A “Descoberta de medicamentos de código aberto” foi o tema da palestra concedida pelo professor Aled Edwards, fundador e CEO do Structural Genomics Consortium (SGC), organização mundial de pesquisa público-privada de Ciência Aberta (Open Science) – conceito referente a um ambiente de pesquisa de acesso aberto, sem patentes, onde todo material e ideias sejam compartilhados sem restrição de uso. O evento que aconteceu na tarde de sexta-feira no Instituto de Biologia foi organizado pelo Centro de Química Medicinal (CQMED), que faz parte do consórcio internacional e está vinculado ao Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da Unicamp.
Aled Edwards é professor na Universidade de Toronto e professor adjunto nas Universidades de Oxford e McGill, e também diretor da M4K Pharma, empresa voltada ao desenvolvimento de medicamentos para doenças da infância – e que, por meio da Open Science, vem revolucionando o setor com a descoberta de novos tratamentos, acessíveis a todos. “Em 18 meses de projeto aberto com universidades e empresas farmacêuticas (que nos ajudam com serviços e reagentes), a M4K conseguiu desenvolver uma molécula para o tumor de Wilms, que já está sendo testada em modelos de camundongos”, afirma, sobre a doença que atinge mais comumente crianças de 2 e 3 anos de idade e que representa de 5% a 10% dos tumores infantis.
O CQMED, coordenado pela professora Katlin Brauer Massirer, ganhou esta denominação em novembro do ano passado, quando o Centro de Biologia Química de Proteínas Quinases, criado em 2015 como apoio da Fapesp, tornou-se a primeira unidade Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisas e Inovação Industrial) especializada em fármacos e biofármacos. Este novo acordo da Embrapii, envolvendo os laboratórios Aché e Eurofarma, prevê um investimento inicial de R$ 8,4 milhões. O objetivo é desenvolver agentes anti-infecciosos e medicamentos contra o câncer.
Na opinião de Aled Edwards, a adoção pelo CQMED deste modelo de Ciência Aberta que já existe globalmente, em parceria com as duas farmacêuticas, vai gerar um modelo de negócios muito inovador. “É um modelo isento de patentes e acelera muito a descoberta de novos medicamentos. Gostaria de salientar que nós do SGC e da empresa sem fins licrativos M4K, agora com o CQMED, nos sentimos de alguma maneira pioneiros na divulgação da Ciência Aberta, onde alunos, pós-graduandos e cientistas reúnem todos os resultados que geram nas pesquisas e publicam online, em caderno eletrônico de acesso livre a qualquer pessoa no mundo.”
Edwards acredita que, além de acelerar a descoberta de medicamentos, outras empresas e grupos de pesquisa vão enxergar no projeto a sua importância acima de tudo social, que é de curar doenças infantis de maneira mais rápida. “Por isso, as associações de pacientes também apoiam bastante este modelo, no qual somos pioneiros e que vem sendo muito seguido. Uma particularidade está não só na quantidade de pesquisas, mas no nível de descobertas de medicamentos que um dia serão realidade para os pacientes. Enquanto nos Estados Unidos a Ciência Aberta serve mais à publicação de resultados em artigos, e outros países compartilhem dados principalmente sobre meio ambiente, clima ou agricultura, o SGC é a primeira a produzir informações sobre medicina e biologia; estamos à frente, descobrindo remédios.”