Nenhuma universidade vai progredir sozinha, se as demais também não forem melhoradas. É preciso promover um movimento coletivo em favor da qualidade das instituições de ensino superior no Brasil. A frase foi dita pelo ex-reitor da USP, professor Jacques Marcovitch, na abertura do 3º Workshop Indicadores de Desempenho nas Universidades Estaduais Paulistas -1º Fórum de Desempenho Acadêmico e Comparações Internacionais, realizados nesta quinta-feira (14) na Unicamp. Os eventos foram promovidos no contexto do projeto “Indicadores de Desempenho nas Universidades Estaduais Paulistas”, que conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e é coordenado por Marcovitch.
As atividades foram realizadas em períodos distintos. Pela manhã, ocorreu o workshop, que contou com a participação de pesquisadores que integram o projeto, além de dirigentes e representantes de universidades e convidados. Na oportunidade, foram apresentados alguns dados de estudos desenvolvidos no âmbito do projeto. O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, destacou a importância de as três universidades estaduais paulistas participarem de um esforço coletivo para a construção de indicadores que permitam uma análise mais precisa sobre o desempenho das instituições.
Sandro Valentini, reitor da Unesp, afirmou que as universidades precisam avançar em relação a indicadores sobre os quais elas ainda não têm muita clareza. “Necessitamos de indicadores que mostrem o que as universidades fazem e que contribuição elas trazem para o desenvolvimento científico, tecnológico, social e ambiental do país”, defendeu. De maneira geral, os dirigentes consideraram que a definição de métricas e indicadores que captam de forma mais acurada o desempenho das escolas de nível superior é uma tarefa estratégica.
Primeiro, porque as avaliações permitem oferecer à sociedade, por meio de dados concretos, uma visão mais realista sobre as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Ademais, as métricas e indicadores também constituem valiosa ferramenta de gestão, porque permitem a identificação de falhas e acertos, favorecendo consequentemente a adoção de medidas corretivas ou potencializadoras. Um dos estudos apresentados demonstrou, por exemplo, a notável performance das Ciências Agrárias no Brasil.
O país, que era importador de alimentos na década de 1980, transformou-se em celeiro mundial graças aos investimentos realizados em ciência e tecnologia, notadamente pelas universidades públicas. Justin Axel-Berg, pesquisador da USP, ressaltou, porém, a necessidade de os indicadores de desempenho serem constantemente debatidos. “Indicadores são contestáveis, por isso precisamos melhorar as formas como implementamos a bibliometria”, observou o especialista.
Olhar para 2022
À tarde, ocorreu o fórum, que foi aberto à participação do público e também de representantes de universidades federais, de empresas, governos, agências de fomento, entre outros. As intervenções dos integrantes das mesas de debate foram orientadas com vistas ao cenário de 2022. O professor Jacques Marcovitch salientou que as discussões proporcionadas pelo Projeto Métricas da Fapesp acontecem em um momento de profundas transformações nos âmbitos econômico, social, demográfico, ambiental e político, o que exige ainda mais atenção por parte dos estudiosos do tema. Na mesma linha, Marcelo Knobel assinalou que o momento atual é marcado por debates frequentemente desqualificados, entre eles os referentes às atividades desenvolvidas pelas universidades públicas.
Segundo o reitor da Unicamp, notícias negativas ou falsas se espalham mais rapidamente que as positivas e verdadeiras. “Temos que trabalhar muito na área de indicadores de desempenho, pois isso nos permitirá trabalhar também na área de comunicação. Precisamos dialogar adequadamente com a sociedade, de modo que ela entenda a importância do nosso trabalho”. Representantes de universidades federais enfatizaram igualmente a necessidade de repensar as métricas e indicadores de desempenho. Outra urgência, apontaram, é estabelecer parâmetros de comparação entre instituições, tanto no plano nacional quanto internacional, como forma de também aferir melhor a performance de cada uma.
O professor Jacques Marcovitch convidou as universidades federais e as confessionais a se juntarem ao esforço de definição de novas métricas de indicadores de desempenho. Algumas falas e textos apresentados durante o fórum por representantes dessas instituições, de acordo com ele, deverão ser incluídos na segunda edição do livro “Repensar a Universidade: desempenho acadêmico e comparações internacionais”[Acesse aqui a versão eletrônica da primeira edição], cujo lançamento está previsto para agosto próximo, na sede da Fapesp. A obra reunirá uma série de artigos que tratará sobre diferentes aspectos relacionados à avaliação de desempenho nas universidades.
Ainda de acordo com o professor Jacques Marcovitch, a proposta está se alastrando, graças à adesão de novos atores. “Estamos adensando o movimento. Isso é muito positivo, pois como eu disse as universidades estaduais paulistas não vão conseguir melhorar sozinhas. Para que o avanço seja real e sustentável, o desenvolvimento tem que ser coletivo. Todo o sistema precisa progredir”, reforçou.