Mudanças nos comportamentos sociais e estéticos apareceram refletidas nas provas de habilidade específica do Vestibular da Unicamp 2019, na última semana (21 a 25). Questões de gênero, identidade e visualidade foram expressas no palco e no papel. “Notamos uma diferença acrescente com relação aos costumes. Peças, que há muitos anos estão entre as opções para prova de palco, passam a ter significados diferentes. Vemos meninos escolhendo papéis femininos, meninas fazendo papéis masculinos; afro-descendentes trabalhando situações que deslocam a peça para uma metáfora maior. Acaba virando um manifesto. É muito interessante”, contou Isa Etel Kopelman, responsável pela prova de Artes Cênicas.
Nas Artes Visuais, estes deslocamentos foram pensados na própria formulação das questões, conforme explicou Sylvia Furegatti. “A visualidade, que traz um candidato hoje, um cara que vem da internet, mudou muito em relação ao que aparecia anos atrás. Isso é computado na maneira de fazer abordagem da pergunta e também na correção”, afirmou.
As provas de habilidade específica fazem parte da seleção de candidatos para os cursos de Artes Cênicas, Artes Visuais, Dança, Arquitetura e Urbanismo, e Música. Além das disciplinas gerais avaliadas na primeira e segunda fases do Vestibular, os estudantes tiveram que mostrar seus conhecimentos específicos, habilidades e predisposições para as carreiras desejadas. “Não esperamos aqui atores prontos, senão não haveria necessidade do curso. O que avaliamos é se o candidato tem condições de fazer o curso”, explicou Isa Etel Kopelman.
Para o curso de Artes Cênicas, a fase habilidade específica foi composta por três provas: teórica, prática e de palco. Segundo a Isa Etel Kopelman, na prova prática, realizada em salas de aula, são observadas, entre outras coisas, a relação do candidato como o grupo, sua noção de ritmo, sua capacidade de escuta e atenção. No palco, por sua vez é avaliado como o candidato interpreta a cena escolhida. “Não no sentido de ser um grande ou mau ator, mas em como ele leu aquela cena”, explicou a professora. “Às vezes isso é algo especial. Nessa prova mesmo, já tivemos alguns que mostraram originalidade e coerência muito grande de leitura”, contou.
Uma novidade este ano, segundo Kopelman, foi um candidato deficiente visual. “Foi impressionante. Na prova teórica, uma pessoa leu as questões e ele respondeu oralmente. As provas de sala de aula, com improvisação e trabalho físico, ele enfrentou e foi muito propositivo. Hoje, fez a prova de palco”, relatou.
Artes Visuais
O desafio dos aplicadores das provas de habilidade específica em Artes Visuais, este ano, por sua vez, foi a quantidade de candidatos, que quase dobrou. “A média era de 100 candidatos nessa fase. Com as mudanças do vestibular para 2019, nós recebemos 183 candidatos. Esse público, provavelmente, estava sendo represado pela outra métrica. As mudanças do vestibular e a possibilidade de alcançar a segunda fase e a prova de habilidades descortinaram um grupo de pessoas muito maior, quase o dobro”, contou Sylvia Furegatti.
Nessa etapa, os candidatos realizaram uma prova teórica de história da arte e uma prova prática de desenho de observação e expressão gráfica. “Essa fase busca compreender as coisas que os candidatos trazem nas suas bagagens culturais, pessoais e poéticas”, explicou Furegatti. Utilizando materiais como papelão, tecido e palitos, os candidatos deveriam construir criativamente um objeto. O objeto concebido deveria então ser representado no papel por um desenho, também criativo. “Essa prova parte do tridimensional, objetos, papelão, panos. Envolve um pensamento de espaço, que depois deverá ser traduzido em desenho. É um processo complexo nesse sentido. Não da quantidade de técnicas exigidas, mas de pensamento”, explicou a Luise Weiss, parte da comissão de elaboração da prova.
Os candidatos ao curso de Dança realizaram provas de palco e de técnica e improvisação. Já o curso de Arquitetura e Urbanismo avaliou domínio espacial, observação de paisagem, desenho e expressão gráfica. Todas foram realizadas entre os dias 21 e 25 de janeiro, pelos candidatos aprovados na primeira fase do Vestibular. Sua classificação final será composta juntamente com a nota da segunda fase do Vestibular. A exceção é o curso de Música, onde a habilidade específica é eliminatória e acontece antes da primeira fase.
Confira imagens durante a realização das provas feitas pela TV Unicamp.