De 09 a 11 de janeiro realiza-se no Instituto de Artes da Unicamp, o 3º. Simpósio Internacional Orff-Schulwerk no Brasil, do qual participam estudantes, professores e músicos interessados em conhecer, discutir e se aprofundar sobre o método Orff, esse conceito pedagógico do ensino de música para crianças, sobretudo quando inserido na realidade brasileira. Responsável pela sua organização, a professora Adriana Mendes, de Departamento de Música IA, esclarece que o encontro deste ano tem como objetivo refletir os caminhos do Orff-Schulwerk na simbiose da linguagem, música e movimento na educação musical dentro das escolas, nos movimentos culturais e demais experiências de forma inclusiva.
Esta terceira versão brasileira, a primeira realizada em uma universidade, tem o propósito de ampliar a parceria da Unicamp com a Associação Brasileira Orff, sediada em São Paulo, que é filiada ao Fórum Internacional Orff-Schulwerk, de Salzburg. Carl Orff, compositor alemão do século XX, entendia que a música, juntamente com a dança, com os movimentos rítmicos associados à linguagem, constitui uma forma de comunicação comum a todas as pessoas – todos conseguem se expressar através dos sons, da linguagem e do movimento. Essa música, por ele chamada de elementar, parte do que permeia o dia-a-dia e dos sons que qualquer pessoa pode criar cantarolando, por exemplo: “bom dia, como vai você?”. “São coisas simples, do nosso cotidiano, que associadas ao movimento e à sonoridade levam à proposta Orff de introdução à atividade musical que atrela música e movimento”, explica Adriana.
A docente informa que o objetivo do simpósio é o de que “possamos crescer como músicos, na criatividade, no entendimento musical e do movimento, e também na reflexão, e em decorrência chegar a propostas pedagógicas que possam ser levadas para alunos de quaisquer idades, em quaisquer escolas e condições”. A temática deste ano é especial porque trabalha com a questão da inclusão, daí o subtítulo “Orff-Schulwerk e inclusão: espaços educativos, perspectivas e possibilidades”. Tudo pensado sobre como uma proposta criada para a Europa no século XX, em outra cultura, se aplica à realidade brasileira de hoje.
Esta versão do simpósio traz uma abordagem mais acadêmica, pois embora os cursos Orff aconteçam há mais de vinte anos no Brasil na forma prática, dentro da academia este método pedagógico não tem sido ainda muito difundido e discutido. Daí a sua relevância para a reflexão sobretudo do que tem sido feito na prática e para registro dessas experiências, a fim de que não se percam.
Convidados internacionais
Para o simpósio foi convidada a professora de origem alemã Verena Maschat, que desde 2003 é docente no Conservatório Superior de Dança de Madri, ex-aluna de Carl Orff e representante da proposta de seu mestre para os países de línguas espanhola e portuguesa nas Américas. Para ela, este simpósio tem uma grande importância porque o ensino nas escolas já contempla todas as artes como música, teatro, dança, artes visuais, mas é muito difícil contar com professores que dominem todas estas expressões artísticas.
Em decorrência, Verena diz: “Temos que aproveitar qualquer possibilidade de aprender e compreender como pode funcionar essa fusão das artes na educação. E não apenas isso, mas também considerar a necessidade da inclusão das pessoas nas instituições educativas. É um tema muito amplo sobre o qual teremos a oportunidade de trocar ideias e experiências. O professor de música, caso dos participantes deste simpósio, se sente em geral muito isolado, principalmente quando se preocupa com a inclusão, porque enfrenta um trabalho complicadíssimo e que conta com muito pouco apoio institucional. Compartilhar estas inquietudes abre a possibilidade de novas ideias e perspectivas para prosseguir em um trabalho tão complicado”.
Também como convidado, participa do evento o professor João Cunha, pesquisador da Universidade de Aveiro, Portugal, que lançou durante o evento o livro “Abordagem Orff-Schulwerk: história, filosofia e princípios pedagógicos”, editado pela mesma universidade, resultante do seu doutorado. A publicação reúne considerações histórico-filosóficas e princípios pedagógicos fundamentais relativos a esta abordagem. Ele explica que o objetivo principal da obra é o de revigorar ou aprofundar a implementação desse tratamento e o seu desenvolvimento em diferentes contextos educativos portugueses e de todos os países de expressão lusófona.
João Cunha considera extraordinária a realização do simpósio em um país com as dimensões do Brasil, que tem uma associação oficial como a ABRAORFF, creditada pelo Fórum internacional de Salzburg, ao qual estão ligadas mais de 45 associações em todo o mundo para tratar de uma abordagem pedagógica que une música, movimento e dança. “Todos nós somos seres musicais, dentro das nossas capacidades e conhecimentos, e todos podemos cantar, tocar, fazer estudos em grupo e criar, de forma a sermos melhores pessoas. Esta abordagem é em si mesma inclusiva, pois todos podem ser inseridos em um grupo em que todos cantam, todos tocam e dançam, independentemente de suas capacidades e de suas limitações”, conclui com entusiasmo.