A Casa de Vidro de Campinas inaugura nesta quarta-feira (27) a exposição “Seriações nas obras de Marco do Valle”, uma retrospectiva com cerca de 30 trabalhos do artista. Um dos principais nomes da arte contemporânea na cidade, Marco do Valle foi também arquiteto e docente da Unicamp por mais de 30 anos, onde ajudou a fundar o Instituto de Artes (IA) da Unicamp e a Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC).
A exposição, mais do que homenagear o artista, falecido no ano passado, pretende, segundo sua curadora Sylvia Furegatti, do IA, contaminar o espaço com a energia criativa de sua obra. “Nós planejamos com essa programação imantar o lugar de visitações e públicos que venham para cá por algum interesse no trabalho do Marco do Valle, ou na arquitetura do lugar, ou em toda situação de estar aqui presente”, propõe Furegatti.
A retrospectiva busca apresentar a obra de Valle em suas diversas formas de expressão, que foram de arte-xerox e vídeo-arte, a objetos, intervenções e esculturas. Poderão ser apreciadas obras como Topografia Artificial, criada para a 20ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1989, e remontada nesta exposição. De acordo com Julyana Troya, que desenvolve mestrado no IA sob orientação de Furegatti, a obra é composta por formas pesadíssimas de telha de amianto, trazidas de uma cerâmica da família dele. “Nós fizemos o mesmo movimento que ele em 1989. Trouxemos as telhas da mesma cerâmica. Estamos tomando um espaço inteirinho e trazendo os lençóis de borracha, do mesmo jeito que ele fez na Bienal. Era um desejo dele, que agora, estamos viabilizando”, contou.
Segundo Julyana, prima do artista e pesquisadora de sua obra há mais de cinco anos, há algum tempo a exposição vinha sendo planejada junto com Valle, que ao se aposentar da Unicamp pretendia dedicar-se mais ao trabalho artístico. De acordo com ela, Marco do Valle foi deixando pistas sobre a localização de algumas obras e desejos sobre os itens a serem expostos. “Algumas peças que estão aqui estavam guardadas há mais de 30 anos”, relatou Julyana. Obras como o Vórtice das Bacias, ele manifestou que gostaria de apresentar na íntegra e assim a encontramos na Casa de Vidro.
O local da exposição foi cuidadosamente escolhido por Sylvia Furegatti, por seu projeto arquitetônico aberto, vazado, que integra dentro e fora, arte e paisagem. “Olhar os materiais, os formatos, as questões que ele trabalha de abstração da geometria, de simbologias que vai juntando, faz muito sentido nesse espaço. Este é o lugar certo para apresentar a obra do Marco do Valle, a Casa de Vidro”, observou a curadora.
Segundo Furegatti, a proposta vai além da mostra, trata-se de um “projeto expositivo composto por várias atividades”. A exposição contará com a presença do artista residente MESMO (Kjell van Ginkel), pesquisador holandês que desenvolve mestrado na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, investigando materiais do cotidiano. O artista montou seu ateliê dentro da Casa de Vidro e realizará seu trabalho de intervenção urbana lá, a partir de interações com a obra de Valle e como os visitantes.
A programação inclui, ainda, o Ciclo de Palestras “Relações entre Arte e Arquitetura”, com encontros nos dias 11 e 23 de abril, às 19 horas; e o Laboratório Pedagógico, voltado a professores e educadores, que busca um diálogo entre a arte contemporânea e as práticas escolares.
A abertura da exposição acontecerá às 19 horas desta quarta-feira (27) e contará com a presença de colegas e amigos do artista. As visitas à exposição poderão ser mediadas por estudantes do IA, que estarão no local durante os horários de visitação. No acaso de grupos escolares, é solicitado o agendamento da visita mediada. O horário de visitação é de segunda à sexta-feira das 9 às 18 horas e aos sábados das 10 às 15 horas. Todas as atividades são gratuitas. A Casa de Vidro fica no Lago do Café, na Av. Dr. Heitor Penteado, 2145, Parque Taquaral, Campinas - SP. Confira a programação completa.
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