Unicamp se destaca nas atividades de campo de Geologia e Geografia

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Integrar conhecimentos teóricos, adquiridos em sala de aula, e práticos, que serão rotina na vida profissional – essa é a ideia principal das atividades de campo que os alunos de graduação em Geologia e em Geografia do Instituto de Geociências da Unicamp vivenciam. A substituição da sala de aula por ambientes em que haja condições de explorar aspectos naturais, ambientais, sociais, históricos, culturais e econômicos permitem ao aluno uma visão integrada da informação no próprio meio. Em 2018 foram realizadas 58 atividades práticas pelo IG, que é a Unidade da Unicamp com mais experiências desse tipo por conta de exigências das Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos.

Para formar um geólogo, o curso de graduação em Geologia precisa cumprir 720 horas de campo, “imprescindíveis tanto ao processo de aprendizado de conteúdos quanto ao desenvolvimento de competências e habilidades por parte dos egressos”, aponta a diretriz. De acordo com o coordenador de graduação do IG, Wanilson Luiz Silva, a grande maioria das disciplinas do curso de Geologia tem atividade de campo. “Desde o primeiro ano do curso o aluno tem essas atividades. São quatro disciplinas de campo de longo período, que duram no mínimo uma semana, e outras mais curtas. Todas as disciplinas do curso, que envolvem conteúdos de descrição de rochas e minerais, solos e feições ligadas à evolução geológica do planeta Terra e às atividades humanas associadas, têm atividades de campo”, disse o coordenador.

No curso de Geografia, as atividades de campo são também essenciais. “No curso da Unicamp, essas práticas são o grande diferencial em relação aos demais cursos do Brasil, que realizam poucas atividades de campo. O curso tem em média 400 h de campo, que é fundamental para a formação dos alunos. Há um esforço do IG para manter essas atividades, que são tão importantes”, apontou o coordenador.

Segurança
Tais atividades não compreendem apenas a saída a campo propriamente dita, mas as fases de planejamento, exploração e avaliação dos resultados. Há aquelas que ocorrem na região de Campinas e outras mais distantes, com maior duração e que necessitam de deslocamento via ônibus. Em todas elas a segurança é uma prioridade. “Nossos alunos ingressantes, já no primeiro semestre, recebem cursos básicos do CECOM (Centro de Saúde da Comunidade) sobre primeiros socorros. Verificamos na região onde ocorrerão as atividades se há necessidade de vacinação específica preventiva. A todo aluno que ingressa no IG é dada a oportunidade de vacinação e ele recebe informações do CECOM sobre segurança e como se cuidar no campo. Todo ano há esse tipo de atenção aos alunos”, ressalta Wanilson. Além disso, os estudantes são orientados a se proteger do sol e de picadas de insetos - bota, chapéu, calça comprida, blusa de manga longa, protetor solar, repelente e garrafa de água são essenciais nessas atividades.

 

​​​​​​​Alunos e docentes em atividade de campo na fazenda Argentina
Alunos e docentes em atividade de campo na fazenda Argentina

Atividades na Fazenda Argentina
Muitas atividades de campo são realizadas na região de Campinas. No início de abril, um grupo de alunos do curso de Geologia da Unicamp teve a oportunidade de contribuir para o entendimento dos aspectos geológicos, hidrológicos e socioambientais da Fazenda Argentina, que pertence à Unicamp. Eles tiveram atividades de campo na área durante uma semana. De acordo com o docente Wanilson Silva, a Fazenda foi uma descoberta do IG que viu na necessidade da própria Unicamp de investigar suas características naturais e do meio geológico uma oportunidade para aproveitar a área para atividades práticas da disciplina Geologia de Campo III, para alunos do último ano. “Trazer a disciplina de campo para cá, dada a facilidade da logística e a falta de conhecimento sobre seu substrato e recursos hídricos, além de ser uma oportunidade para a Universidade, é uma troca enriquecedora para todos nós. Nós não conhecíamos praticamente nada daqui. Todos os estudos têm nos trazido muitas novidades”, apontou o coordenador da graduação.

Essa foi a terceira vez que alunos do último ano do curso de Geologia participaram de atividades de campo na Fazenda. A mesma disciplina já havia sido ministrada em locais como o Vale do Ribeira, Baixada Santista e interior do Paraná, mas com enfoque diferente dos pontos geológicos analisados. Em 2019, a atividade de campo da disciplina foi coordenada pelo docente do IG Emilson Pereira Leite. “Para os alunos, é uma oportunidade de integrar uma série de técnicas e conceitos que aprenderam durante a graduação. Eles participam da elaboração dos projetos e da definição de objetivos. Eles se envolvem bastante tanto na coleta de dados como na interpretação de resultados e elaboração de relatórios – são atividades que farão parte da vida profissional deles”, apontou Emilson. Segundo o coordenador de graduação, Wanilson Silva, “esse tipo de trabalho nos permite conhecer a Fazenda Argentina sobre vários aspectos geológicos. Colhemos informações de propriedades físicas e químicas do solo e da rocha tanto no campo como em laboratório, que contribuirão para o entendimento da área”.

Além do coordenador da disciplina e do coordenador de graduação, os alunos realizaram atividades práticas organizadas pelas docentes do IG Flávia Consoni e Jacinta Enzweiler. Em campo, foi realizado um reconhecimento da hidrologia da área de estudo, acompanhado de uma coleta de amostras de águas superficiais para análises em laboratório. Também ao longo do semestre, convidados externos fazem palestras relacionadas ao tema do trabalho de campo, com foco em aspectos sociais e profissionais da atuação dos futuros geólogos. Nestas palestras, os alunos têm a oportunidade de conhecer quais os planos da Unicamp para ocupação da Fazenda Argentina e refletir sobre como o trabalho de campo conduzido nesta área pode ajudar a subsidiar as ações propostas. Eles também participam de palestras com os técnicos da prefeitura do campus que apresentam informações sobre a gestão e tratamento da água que abastece a Universidade.

O docente Jorge Luis Porsani, do Departamento de Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP contribuiu com a coleta de dados geofísicos para mapear o subsolo. A participação de Porsani é fruto de uma parceria estabelecida entre ele e o docente do IG Emilson Leite, para tornar mais completo o levantamento de dados geofísicos da área. O IG/Unicamp possui equipamentos geofísicos para algumas finalidades, como mapeamento de elementos radioativos e magnetização. “Nossa equipe da USP veio colaborar com equipamentos que medem propriedades elétricas e eletromagnéticas do substrato, visando complementar a formação dos alunos”, disse. Durante as atividades de campo e de laboratório, os alunos foram divididos em grupos para coleta de vários tipos de dados geofísicos, geoquímicos e socioambientais. Na parte de geofísica, Emilson, da Unicamp, e Porsani, da USP, aplicaram métodos que medem a resistividade elétrica e a reflexão de ondas eletromagnéticas, além de um método que mapeia elementos químicos radioativos (potássio, urânio e tório) e outro que mede o quanto o material tende a se magnetizar na presença de um campo magnético externo. Segundo o docente da Unicamp, “nessa atividade prática foram identificadas regiões de maior concentração de minerais magnéticos, por exemplo. Já o mapeamento do topo rochoso poderá servir de subsidio para fundações, no caso de se construir algo nessa área”.
 

Método da eletrorresistividade – a técnica de caminhamento elétrico em uma estrada da Fazenda Argentina. Essa técnica se baseia na emissão de corrente elétrica entre hastes de metal (eletrodos) para medir a diferença de potencial entre outros dois eletrodos, o que permite calcular a resistividade do material em subsuperfície.


Importância das atividades para os alunos
Para a aluna Tainá Nogueira de Almeida “as atividades de campo são essenciais porque vemos na prática tudo o que aprendemos na sala de aula”. A universitária participou de uma atividade de estratigrafia no Parque do Guartela, no Paraná, quando um grupo de alunos analisou paredões de rocha sedimentar para tentar entender suas estruturas. “Medimos essas estruturas, tiramos fotos e no ‘escritório’ (no IG) tentamos entender os padrões que lá eram formados por vários canais”, disse a estudante que pretende trabalhar na área ambiental. Já a aluna Hevelyn Eduarda conta que muitas pessoas perguntam porque ela faz tantos trabalhos de campo. “Eu digo que o campo é o nosso laboratório, é onde mais experimentamos aprender e entender o sistema Terra e porque vamos trabalhar com isso depois”, disse.

O contato com técnicas antes só abordadas em sala de aula permite aos alunos vivenciar o que poderá fazer parte do seu trabalho no dia-a-dia. Para o aluno Tiago Rivaben Lopes, atividades como a realizada na Fazenda Argentina proporcionam um melhor aprendizado em conceitos como geofísica. O aluno tem dúvida sobre que caminho seguir após a conclusão da graduação. “Depois de formado, pretendo trabalhar com mineração na área de prospecção, mas também gosto de geotecnia de fundações em obras de engenharia”, revelou.

 

​​​​​​​Método da eletrorresistividade – a técnica de caminhamento elétrico em uma estrada da Fazenda Argentina. Essa técnica se baseia na emissão de corrente elétrica entre hastes de metal (eletrodos) para medir a diferença de potencial entre outros dois eletrodos, o que permite calcular a resistividade do material em subsuperfície

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004