A reitoria da Unicamp divulgou nesta segunda-feira (28) nota sobre a tragédia em Brumadinho. No comunicado, a Reitoria destaca importância da ciência para evitar desastres desse tipo e cobra mais eficiência nas políticas ambientais. Leia abaixo:
Ouça, também, entrevista do reitor Marcelo Knobel à rádio CBN.
Nota da Unicamp sobre a tragédia em Brumadinho
A tragédia em Brumadinho, ocorrida apenas três anos após o rompimento da barragem em Mariana, com dimensões igualmente trágicas, expõe questões que precisam ser enfrentadas com transparência e rigor. Não é possível estabelecer quanto tempo a sociedade levará para se recuperar do impacto humano, mas é imperioso reavaliar as políticas de licenciamento ambiental e estabelecer medidas urgentes que garantam a segurança da população, do meio ambiente e da biodiversidade.
Tragédias como as de Brumadinho e Mariana jamais resultam de fatores isolados. Há toda uma cadeia de eventos que interliga diversos atores, desde os responsáveis pelas inspeções periódicas nas estruturas de risco e os altos escalões das empresas exploradoras, até chegar aos parlamentares que formulam políticas públicas, os mandatários que as sancionam e o Judiciário que, em última instância, deveria zelar pela segurança social e fazer com que a lei fosse cumprida dentro de prazos que evitem a impunidade.
Nesse contexto, insere-se, também, a comunidade científica, que ao longo dos anos e de diferentes governos, vem oferecendo subsídios sólidos para a adoção de políticas ambientais mais eficientes. A participação da ciência tem sido determinante em diversos encontros internacionais, como por exemplo a Cúpula da Terra, a Eco-92 e a Rio +20, nas quais foram estabelecidas metas, projetos para a elaboração de leis e medidas de proteção ambiental com o objetivo de reduzir os impactos sobre o meio ambiente e permitir o desenvolvimento econômico de forma sustentável.
Do ponto de vista nacional, a comunidade científica tem sido pródiga ao produzir e divulgar estudos, análises e advertências que, se fossem levados a sério pelos governantes, teriam evitado desastres como os de Mariana e Brumadinho. Embora a Constituição de 1988 tenha estabelecido os parâmetros para uma política ambiental brasileira, os mecanismos de controle das atividades empresariais nessa área têm se mostrado ineficientes para conter os danos ambientais, o que há muito tempo vem sendo denunciado pelos cientistas que acompanham o setor.
O histórico nacional em eventos desse tipo evidencia um padrão de comportamento por parte das autoridades e empresas envolvidas, que tem se revelado nocivo à sociedade. Passado o impacto inicial, geralmente acompanhado de protestos e clamores sociais, a tendência é passar para a acomodação e, logo em seguida, ao esquecimento. A tragédia de Mariana ocorreu há apenas três anos. É inconcebível que, passado esse curto período, um novo desastre aconteça como se fosse algo inédito e isolado.
A Unicamp, que se orgulha de pertencer às universidades brasileiras que contribuem, de forma incisiva e constante para o desenvolvimento de políticas públicas ambientais mais eficientes, vem a público solidarizar-se com os familiares e amigos das vítimas em Brumadinho neste momento de profunda consternação nacional. E reitera sua colaboração com a sociedade, na expectativa de que o conhecimento gerado em seus laboratórios e salas de aula seja valorizado por todas as esferas, a fim de que o Estado estabeleça as condições necessárias a um processo de desenvolvimento econômico e social que respeite os parâmetros de sustentabilidade e segurança.
Reitoria da Unicamp
Campinas, 28 de janeiro de 2019.