O reitor Marcelo Knobel recebeu para uma reunião de trabalho, nesta quinta-feira, o coordenador-geral do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), Bernardo Laferté, que veio anunciar a instalação de um escritório do órgão do Ministério da Justiça e Segurança Pública no município de Campinas. No escritório, que deverá ter colaboração de alunos da Unicamp, serão realizadas entrevistas para avaliar as condições de refugiados (ou não) de imigrantes, que atualmente ocorre apenas no Distrito Federal e na cidade de São Paulo.
Bernardo Laferté, que apesar brasileiro descende de imigrantes sírios libaneses, espanhóis, portugueses e franceses, disse que a proposta do escritório se deve ao fato de o interior de São Paulo ser hoje o quarto destino de refugiados no Brasil, depois do Distrito Federal, Roraima e Manaus. “A proposta está umbilicalmente ligada à Prefeitura de Campinas: foram nove meses de gestação até conseguirmos a liberação da servidora responsável pelos serviços. O escritório ficará na área central – e não na Unicamp – pela facilidade de acesso. Também queremos ir um pouco mais para o interior.”
Fábio Custódio, diretor de Direitos Humanos do município, informou que o espaço para o Conare já está reservado no mesmo local onde funciona o Serviço de Referência ao Imigrante e Refugiado, na Francisco Glicério, a avenida mais central do município. “Antes a demanda estava um pouco reduzida, mas desde novembro temos filas de atendimento e a vinda do Conare ocorre na hora certa. No momento é grande o fluxo de haitianos e cubanos (estes do Programa Mais Médicos e que vêm de várias regiões do estado de São Paulo).”
Para o reitor Marcelo Knobel, que ressaltou sua condição de argentino vindo com os pais devido ao golpe militar no país vizinho em 1976, o tema dos refugiados é fundamental para a Unicamp, que vem adotando várias políticas no campo dos direitos humanos. “Criamos a Cátedra dos Refugiados, o Observatório de Direitos Humanos e a Diretoria de Direitos Humanos, que trata de diversidade étnico-racial, acessibilidade de pessoas com deficiência e de uma questão complicada, geralmente varrida para baixo do tapete, que é a violência sexual.”
Para a reunião no Gabinete do Reitor foram convidados alunos da Unicamp refugiados, que relataram suas experiências e reclamaram principalmente da burocracia e do mau tratamento que recebem em órgãos como a Polícia Federal, quando precisam tratar de documentação. “Do ponto de vista prático, podemos organizar pessoas que prestem um serviço de apoio mais próximo, para não deixar os estudantes refugiados na mão”, sugeriu Marcelo Knobel, lembrando que um representante da própria PF aventou a possibilidade de que um funcionário do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) lá se alocasse em inícios de semestre.
Outra sugestão do reitor, como forma de apoiar as ações do Conare em Campinas, seria a presença de bolsistas no escritório, por meio de uma parceria com a Cátedra Sergio Vieira de Mello (que envolve também a Prefeitura Municipal) – “E seria bem bacana se os bolsistas fossem refugiados”. A propósito, Fábio Custódio observou que os técnicos do Serviço de Referência ao Imigrante e Refugiado acumularam boa experiência em anos de atendimento e já conhecem o caminho mais rápido para a resolução de tais problemas, podendo-se pensar em um polo descentralizado para o grupo de estudantes refugiados na Unicamp.
Também participaram da reunião as professoras Rosana Baeninger e Néri de Barros, que coordenam respectivamente a Cátedra Sergio Vieira de Mello e o Observatório de Direitos Humanos da Unicamp; a procuradora Catarina von Zuben, titular da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conate) do Ministério Público do Trabalho; e Léa Amabili e Vera Rodrigues, representantes da Câmara Temática de Políticas para Mulheres da Agência Metropolitana de Campinas (Agemcamp).