Os impactos do atual cenário político-econômico na educação são o fio condutor do VI Seminário da Educação Brasileira (SEB), que acontece até esta quarta-feira (12), na Unicamp.O Seminário é realizado pelo Centro de Estudos Educação e Sociedade (Cedes), em parceria com a Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. Em sua sexta, o evento afirmou, mais uma vez, de acordo com seu coordendor, Pedro Goergen, a defesa da educação pública, gratuita, livre, democrática, para todos com qualidade.“Desde 1978, todos os Seminários trabalharam a questão educação e sociedade. Este tem uma relevância especial, pois está sendo realizado num momento de grande incerteza. Temos muitas dúvidas com relação ao futuro do país e, particularmente, ao futuro da educação”, pontuou.
A programação contou com seminários e comunicações, que buscaram abranger os principais tópicos da pesquisa e do debate público no âmbito da educação. “Vamos discutir a conjuntura política internacional e brasileira; as condições do mercado de trabalho e sua relação com a educação; os movimentos sociais; os direitos humanos; as novas formas de pensar a educação e sua ideologia”, contou Sergio Stoco, presidente do Cedes, na abertura do evento.
Apesar da conjuntura, na sua avaliação "conservadora e de desprezo pelos direitos humanos e pela educação pública e gratuita", Stoco se mantém otimista. “O importante é que continuamos tendo educadores dispostos e disponíveis. Eu vou às escolas, conheço os professores, vejo a juventude. Estão todos muito preocupados e muito ativos. Não há uma postura de medo do retrocesso, mas de esperança e de avanço”, destacou.
Os professores da Universidade do Minho (Portugal), Licínio C. Lima e Almerindo Janela Afonso, que participaram do evento, afirmaram estar receosos com os impactos da situação institucional política brasileira no mundo da educação. “Queremos entender um pouco quais as especificidades das alterações que estão acontecendo no Brasil, face as alterações que estão acontecendo em outros países. Há alterações de configurações políticas em vários países, mas o Brasil tem algumas especificidades em relação ao que ocorre, por exemplo, na Espanha, na França, na Polônia, ou na Hungria. Minha expectativa para o evento é tentar perceber um pouquinho essas especificidades. Estou muito apreensivo, devo dizer”, afirmou Afonso, na abertura do seminário.
Para Lima, a maior preocupação é com as consequências para a educação pública e democrática. “O Brasil vinha traçando um percurso consistentemente nesse sentido, claro que com todas as dificuldades e problemas que um país dessa dimensão enfrenta. Ansiamos por ver se esse caminho vai conhecer novos obstáculos, avanços ou retrocessos. Nada nas democracias nunca está consolidado”, ressaltou.
Goergen, por sua vez, advertiu para a devastação causada pela privatização desenfreada do ensino, em curso no país. “A forma como acontece no Brasil, é um fenômeno quase único no mundo inteiro”, afirmou. Segundo ele, empresas estão invadindo todo sistema educacional brasileiro, iniciando pelo ensino superior. “Sabemos que 80% dos alunos matriculados no ensino superior hoje se encontram em instituições privadas. É um percentual elevadíssimo. Este cenário começa agora a se espalhar também pelo ensino médio. Essa é uma questão muito importante”, pontuou.
Junto a esse processo, Goergen apontou modificações importantes na orientação pedagógica do ensino. “A educação está servindo cada vez mais para a preparação das pessoas para o emprego. Não é ruim preparar para o trabalho com conhecimentos técnicos e habilidades. No entanto, nós defendemos que a educação tem que ir além, precisa ser alimentada por uma perspectiva de formação humana das pessoas, de formação integral, que inclua aspectos da ética, da estética e até mesmo da corporeidade”, argumentou. Segundo ele, o momento é de exacerbação deste quadro. “Nós nunca tivemos uma divisão tão radical entre a formação profissionalizante e a formação humana mais integral. Quando perguntamos, hoje, aos estudantes o que eles querem da universidade, a resposta é: ‘eu quero ser formado Engenheiro’ ou ‘eu quero ser formado médico’, etc. Então perguntamos: alguma coisa mais? ‘Não. Por que, tem alguma coisa mais?’ Esses são 90% dos alunos que chegam a Universidade hoje”, relatou.
Na mesa de abertura do Seminário, o vereador Thiago Ferrari, representando o prefeito de Campinas, afirmou seu compromisso em estreitar laços entre a Universidade e a cidade. “Precisamos fazer ecoar os valores que estão sendo discutidos aqui, para que possam refletir no ensino das nossas escolas”, enfatizou. O ensino público foi defendido, também, pela professora Dirce Zan, diretora da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. “O dinheiro público deve ficar na educação pública”, afirmou. Compuseram a mesa, ainda, o coordenador do programa de pós-graduação em educação, Antonio Carlos de Amorim, Pedro Goergen e Sergio Stoco.
A cerimônia homenageou os 40 anos da Revista Educação & Sociedade, publicação mais importante da área, e os professores Ivany Pino e Pedro Goergen.