Agricultura familiar, agroecologia e democracia são alguns dos temas que serão abordados até sexta-feira (14), na IX Jornada de Estudos em Assentamentos Rurais. O evento, que conta com participação de estudiosos e agricultores do Brasil e América Latina, teve início nessa quarta-feira (12), na Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp (Feagri). “A Jornada avança bastante, pois as discussões não ficam só na academia. Trazemos a sociedade para participar e, principalmente, seus protagonistas, os agricultores”, destacou Vanilde Ferreira de Souza Esquerdo, organizadora do evento.
Na mesa de abertura, além das autoridades institucionais da Universidade, estiveram representadas as principais organizações sociais ligadas ao tema, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do Brasil (Unisol), entre outros.
“O papel da universidade é o que a jornada propõe: chegar perto da sociedade organizada, das comunidades e gerar conhecimento através da ação, do debate, do estudo, da pesquisa, do diálogo e da experimentação”, afirmou Mariano Laplane, diretor-executivo de Relações Internacionais, na abertura do evento.
Vanilde Esquerdo ressaltou, também, a relevância da discussão para o país. “Quem produz alimentos são os agricultores familiares. Não só no Brasil, mas no mundo. Discutir temáticas que envolvem os sistemas agroalimentares, a construção social de mercados, uso inseguro dos agrotóxicos e toda a regulamentação das terras é extremamente atual e importante”, pontuou.
Além das mesas redondas e apresentação de pôsteres com trabalhos científicos, a Jornada deste ano inclui seções de relatos de experiências e espaços para troca de sementes. O objetivo desses espaços, de acordo com a organizadora, foi ampliar a participação dos agricultores no evento. “Sempre procuramos estabelecer esse diálogo do conhecimento científico com conhecimento popular”, afirmou.
O encontro também conta com uma feira, onde os produtores podem comercializar seus produtos. A feira acontece entre os prédios da Feagri, das 9 às 17 horas. Segundo os organizadores, na sexta-feira (14), a Jornada fará parte das manifestações organizadas por diversas entidades da sociedade. “Apoiamos o movimento e estamos aqui para fortalece-lo”, destacou Vanilde Esquerdo.
Democracia e Capitalismo Agrário
Na conferência de abertura, Miguel Carter, diretor do Centro para Democracia, Criatividade e Inclusão Social (Demos), apontou a desigualdade social e as elites agrárias com alguns dos principais empecilhos para a construção das democracias na América Latina. “A desigualdade subverte o princípio da igualdade política, que é fundamental para a democracia. Ela subverte o desenvolvimento do Estado de Direito e a proteção dos direitos humanos. Ela cria insegurança na sociedade e gera períodos recorrentes de turbulência e instabilidade política”, afirmou.
De acordo com Miguel Carter, além das vantagens socioambientais, a agricultura familiar gera mais riqueza, mais empregos e mais retorno para os investimentos do Estado, do que o agronegócio. “Nós precisamos fazer uma mudança paradigmática na agricultura. Precisamos passar de uma agricultura agroindustrial de larga escala para uma de agroecologia em propriedades menores”, defendeu.