A residente do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Helena Slongo voltou recentemente de um estágio optativo em Ginecologia e Obstetrícia no exterior. Ela acaba de chegar da University of South Florida College of Medicine, nos Estados Unidos, onde atuou junto ao Tampa General Hospital na área de Uroginecologia, pelo período de um mês. A experiência foi enriquecedora, segundo ela, e a ajudou a projetar a Unicamp, já que está cursando o último ano de residência médica no Hospital da Mulher - Caism.
Helena escolheu o Tampa General Hospital porque seu irmão, Julio, é residente em Urologia na instituição e, por conta dessa proximidade, acabou ficando hospedada em sua casa. Julio e o seu chefe no Caism, o ginecologista Luiz Gustavo Oliveira Brito, indicaram contatos importantes no Tampa Hospital. Com isso, a médica recebeu uma devolutiva confirmando o estágio. Foi para lá como observership e foi muito bem-acolhida pela equipe médica.
Admirou-se da atenção que os norte-americanos davam às pacientes. Eles explicavam detalhadamente a fisiopatologia da doença e todas as opções de tratamento. Ficou impressionada pelo interesse que expressavam pela saúde no Brasil: como funcionava o sistema público de saúde, as técnicas cirúrgicas utilizadas no país e o que estava achando do hospital deles? Conheceu técnicas cirúrgicas diferentes das realizadas no Caism e novos equipamentos ambulatoriais e cirúrgicos que auxiliavam nas cirurgias.
“Lá, em Uroginecologia, eles não fazem cirurgias abertas via abdominal, apenas via robótica e laparoscópica”, revela ela. Os residentes e os fellows (médicos que concluíram a residência) do hospital possuem acesso a um simulador do robô Da Vinci, que fica à disposição para treinamento. “Todos os dias eu treinava em um simulador de robô, tinha que completar missões de habilidades e recebia um escore. Fui me tornando ágil. A experiência foi espetacular.”
No estágio, sua tarefa era acompanhar os fellows de Uroginecologia, sobretudo nos ambulatórios e no centro cirúrgico. O grupo também se reunia uma vez por semana para desenvolver pesquisa científica em conjunto e participar das reuniões departamentais. Helena comenta que o centro cirúrgico funciona mais de 12 horas eletivas por dia, com um grande fluxo de cirurgias.
No ambulatório, ela relata que a própria paciente preenche uma anamnese básica, que é entregue ao médico antes de iniciar a consulta. Assim, já é possível ter uma noção das queixas principais antes mesmo do início da consulta.
Os instrumentos cirúrgicos e os da sala de exame do Ambulatório de Uroginecologia são muito diferentes daqueles a que Helena estava acostumada a ver. A mesa de exame é automática e tem compartimentos para guardar materiais, como o kit de exame, que é substituído pelos assistentes a cada nova consulta. O espéculo tem iluminação própria. O atendimento é feito pelo residente ou fellow e, ao final da consulta, o docente também examina as pacientes.
Cada ambulatório é supervisionado todos os dias pelo mesmo chefe responsável, o que faz com que as pacientes os conheçam mais de perto, criando uma relação benéfica, além de manter mais facilmente o mesmo raciocínio médico.
De acordo com a residente, o Tampa General Hospital atende majoritariamente convênios médicos, uma vez que, na região, as pessoas menos favorecidas economicamente também têm este direito. Trata-se de um hospital de grande porte. Lá as secretárias podem agendar consultas ou adiantá-las, enviar pedidos de exames e inclusive de receitas sob autorização médica, conforme a necessidade, mantendo um canal aberto via computador.
Uma das grandes lições, para Helena, foi compreender que o aprendizado é sempre múltiplo. “Quando mudamos nosso referencial, modificamos nossa visão. Outra coisa: todas as instituições possuem pontos positivos e negativos. Apesar disso, cada uma colabora para novos aprendizados e ajuda a projetar o nosso futuro”, acredita. “Já não sou mais a mesma pessoa. Sinto que evoluí, e a equipe de lá me serviu de inspiração. Ainda hoje mantemos contato.”
A médica agora pretende fazer residência em Uroginecologia e mestrado na Unicamp. Depois deve voltar a Curitiba para trabalhar em clínica privada e procurar um vínculo universitário, para se atualizar e se aprimorar. Também pretende se especializar em videolaparoscopia e retornar outras vezes aos EUA. “Os norte-americanos sempre buscam descobrir métodos menos invasivos e de alta tecnologia, o que para mim é fundamental”, sublinha a médica, que cursou medicina no Hospital Evangélico do Paraná, em Curitiba.