Comunidade da Unicamp protesta contra cortes na educação e expõe ciência na rua

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manifestação M15

A mobilização da comunidade da Unicamp, neste 15 de maio, foi além dos cantos de protesto. Depois de atos dentro e fora da Universidade, parte dos manifestantes permaneceu no centro da cidade, para falar sobre suas pesquisas e dialogar com a população. As ações fizeram parte das manifestações que aconteceram em todo o país, nesta quarta-feira (15), contra os cortes na Educação anunciados pelo Governo Federal.

“Estamos aqui hoje para divulgar o que a gente faz.  Eu, como estudante da biologia, quero mostrar a importância de nossa pesquisa para todo país”, afirmou Nathan Drumond Gonçalves Simioni, do Instituto de Biologia (IB). O ato, denominado Ciência na Rua, espalhou-se pelo calçadão da Rua 13 de Maio, na tarde desta quarta-feira (15). Entre passantes, comerciantes, ambulantes, religiosos e artistas de rua, a Unicamp se fez presente mostrando suas pesquisas e debatendo sobre a situação do país.

manifestante

De acordo com Francisco Manoel Barra, pós-graduando da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), os cortes anunciados pelo governo são um ataque direto a qualquer possibilidade de manutenção da universidade pública. “Decidimos participar do movimento porque sentimos na pele o que está acontecendo. O grande investimento feito em ciência nos últimos anos está subitamente sumindo.  Essa redução não vai apenas diminuir o volume da ciência que se faz hoje, vamos perder muito do investimento que já foi feito”, ressaltou.

Jamile Almeida Feitosa, que faz doutorado em Física aplicada à Medicina, colocou seu serviço à disposição da população: “Pacientes de AVC: 24 sessões de RABILITAÇÃO GRATUITAS com realidade virtual. Deixe seu contato.” Segundo ela, o objetivo do ato é derrubar a crença de que a pesquisa realizada na Universidade não tem retorno para a população. “Eu trabalho com reabilitação de pacientes de AVC. É um retorno muito direto”, destacou.

Kemily Teles Coelho e Adria Cristina Lopes, alunas do terceiro e primeiro anos de ensino médio, da Escola Estadual Hildebrando Siqueira, que passavam por ali, ouviram pela primeira vez falar no Profis, Programa de Formação Interdisciplinar Superior que reserva vagas na Unicamp para os melhores estudantes de escolas públicas da região. “Achei bem interessante. Eu quero fazer medicina. Só que a prova é muito difícil. Eu não sabia desse programa”, afirmou Adria.

Com uma plaquinha escrita “Você sabe o que são Raios Cósmicos?”, Luiza Pires Ferreira, estudante do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), atraiu a atenção de Cleones Barbosa dos Santos, economista e fundador do grupo de dança Montana Country, que passava pelo local. “É importante a juventude que está estudando vir para rua mostrar para a sociedade e para os nossos governantes que o negócio é sério. Qual o pai que não quer ter o seu filho um dia na Unicamp?”, pontuou Cleones. Para Luiza, um dos problemas é que a Unicamp é mais conhecida fora do que dentro do país. “Minha orientadora descobriu um novo corpo celeste.  Foi uma descoberta que teve uma repercussão internacional enorme e aqui não se falou nada. Ela é uma das maiores pesquisadores do mundo nessa área e a gente não valoriza isso”, completou.

Na busca de estabelecer diálogo com a população, Pietro Henrique Carvalho Nunes, do Instituto de Geociências (IG), contou ter encontrado alguns obstáculos. “Algumas pessoas ficam na defensiva, falam assim: se for coisa de política e de comunismo eu não quero saber. Mas, conversando e contando sobre a pesquisa que a gente faz, as pessoas começam a ouvir e a entender melhor o que acontece dentro da universidade”, concluiu.

Manifestação começou na Unicamp

 

Protestos

No período da manhã, ainda na Unicamp, estudantes, docentes e funcionários caminharam do Básico até a Reitoria, protestando contra os cortes de verba para educação e os ataques às universidades realizados pelo governo federal. A chave do movimento foi a unificação das categorias em defesa da universidade pública.

Depois, os manifestantes seguiram para o Largo do Rosário, para unirem-se aos demais atos marcados para a cidade de Campinas. O protesto estendeu-se pela avenida Francisco Glicério até o Largo do Pará. Parte dos manifestantes seguiu ainda para São Paulo, onde os protestos estavam marcados para o período da tarde.

manifestantes

De acordo com Milena Tibúrcio Ciccone, aluna do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (Ifch), representante do Centro Acadêmico de Ciências Humanas e do Diretório Central dos Estudantes (DCE), a paralização desta quarta-feira (15), decida em assembleia com mais de 800 estudantes, foi consensual. “Desde 2016, não tínhamos um movimento que parasse a universidade nesse nível. Os estudantes estão com muita disposição de luta e estão entendendo que esses cortes vêm para destruir a universidade, destruir o pensamento crítico e destruir a educação pública no país”, afirmou Milena.

Para João Raimundo Mendonça de Souza, o Kiko, do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), o ato foi fundamental para marcar a posição conjunta de funcionários, estudantes e professores em defesa da Universidade. “Esse é um ato importantíssimo. É uma resposta aos ataques à educação realizados pelo governo Bolsonaro e também à desconstrução que está sendo feita pelo Governo do Estado de São Paulo, manifesta em uma CPI. É a luta de resistência para defender a universidade pública, o que os funcionários, os estudantes e os professores estão fazendo na rua hoje”, pontuou.

manifestação

Wagner Romão, presidente da Associação dos Docentes da Unicamp (ADunicamp), avaliou que a forte reação dos estudantes, funcionários e docentes, da Unicamp e de todo país, está relacionada a tentativa de desmoralizar a Universidade por integrantes do governo e do Ministério da Educação. “O ensino superior público se expandiu muito nos últimos anos.  Isso gerou um enraizamento considerável. Diversos municípios que não tinham acesso à educação em nível superior, agora têm nos Institutos Federais de Educação Superior que se espalharam pelo Brasil”, refletiu. Romão chamou atenção ainda para a particularidade do Estado de São Paulo. “A CPI das Universidades públicas do Estado de São Paulo, que envolve USP, Unesp e Unicamp, nos parece uma porta de entrada para a redução dos recursos públicos nas universidades”, enfatizou.

 Rafaela Altenfelder Vernucci, representante do grêmio do Cotuca

Alunos do Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca) também marcaram presença na manifestação. De acordo com Rafaela Altenfelder Vernucci, representante do grêmio do Cotuca, a mobilização na escola começara há três semanas, com assembleias e grupos de whatsApp. “A questão é que afeta diretamente a gente.  Muitas instituições já anunciaram que vão fechar agora no segundo semestre.  A gente tem esse medo de acontecer alguma coisa com o Cotuca. Nossa função é estar aqui dizendo que a gente não é conivente e vai continuar lutando”, afirmou.

Cotuca Unicamp
Rafaela Altenfelder Vernucci, representante do grêmio do Cotuca

Para o professor Pedro Rossi, do Instituto de Economia (IE), a massiva participação da comunidade da Unicamp na manifestação é uma reação importante. “O ataque às universidades públicas por meio de cortes orçamentários começaram agora e tendem a se intensificar. A agenda do governo de austeridade fiscal atende mais os grandes interesses privados do que as políticas públicas de educação e de saúde. É um passo importante a sociedade civil se colocar contra esse tipo de política”, afirmou.

manifestante
“Minha experiência na manifestação de hoje foi de muita esperança. Eu vi uma adesão crescente e encontrei muitas professoras aqui. Foi bonito de ver as categorias unidas. Onde houver luta para ser feita, estaremos juntos. Vamos dar a mão para seguir”, pontutou Renata Ragazzo Karpanet, professora da Dedic.
Cotuca unicamp
“Foram os próprios alunos trouxeram a preocupação em relação aos cortes para a escola. Fizeram assembleias e colocaram todas as suas preocupações em relação aos cortes, à reforma da previdência e às posturas bastante autoritárias do governo. Eles resolveram unir forças e unificar as falas para trazer o movimento estudantil para rua,  tentando não só reverter os cortes mas defender o direito deles, dos seus filhos e netos à Educação”, contou Renata Altenfelder, professora do Cotuca.
funcionaria
“Foi um ato  muito grande,  impressionantemente grande. Acredito que foi o maior ato que já participei aqui na cidade de Campinas, em 15 anos de luta e militância. Isso é muito significativo, pois mostra que a sociedade sabe a importância da educação. Democracia é assim.  Democracia de verdade se faz na rua”, afirmou Mariana Conti, vereadora e funcionária da Unicamp.

 

Faculdade de Educação da Unicamp
Institutos Federais
Largo do Rosário
Contra os cortes na educação
Mulheres e crianças
Estudantes
Manifestação no centro de Campinas
manifestantes
manifestantes
Movimentos se encontram
Indígenas
Estudantes
Pela educação
Manifestantes
Manifestação no centro de Campinas
Em defesa da educação
Cotuca Unicamp
Cotuca Unicamp
Manifestação começou na Unicamp
Manifestação começou na Unicamp
Manifestação começou na Unicamp
Manifestação começou na Unicamp
centro de campinas
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Manifestação 15 de Maio Campinas

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004