O auditório do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) ficou pequeno para o público presente na primeira edição do “Física para Curiosos” do ano. Na noite de 5 de abril, sexta, mais de 500 pessoas acompanharam a conferência de Carola Dobrigkeit Chinelatto, intitulada “O que mais vem do céu além das estrelas?”. A proposta, que acontece mensalmente no IFGW, é divulgar, por meio de palestras, temas atuais da área para o público em geral.
A partir de histórias e exemplos de pesquisa, Carola falou didaticamente sobre raios cósmicos. Foi no início do século XX, a partir de novas técnicas, detectores e muita investigação científica, que o céu foi analisado com maior complexidade do que se via apenas a olho humano até então. Mas o espectro eletromagnético se estenderia a comprimentos de onda que variam de quilômetros e milionésimos de milionésimos de metro. A comprovação definitiva da existência de raios cósmicos foi em 1912, com o cientista austríaco-norte-americano Victor Hess, que ousava testar hipóteses em altíssimos voos de balão. Nesse momento, se cogitava uma possível “radiação” sobre a Terra, causadora de ionização. O nome “raios cósmicos”, dado por Robert Millikan, veio apenas em 1926, após concluir que as partículas que ele detectava vinham de cima, e não de baixo de sua câmara de nuvens. Experimentos seguiram sobre o que seria de fato o raio cósmico, sua interação com outros materiais e possíveis cargas. Cientistas concluíram, enfim, que se tratavam de partículas subatômicas com carga elétrica positiva que viajavam anos-luz até chegar à superfície terrestre.
Ao entrar na atmosfera do planeta, os raios cósmicos colidem com núcleos de nitrogênio e oxigênio do ar. Avalanches de partículas resultantes dessas colisões formam o fenômeno conhecido como chuveiro atmosférico. “Já a partir dos anos 30, os chuveiros revelaram partículas ainda desconhecidas, a exemplo do píon, o que significou enorme contribuição à Física”, comenta a professora Carola. Ela cita, nesse contexto, os cientistas Cesar Lattes, Occhialini, Powell e Carl Anderson. Nos anos 50, os estudos dos raios passaram a acontecer por meio de máquinas aceleradoras, o que simbolizou a época áurea da física de partículas.
Conforme a professora Carola explica, ninguém ainda sabe exatamente de onde provêm os raios. “Grande parte das partículas de menor energia vem do sol e de nossa própria galáxia, a Via Láctea. Muitos provavelmente vêm de explosões de estrelas e de campos magnéticos extragalácticos”. Hoje diversos estudos se aprofundam nas partículas subatômicas superenergéticas, em áreas como astrofísica e astropartículas. Carola cita alguns exemplos, conhecidos em nível mundial, como o Observatório Pierre Auger, instalado na província argentina de Mendoza, o satélite AMS02 (Alpha Magnetic Spectrometer) e o sistema de telescópio H.E.S.S. (Hig Energy Stereoscopic System).
O próximo “Física para Curiosos” já tem tema e data definidos: será dia 3 de maio, às 19h, com o professor Marcus Aguiar. Ele abordará “Como surgem as espécies”. Confira a programação completa dos próximos encontros.