No momento em que a cultura, juntamente com a educação e a ciência, é colocada em xeque, é necessário que nós reafirmemos a sua importância como elemento formador do ser humano. A manifestação foi feita na manhã desta quinta-feira (23) por Danilo Santos de Miranda, diretor do Serviço Social do Comércio (Sesc) de São Paulo, durante a abertura do “Seminário de Cultura e Extensão: Desafios da Cultura e da Extensão na Universidade”, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) da Unicamp. O evento, realizado no Centro de Convenções da Universidade, terá continuidade nesta sexta-feira.
De acordo com Miranda, a cultura não pode ser tratada como um elemento secundário, como alguns segmentos defendem. “A cultura está relacionada diretamente à geração do conhecimento e ao exercício do pensamento, que são valores essenciais para o desenvolvimento da sociedade”, defendeu. O Sesc, continuou o dirigente, tem atuado justamente com esta visão, procurando oferecer a diferentes públicos manifestações artísticas e culturais que proporcionem beleza e encantamento, mas que também estimulem a reflexão e o debate.
“Nós entendemos a cultura a partir de dois conceitos, o ético e o estético. O primeiro nos orienta no sentido de fazer o melhor sob o ponto de vista do interesse público. O segundo, no sentido de fazer o que é mais adequado ao público, com qualidade. Agora, é importante dizer que não basta que as pessoas compareçam às unidades do Sesc. O nosso objetivo é que elas se integrem às ações que promovemos”, explicou.
Ricardo Ohtake, presidente do Instituto Tomie Ohtake, também enfatizou a importância da cultura na formação do ser humano e criticou a forma utilitarista como o setor vem sendo tratado na atualidade. “O utilitarismo é resultado da excessiva força do capitalismo na sociedade. Tudo é dinheiro, tudo tem que ter utilidade material. Infelizmente, é uma visão que tem prosperado tanto no Brasil quanto no restante do mundo, muito em consequência do avanço da extrema direita”, considerou.
O Instituto Tomie Ohtake, segundo ele, procura realizar atividades, como exposições de artes plásticas, que contribuam para a geração do conhecimento. “Gerar conhecimento é uma especialidade da universidade. Como nós não somos e nem queremos ser uma universidade, nós trabalhamos com o público que normalmente não é trabalhado pela academia, que são os estudantes das escolas públicas e os moradores da periferia. Como não temos padrinho, os recursos vêm frequentemente das leis de incentivo, o que nos deixa sempre em dúvida sobre a realização ou não de um próximo projeto”, revelou.
Ohtake contou que, num determinado momento, o Instituo resolveu cobrar ingressos para cobrir gastos que não haviam sido previstos no projeto de uma exposição. “Fixamos os valores em R$ 10 e R$ 5. Depois de alguns dias, notei que o público que frequentava o Instituo havia mudado. As pessoas mais humildes tinham deixado de ir. Pode parecer que não, mas R$ 10 é dinheiro que faz falta para muita gente. Quando percebi isso, a entrada voltou a ser gratuita”.
Cultura e extensão
As atividades do primeiro dia do seminário foram voltadas ao tema da cultura. Na sexta-feira, as reflexões terão como foco a extensão. Conforme o pró-reitor de Cultura e Extensão da Unicamp, professor Fernando Hashimoto, a Universidade é um ambiente cultural por excelência. “A cultura é um elemento transversal na formação do ser humano. É importante que a academia pense em como pode contribuir para que essa formação seja cada vez mais sólida”.
No Plano Nacional de Cultura, acrescentou Hashimoto, a universidade é mencionada em três aspectos específicos, nos quais é citada como promotora de políticas e fomentadora de ações culturais. “Esse é um trabalho que estamos intensificando na Unicamp. No aspecto da extensão universitária, temos considerado tanto a formação dos nossos estudantes quanto o diálogo com a sociedade”.
Sobre os cortes no financiamento público da cultura, Hashimoto salientou que a medida traz prejuízo para o setor, mas também para a economia do país. “Pouca gente sabe, mas a participação da cultura no PIB é de 8%, o dobro da indústria farmacêutica. Ou seja, cortar recursos do setor significa não apenas limitar a criatividade e a liberdade de expressão, mas também enfraquecer a economia”, ponderou. A programação completa do seminário pode ser conferida neste endereço.