramento, em até 60%. Como o Duavive não tem ação sobre a mama, a mulher não apresenta dor e sensibilidade mamária ou aumento da densidade da mama durante o exame da mamografia, o que poderia interferir na análise mamográfica. Também como o medicamento não tem ação sobre o endométrio, não causa sangramento quando a mulher inicia a TH. O Duavive é empregado após a menopausa em mulheres que ainda tenham útero e com registro da última menstruação natural há mais de 12 meses.
Essa terapia é ainda efetiva para tratar sintomas psicoemocionais, urogenitais, massa óssea, que também são tratados na terapia clássica, porém com menos efeitos colaterais. Ela também exibe menores taxas de doenças relacionadas ao estrogênio no útero, como a endometriose e o mioma, por não serem estimuladas.
O uso do estrogênio pode causar edema, distensão abdominal e labilidade do humor, diferente da ação do bazedoxifeno que, além de tudo, protege o endométrio da mesma forma que o progestogênio, porém com a vantagem de não ter efeitos colaterais. A principal indicação do Duavive seriam as mesmas da TH para aquelas mulheres com sintomas relacionados à menopausa, como ondas de calor, alterações psicoemocionais, secura vaginal, dor na relação sexual, atrofia genital, perda óssea e fratura devido à osteoporose.
A menopausa precoce também tem indicação de TH no mínimo até a idade em que a mulher entraria na menopausa. As doses devem ser semelhantes às ingeridas por mulheres na fase reprodutiva, entre 30 e 40 anos, aconselha Adriana Orcesi. As contraindicações absolutas à TH são o câncer de mama e o de endométrio, antecedente de tromboembolismo e doença hepática em atividade. Há também contraindicação às mulheres com fatores de risco cardiovascular, sedentarismo, obesas, tabagistas – tudo numa mesma mulher. Se ela só tiver hipertensão controlada, ela pode tomar TH. Se só fumar, também pode. “Em relação à idade e tempo de menopausa, é importante iniciar a TH na ‘janela de oportunidades’, ou seja, abaixo dos 60 anos, porque os prós dessa terapia são maiores para prevenir doenças nessa fase da vida”, revela Adriana Orcesi.