Unicamp participa de Cátedra da Unesco sobre contaminação de águas subterrâneas por arsênio

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Estima-se que mais de 200 milhões de pessoas no mundo estejam expostas à contaminação por arsênio, um elemento químico tóxico e cancerígeno. A Cátedra “UNESCO Chair on Groundwater Arsenic within the 2030 Agenda for Sustainable Development”, presidida por Jochen Bundschuh, professor da University of Southern Queensland, busca implantar uma rede global de conhecimento relacionados aos problemas causados pelo arsênio através da contaminação de águas subterrâneas. A pós-doc do Instituto de Geociências da Unicamp, Jerusa Schneider, participa da Cátedra como colaboradora e tem como função buscar formas de divulgação de pesquisas, trazendo atualizações de estudos sobre o assunto no Brasil.

De acordo com Jerusa, que trabalhou com a remediação de áreas contaminadas com arsênio em seu doutorado, o elemento químico é reconhecido internacionalmente como altamente tóxico pelos problemas de saúde que causa. A Agência para o Registro de Substâncias Tóxicas e Doenças do Departamento de Saúde americano (ATSDR) mantém uma classificação das substâncias tóxicas mais perigosas, que é atualizada a cada dois anos. Desde 1997, o arsênio mantém-se como primeiro colocado dessa lista. O Conselho Nacional de Meio Ambiente no Brasil (CONAMA) também o mantém em primeiro lugar. “Essa classificação americana ocorre de acordo com elementos que causam morte ou doenças incapacitantes, impondo risco à saúde humana ou ao ambiente. A frequência e o risco de exposição são também considerados para que se estabeleça a classificação de periculosidade desse elemento”, apontou Jerusa. 

Segundo a pós-doc, o arsênio é introduzido no meio ambiente por causas naturais ou antropogênicas, que é a ação do homem acelerando a liberação desse elemento no ambiente e disponibilizando-o até a cadeia alimentar. Há uma contaminação do lençol freático, das águas superficiais, solos, sedimentos, plantas, chegando dessa forma à população. Algumas atividades humanas favorecem a liberação do arsênio no meio ambiente, como a mineração, o uso de combustíveis fósseis e a adição do elemento químico em pesticidas, em conservantes para tratamento e preservação de madeira e aditivos de ração animal.

Além disso, o lançamento de esgoto in natura também libera o elemento tóxico, mas ainda há poucos estudos relacionados aos danos que causa. “No Brasil ainda há muitos focos de lançamento de esgoto sem tratamento, principalmente nas regiões mais isoladas. A Agência Nacional de Água (ANA) lançou um relatório que apontou milhões de pessoas sem tratamento de esgoto”, destacou Jerusa.

No Brasil há três regiões principais que concentram estudos sobre contaminação por arsênio: o Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais; a região do Vale do Ribeira, que abrange os estado de São Paulo até o estado do Paraná; e a região Amazônica, incluindo a área do município de Santana, no estado do Amapá, no qual o arsênio é liberado no ambiente por meio de atividades ligadas à mineração.

A pós-doc Jerusa Schneider com o draft do site da Cátedra ao fundo
A pós-doc Jerusa Schneider com o draft do site da Cátedra ao fundo

SAUDE PÚBLICA

Estudos realizados nessas três principais áreas apontaram doenças causadas por arsênio. “Como já se sabe que nessas três regiões há grandes concentrações de contaminação, podem existir outras áreas impactadas em que as pessoas não sabem que estão sendo expostas. É preciso, portanto, fazer um monitoramento e um mapeamento da distribuição desse elemento, associando com as causas de doenças e verificando se há relação com arsênio ou não. Há poucas informações sobre o assunto no Brasil. A pessoa pode estar exposta e não saber se as águas subterrâneas ou superficiais estão contaminadas. É nesse sentido que a Cátedra busca ampliar a pesquisa, o treinamento e a disseminação de conhecimento relacionado ao problema global do arsênio, incluindo aspectos científicos e tecnologias para mitigação”, destacou Jerusa.

Um dos casos mais marcantes de contaminação da água por arsênio é Bangladesh, um dos países mais pobres e populosos do planeta. Na década de 70, o governo instalou poços artesianos para coletar água do lençol freático, evitando que as pessoas bebessem a água da superfície que poderia transmitir cólera e disenteria. Algumas rochas têm naturalmente minerais que contém arsênio e a contaminação pode ocorrer pelo rebaixamento de aquíferos, devido à retirada excessiva de água subterrânea em poços artesianos. “Quando o lençol freático baixou, houve uma transformação desses minerais e a liberação do elemento em formas reconhecidamente mais tóxicas, formadas por íons arsenato (As+5) e arsenito (As+3). Milhões de pessoas foram contaminadas através do consumo direto da água e também da irrigação de plantações”, pontuou Jerusa. Ainda hoje milhares de pessoas sofrem com a contaminação. Em um documento publicado em 2016, a Organização Mundial de Saúde considerou a contaminação da água em Bangladesh como o maior envenenamento em massa de população da história.

CÁTEDRA

A Cátedra é transdisciplinar e tem vários parceiros mundiais, como Alemanha, China, Sri Lanka, Índia, Coreia do Sul, Reino Unido, Suécia e Paquistão. No Brasil há inicialmente a colaboração da Unicamp. A Pró-Reitoria de Pesquisa endossou a participação da Universidade, nominando Jerusa como a cientista responsável. Esse networking permitirá uma troca de conhecimento, além de possibilitar uma ampla divulgação de informações não só para a academia, mas também para instituições governamentais e não governamentais, alertando sobre o problema global do arsênio.

Jerusa ingressou em maio de 2017 como colaboradora no projeto de Cátedra UNESCO-As-Chair, após sua participação como autora no artigo “Medical geology in the framework of the sustainable development goals”, que tratou do assunto dando uma visão geral dos fatores geo-ambientais envolvidos na disponibilidade desse elemento e de outros contaminantes no meio ambiente e seu impacto na saúde humana.  Em 2018, o professor Jochen Bundschuh abriu uma edição especial na revista Science of The Total Environment, que buscou vários trabalhos e várias atualizações de pesquisas do que vem sendo feito na América Latina.

UNESCO

A Cátedra tem como meta alcançar a maioria dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Unesco até 2030. A ideia é atingir principalmente a meta 6: “água limpa e saneamento”. O estudo deve ser feito a longo prazo, pois há muita informação a ser levantada. Já ocorreu um workshop na China em junho de 2018. Jochen Bundschuh tem feito chamadas para participação em pesquisas e abriu a possibilidade de trabalhar com ele na Austrália. Os interessados em participar da Cátedra devem entrar em contato com Jerusa pelo email jerusasch@gmail.

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