A Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) aplicou de maneira inédita, nesse domingo, 2 de dezembro, o primeiro Vestibular Indígena da Universidade. O Vestibular Indígena Unicamp 2019 foi realizado em cinco cidades do país: Campinas (SP), Dourados (MS), Manaus (AM), Recife (PE) e São Gabriel da Cachoeira (AM).
A prova foi em língua portuguesa e composta de 50 questões de múltipla escolha e uma Redação. O exame começou em diferentes horários, em função do fuso de cada cidade. Em Manaus e São Gabriel da Cachoeira, a prova teve início às 11 horas; em Recife, às 12 horas e em Campinas e Dourados, às 13 horas. A prova durou cinco horas e, de acordo com a Comvest, transcorreu normalmente nos cinco locais de aplicação.
A abstenção por cidade já foi divulgada no site da Comvest. Acesse o link e veja a prova que foi aplicada nos candidatos.
São Gabriel da Cachoeira
Na cidade com o maior número de inscritos para o Vestibular Indígena, a movimentação foi grande. Muitos estudantes vieram de longe e demoraram dias para chegar. Jaqueline Lopes, da etnia Baniwa, viajou dois dias em canoa, pelo Rio Negro, até chegar a São Gabriel. Ela mora na comunidade Assunção e chegou à cidade na última sexta-feira. Para Jaqueline, a vinda da Unicamp para aplicar a prova facilitou muito a vida dos estudantes. “Não teria condições de sair da região para fazer a prova em outro lugar, pois só para chegar da minha comunidade à São Gabriel já demora dois dias”, contou.
Jaqueline fez a prova para tentar uma vaga no curso de Enfermagem e estava acompanhada da prima Rayana Lopes, de 19 anos, que também concorre a uma vaga no em Enfermagem. Ambas, que nunca saíram da cidade e nem conhecem a capital do Estado, Manaus, afirmam que a região necessita bastante de profissionais na área da saúde. “Escolhi esse curso porque acho importante ajudar outras pessoas e aqui precisamos muito de médicos e enfermeiros”, disse Rayana.
A prova trouxe a realidade dos estudantes indígenas para as questões e para as propostas de Redação. Em uma delas, os candidatos foram convidados a escrever sobre uma reportagem que abordava a perda da cultura indígena e o uso de tecnologias por indígenas. Muitas questões também aproximaram os conteúdos do ensino médio da realidade dos candidatos.
O coordenador executivo da Comvest, José Alves de Freitas destacou o longo e cuidadoso processo para a elaboração dessa prova.
“A prova foi pensada desde o início considerando que a Unicamp seleciona para cursos de graduação e considera a realidade educacional desse público. Sabemos da disparidade que existe no sistema educacional brasileiro, das desigualdades de oportunidades entre os milhões de brasileiros que frequentam o ensino público. Ao mesmo tempo, a Unicamp sempre teve claro que desejava uma prova que dialogasse diretamente com a realidade desses estudantes indígenas”, explicou José Alves.
Ele ressaltou a importância dessa experiência inédita da Unicamp em selecionar e acolher estudantes indígenas. “O cenário politico brasileiro e internacional não é simples e diante desse cenário, uma universidade deve buscar respostas que não sejam triviais. O Vestibular Indígena representa isso. Não dar respostas triviais a problemas complexos que a sociedade brasileira vivencia. Assim, acolher e ter esses estudantes aqui é ampliar a interlocução da universidade pública e comprometida com o desenvolvimento da sociedade brasileira, como é a Unicamp”, salientou.
Ao o final do exame, os candidatos elogiaram a prova. Joelma Solano Manoel, da etnia Baré, disse que a prova não estava difícil. “Não encontrei muita dificuldade porque as questões falavam mais do povo indígena, de como a gente vive. As questões estavam, basicamente, baseadas no que nós vivemos, davam a entender o que passa pelo nosso cotidiano”, disse Joelma.
“Tenho muito orgulho dos candidatos que fizeram essa prova, dos professores que estiveram envolvidos, da equipe da Comvest e do apoio da pró-reitoria de graduação e da reitoria da Unicamp em relação a esse momento que estamos vivenciando hoje”, concluiu José Alves.
Logística
Em São Gabriel da Cachoeira, a prova teve a coordenação do professor Kleber Pirota, coordenador de logística da Comvest. de acordo com ele, a presença dos candidatos foi muito boa. “Foi um sucesso a aplicação do vestibular aqui. Apesar da dificuldade de muitos em chegar. Soubemos que vários deles fizeram uma viagem de muitos dias no Rio Negro, para chegar. Não divulgamos os números ainda, mas já foi possível perceber uma abstenção bastante dentro do esperado”, comentou.
Ele ressaltou a colaboração da equipe local de aplicação, para o sucesso da prova em São Gabriel. “Nossos colaboradores daqui foram excelentes. Agora, esperamos voltar em segurança, com as provas e todo material, para a Unicamp”, afirmou.
Classificação
Para não serem desclassificados, os candidatos precisam acertar, no mínimo, 10 questões de múltipla escolha e obter, no mínimo, cinco pontos na prova de Redação (de um total de 25 pontos). O resultado será divulgado na página da Comvest no dia 29 de janeiro. O Edital com as regras pode ser consultado na página eletrônica da Comvest, bem como o calendário completo do processo.
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