Justamente neste 15 de maio, Dia Nacional de Greve contra o corte de verbas das universidades públicas pelo atual governo, foi lançada na Unicamp a plataforma Solidariedade à Pesquisa, para o compartilhamento de insumos entre pesquisadores vinculados a programas de pós-graduação do país. O objetivo é divulgar intenções de doações, pedidos e empréstimos de insumos básicos utilizados em pesquisa, através de um sistema de publicações, numa parceria com a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa). O novo sistema foi idealizado pelo professor José Antonio Rocha Gontijo e desenvolvido pelo pessoal de Tecnologia da Informação (TI) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM).
“Durante um processo de avaliação da Capes, havia vários consultores trabalhando das 8 da manhã às 10 da noite e que não tinham recebido salário e com recursos de apoio à pesquisa sem serem liberados. Isso foi há dois anos e já era um prenúncio da situação agravada hoje”, relembra José Antonio Gontijo, docente da FCM e chefe de Gabinete da Reitoria. “Conversei com o diretor de Avaliação e o presidente da Capes buscando alguma proposta de auxílio, principalmente para os professores da UERJ e da UFRJ, que viviam o pico da crise em suas instituições. Mas não havia naquele momento uma forma de ajuda imediata.”
Foi também há dois anos, prossegue Gontijo, na Europa em crise por conta de problemas como na Grécia e na Síria, que ele recebeu o comunicado de uma organização europeia de biologia molecular solicitando a abertura de bancadas de pesquisa para alocar pesquisadores daqueles países. “Pensei que poderíamos fazer o mesmo no Brasil, ainda que em menor extensão, principalmente com custeio a pesquisas. Conversei com o pessoal da informática da FCM, que começou a trabalhar no site. O interesse da Capes e da RNP facilitou para que aquela ideia inicial crescesse e ganhasse âmbito nacional. É uma ideia pequena, mas que contribui para o uso mais adequado do recurso público.”
Cleusa Regina Milani, analista da área de TI da FCM, afirma que o site Solidariedade à Pesquisa, cujo piloto na Unicamp deve entrar em produção na próxima semana, foi submetido à avaliação de vários programas de pós-graduação, recebendo elogios pela facilidade de utilização. “A proposta é que o site seja totalmente moderado e gerenciado pela própria comunidade científica, sem o envolvimento da FCM, que apenas promoverá o contato entre os interessados. Além de insumos como reagentes, identificamos uma necessidade mais abrangente, como de livros e equipamentos. Um grupo do Rio de Janeiro, por exemplo, desenvolveu um projeto para retirada de lixo do oceano utilizando um equipamento em desuso de outro pesquisador.”
Para a professora Teresa Atvars, coordenadora geral da Unicamp, a plataforma Solidariedade à Pesquisa é uma demonstração de que as universidades estão colaborando com os órgãos do governo ao disponibilizar canais de comunicação que permitam resolver problemas locais. “É um projeto em conjunto com Capes e RNP, viabilizado por uma equipe qualificada da FCM, e muito importante principalmente num momento em que os recursos para ciência e tecnologia estão escassos. Essa rede vai facilitar a interação entre pesquisadores para suprir suas dificuldades, sejam momentâneas ou não.”