Proporcionalmente ao número de ingressantes na Unicamp este ano, eles representam 2%, mas se depender da determinação, o grupo garante que se fará ouvir dentro e fora do ambiente acadêmico. Eles são os 66 estudantes indígenas aprovados para diversos cursos de graduação da Unicamp. Há dois meses na Universidade, o grupo já se mobilizou e conseguiu organizar uma atividade inédita por aqui: a 1ª Semana dos Acadêmicos Indígenas da Unicamp. Aberto oficialmente na noite desta segunda-feira (15/4), em cerimônia no Centro de Convenções, o evento foi pensado e organizado pelos próprios estudantes.
Mostrar a diversidade dos diferentes povos indígenas representados pelos ingressantes na Unicamp, bem como sua riqueza cultural, está entre os objetivos da Semana, que no primeiro dia já teve o auditório Marielle Franco, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), lotado. As atividades vão desde apresentações culturais, com música, rituais e danças tradicionais das várias etnias, passando por conversas até debates sobre pautas relacionadas a questões indígenas atuais no Brasil.
No âmbito acadêmico, um importante debate colocado pelos estudantes para reflexão da comunidade interna é a permanência dos alunos indígenas na Unicamp. Tema, aliás, que dá nome a I Semana dos Estudantes Indígenas: "Acadêmicos Indígenas e a permanência na Universidade".
O estudante de Filosofia Anderson Siribi, da etnia Tukano, afirmou que o evento é uma maneira de dar visibilidade à presença de alunos indígenas na Unicamp. “Esse é um momento de troca de saberes, mas também de refletir sobre as questões indígenas e questionar sobre como podemos avançar dentro do funcionamento da instituição”, disse Siribi.
Uma das demandas que os estudantes querem trazer para o centro do debate, além da permanência, é a ampliação do Vestibular Indígena, aplicado pela primeira vez no ano passado, pela Unicamp, em cinco cidades do país. O estudante de Engenharia Elétrica, Arlindo Gregório, da etnia Baré, lembrou que na primeira edição do vestibular, 34 cursos ofereceram vagas. “Será importante lutar para inserir mais estudantes indígenas na Unicamp. Vamos trabalhar para que mais cursos abram vagas no Vestibular Indígena”, afirmou Arlindo. Nesse sentido, um dos objetivos da Semana é sensibilizar a comunidade interna, por meio de vivências que recriam a ancestralidade e reafirmam a sabedoria indígena, de acordo com os organizadores.
No primeiro dia do evento, um grupo de estudantes apresentou, no Pavilhão Básico, um ritual de pajelança, tradicional na cultura de vários povos indígenas. Os estudantes encenaram o momento em que uma família recorre a espíritos da natureza, por meio do pajé, para salvar a vida de uma moça doente (veja trechos no vídeo).
“Por meio das apresentações, queremos mostrar a diversidade das culturas indígenas agora presentes na Universidade, que cada etnia tem suas características, como qualquer povo, para não estigmatizarmos os indígenas como sendo todos iguais”, afirmou Marinaldo Costa, da etnia Tukano, estudante de Linguística.
A programação segue até quarta-feira (17/4) e pode ser conferida aqui.