Aos 40 anos de idade, o brasileiro Alexandre Antonelli foi nomeado em outubro passado para o cargo de diretor de Ciência do Royal Botanic Gardens, Kew, no Reino Unido, considerado o maior jardim botânico do mundo. Ele assumirá a função em fevereiro de 2019.
Antonelli iniciou sua graduação em Ciências Biológicas na Unicamp em 1996, mas terminou o curso na Europa. Para o doutorado, o novo diretor retornou à Unicamp e cursou disciplinas no Instituto de Biologia e obteve suporte formal e logístico para realizar trabalhos de coleta de plantas em várias partes do país, como no Amazonas, na Mata Atlântica e em áreas de Cerrado.
O estreitamento das relações com a Unicamp permaneceu, quando assumiu o cargo de professor na Universidade de Gotemburgo, na Suécia. “Recebi vários alunos de doutorado para estágios aqui no meu laboratório e ainda mantenho colaborações com vários professores do IB”, afirma Antonelli.
Em entrevista ao Portal da Unicamp, ele fala sobre sua trajetória e revela quais são suas expectativas para o seu mais novo desafio.
Portal da Unicamp – Qual o curso e em que ano você fez graduação na Unicamp?
Alexandre Antonelli – Fiz Ciências Biológicas no período noturno durante um semestre, em 1996. Tranquei a matrícula por um ano para poder estudar francês na França. Recomecei minha graduação em Biologia na Suécia em 2001.
PU - O que você acredita que foi importante na sua graduação para que prosseguisse na carreira acadêmica?
Alexandre – Foi o trabalho de campo, onde entrei em contato pela primeira vez com pesquisadores e estudantes de doutorado absorvidos na pesquisa científica. Fui voluntário para um projeto no norte da Suécia em 2003, viajando de helicóptero para várias montanhas da Lapônia para documentar e medir a vegetação e como ela seria afetada pelas mudanças climáticas. Foi então que entendi que era possível conciliar meu grande interesse pessoal de estar na natureza, com um trabalho remunerado e de alta relevância para a sociedade e o planeta. Me tornar pesquisador se tornou um sonho que logo se concretizou.
PU – Como foi a sua transferência para a Universidade de Gotemburgo, na Suécia? Como você chegou até lá?
Alexandre – Cheguei a Gotemburgo por razões pessoais. Estava morando em Honduras e trabalhando como mergulhador no Caribe, quando conheci uma menina sueca, que depois se tornaria minha esposa. A principal razão foi saber que Gotemburgo tinha uma grande linha de pesquisa com a flora da América do Sul, e fiquei muito animado em dar continuidade a esse trabalho.
PU – Depois de sua saída da Unicamp teve ou tem algum contato com professores e pesquisadores daqui?
Alexandre – Sempre mantive um contato muito ativo com a Unicamp, principalmente o Instituto de Biologia (Departamento de Biologia Vegetal). Já durante meu doutorado na Suécia, esse contato foi extremamente valioso, pois fiz disciplinas aí e obtive o suporte formal e logístico para poder realizar trabalhos de coleta de plantas em várias partes do país, como Amazonas, Cerrado e Mata Atlântica. Já recebi vários alunos de doutorado para estágios aqui no meu laboratório, e ainda mantenho colaborações com vários professores, principalmente o professor André Olmos Simões e a professora Maria Fernanda Calió.
PU – Faça um breve resumo da sua trajetória acadêmica?
Alexandre – Fiz doutorado em Biologia 2003-2008 pela Universidade de Gotemburgo; Pós-doc 2009-2010 pela Universidade de Zurique; Curador científico no Jardim Botânico de Gotemburgo 2010–2019; Pesquisador pela Universidade de Gotemburgo 2011– até a presente data (Professor Livre Docente em 2015); Fundador e Diretor do Gothenburg Global Biodiversity Centre 2017–2019; Professor Visitante pela Universidade de Harvard Janeiro-Julho 2018.
PU – Fale sobre como se sente com a nomeação e faça um breve resumo dos seus projetos futuros e o que pretende desenvolver no Kew Garden.
Alexandre – Estou super animado com o cargo, será uma honra e responsabilidade imensa liderar a pesquisa e coleções científicas do Kew! Espero também me desenvolver profissionalmente e pessoalmente. Ainda não assumi o cargo, e é cedo para saber quais serão os projetos futuros que tentarei lançar. Uma prioridade é consolidar os planos da estratégia científica divulgada para os anos 2015-2020 e criar uma nova estratégia para os anos 2020-2025. Algo que gostaria muito de iniciar em breve é um projeto de criação de imagens para todas as espécies cultivadas ou preservadas no Kew, ligadas diretamente a algoritmos de inteligência artificial para o reconhecimento automático de espécies de plantas e fungos, envolvendo a participação de cidadãos neste processo.
PU – Fale sobre o Kew Garden e sua importância mundial.
Alexandre – Royal Botanic Gardens, Kew é o maior jardim botânico do mundo. Conta com mais de mil empregados, dos quais mais de 300 são cientistas ou associados à pesquisa. Durante os quase 260 anos de existência, esta instituição acumulou a coleção mais vasta de plantas e fungos do mundo. Kew lidera a pesquisa botânica e de fungos em várias áreas, com fortes colaborações internacionais, envolvendo mais de 110 países. O Brasil, por ser o país de mais alta biodiversidade mundial, tem excelentes colaborações com Kew e espero poder fortalecer isso ainda mais durante meu mandato.