Muito suor e alta tecnologia são alguns dos principais elementos do trabalho de Tatiane Leite, em Hollywood. Artista de efeitos especiais e engenheira, com graduação e mestrado na Unicamp, a brasileira se destacou no fantástico mundo do cinema e, hoje, imprime sua marca em produções recordes de bilheteria, como Homem-Formiga e a Vespa e Missão Impossível - Efeito Fallout.
“O glamour de Hollywood existe na satisfação de ver o trabalho finalizado, pois todos somos pecinhas na engrenagem. Mas, no dia a dia, trabalho muito. O mercado é extremamente competitivo, a tecnologia não para e trabalhamos com tecnologia de ponta. Então, tenho que estar sempre estudando, me reinventando e conhecendo ferramentas novas”, conta Tatiane.
Para ela, a formação na Unicamp foi fundamental para sua carreira. “Toda base e estrutura, que eu tive na Unicamp, permitiram que me posicionasse onde estou hoje. Não tenho a menor dúvida”, declara. Segundo Tatiane, a versatilidade profissional e a solida base tecnológica da sua formação, exigidas pelo mercado cinematográfico norte-americano, têm suas raízes na Universidade. “Meu perfil de ser uma profissional que consegue se adaptar a qualquer coisa, com flexibilidade para migrar de um software para outro ou fazer a mesma tarefa usando ferramentas diferentes, tem base na engenharia que fiz na Unicamp e na pesquisa do mestrado”, afirma.
No mestrado, que concluído em 2012, na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec), sob orientação do professor José Mario De Martino, Tatiane Leite desenvolveu um sistema para melhoria de atratividade de rostos em imagens. A tecnologia criada gerou uma patente e pode ser consultada no Portfólio de Patentes da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), como “Software para tornar faces mais atrativas”.
A partir do levantamento de pontos de interesse e medidas de relativas entre os elementos faciais, Tatiane estabeleceu um conjunto de treinamento a ser usado em algoritmos de aprendizagem para definir mecanismos de aprimoramento de imagens das faces. Entre os possíveis usos da tecnologia, são sugeridos: a edição de imagens publicitárias e animação de imagens para gerar vídeos; avatares de personagens, vendedores, apresentadores e professores virtuais; e sugestão de possíveis mudanças em rostos para cirurgias plásticas estéticas. Além disso, a pesquisa contribuiu para inserção de Tatiane em um nicho muito específico no competitivo mercado hollywoodiano: o face lift digital. “Aquela levantada básica no rosto da galera”, explica Tatiane.
Ao concluir o mestrado, Tatiane foi estudar entretenimento na Universidade da Califórnia e se deparou com desafios além dos imaginados. “Quando cheguei aos Estados Unidos, percebi que a área em que eu queria trabalhar era completamente dominada por homens, mais que a Engenharia, de onde eu vinha”, conta. Entre as evidências da realidade enfrentada pelas mulheres na área, Tatiane cita a única estatueta recebida por uma mulher, em 80 anos da categoria de efeitos especiais: por Sara Bennett, em 2014.
Assim, além das diferenças culturais e de área, que a mudança implicava, Tatiane teve que convencer que ser mulher, imigrante e latino-americana poderia agregar positivamente no seu perfil profissional. “Esses três aspectos, me colocavam lá no final da fila, naquele lugarzinho que ninguém quer. Tive que ir provando que mereço esse lugar, mostrando minha qualidade técnica, ética profissional e toda bagagem cultural e visual que trago comigo”, diz Tatiane. “Exigiu bastante, mas é recompensador quando você vê que foi para a área que mais queria, o trabalho é exatamente o que esperava e você se encaixa perfeitamente nele”, afirma.