Afetos Políticos foi tema da sexta edição do Encontro de Divulgação Científica de Ciência e Cultura, que aconteceu na última semana na Unicamp. Foram 22 sessões de apresentação de trabalhos e experiências, seis oficinas, além de painéis e debates. Organizado anualmente por dissentes do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), o evento colocou em diálogo diferentes perspectivas sobre a comunicação de ciência e cultura.
“Todos os anos, temos o desafio de escolher um tema que seja ao mesmo tempo estimulante e possível para muitas áreas diferentes. Nossas próprias pesquisas tratam de temas muito variados. Cada uma das linhas de pesquisa do Labjor entende a divulgação de jeito muito diferente. Somos um programa interdisciplinar, até porque não se faz divulgação de ciência e cultura sem interdisciplinaridade”, afirmou Carolina Scartezini, mestranda do Labjor e uma das responsáveis pelo evento.
O tema dos afetos políticos emergiu também, de acordo com Carolina, do contexto político vivido pelo país. “Temos uma crise que nos afeta diretamente. É fácil ficarmos nos sentindo impotentes e desesperançosos diante da situação. Então nós precisamos arrumar outro jeito de ser afetados e também de afetar, que não seja apenas na zona de tristeza, impotência e revolta. A gente queria muito fazer desse evento um caminho para propor outras possibilidades para isso”, contou.
Com esse objetivo, a organização do evento convidou a historiadora, doutora em urbanismo e Coordenadora da Pós Graduação em Matriz Africana da Univida, Alessandra Ribeiro, para a conferência de abertura. “Eu queria entender a história da matriz africana para poder reescrevê-la e o território é onde ela se manifesta”, afirmou Alessandra. Ela contou sobre seu trabalho junto à comunidade de Jongo Dito Ribeiro, como gestora cultural da Casa de Cultura Fazenda Roseira, a uma só vez político, afetivo e científico.
A metodologia utilizada foi a cartografia social que, de acordo com ela, busca resolver conflitos a partir da comunidade. “É uma forma de entender como determinado grupo se coloca dentro de um território”, contou. “É fundamental dar voz à comunidade e pensar política pública a partir daquele que está vivenciando a experiência do território”, destacou.
Para ela, a cartografia social pode ser um instrumento importante para pesquisadores em difusão científica e cultural, pois possibilita olhar para aspecto muitas vezes esquecidos. “É um instrumento democrático e coletivo. Fundamental em um momento de crise política, como esse. Precisamos olhar para as ferramentas que são essenciais do território”, explicou.
O diretor do Scienceblogs Brasil, Rafael Bento, abriu sua conferência com uma provocação aos divulgadores de ciência. “Nosso afeto ou o deles: para quem realmente estamos produzindo conteúdo?”. “Às vezes, a gente está fazendo para gente. Porque a gente acha legal, a gente acha importante. Mas não é isso vocês que as pessoas querem saber ou o que ela precisa saber. Ou ainda, não é essa a linguagem que ela vai consumir”, pontuou.
Para ele, muitas vezes, as iniciativas de divulgação científica pecam por não visar um público específico e usar a plataforma correta para isso. “Se eu quero atingir adolescentes, tenho que ver o que os adolescentes consomem. Para tentar fazer algo nesse sentido, com essa roupagem, com essa linguagem, para esse público. Eu não vejo projetos focados planejados nesse sentido. Pouquíssimos canais estouraram a bolha”, explicou.