O Hospital da Mulher “Professor José Aristodemo Pinotti” (Caism) da Unicamp colocou em operação, há cerca de um mês, uma sala cirúrgica inteligente. Trata-se de um ambiente integrado, dotado de equipamentos e facilidades que otimizam os procedimentos cirúrgicos. Entre os recursos disponíveis estão câmeras de alta resolução, que geram imagens que podem, por exemplo, auxiliar na intervenção ou serem usadas como conteúdo didático-pedagógico nas aulas de Medicina. “Nesse caso, nós podemos tanto armazenar essas imagens para uso posterior quanto transmiti-las em tempo real para um auditório, dentro ou fora do Caism”, explica o tocoginecologista Luiz Francisco Baccaro, diretor da Divisão de Apoio à Assistência e à Pesquisa do hospital.
De acordo com Baccaro, a implantação da sala cirúrgica inteligente exigiu investimentos da ordem de R$ 508 mil, que foram aplicados em obras físicas e compra de equipamentos. Deste montante, R$ 220 mil foram financiados pela empresa Lanco, que pretende utilizar o espaço para estudar o desempenho dos equipamentos. Em 30 dias de funcionamento, o ambiente foi utilizado algumas dezenas de vezes. “Há dias em que fazemos cinco ou seis cirurgias no local”, informa o médico. O espaço, acrescenta ele, é todo projetado para otimizar os diferentes aspectos relacionados a uma intervenção cirúrgica. No caso do Caism, os procedimentos são relativos à área ginecológica. “O grande objetivo do uso dessa tecnologia é ampliar a segurança da paciente”, afirma.
A presença das câmeras de alta resolução proporciona um importante ganho, em diversos aspectos. “Temos quatro equipamentos. Um deles está focado no local da cirurgia. Outro está acoplado ao endoscópio. Com isso, nós podemos usar os monitores presentes na sala para observar detalhes da cirurgia, em variados ângulos e posições. O interessante é que as imagens são acompanhadas por toda a equipe. Numa sala cirúrgica convencional, somente o cirurgião tem uma visão privilegiada do campo cirúrgico. Quem está ao lado dele não tem a mesma perspectiva”, pontua o diretor do Caism.
Além disso, continua Baccaro, os monitores também permitem o acesso a exames da paciente no transcorrer da cirurgia, caso seja necessário. “Outra possibilidade, que ainda não usamos, mas que poderemos usar, é consultar algum especialista de outra instituição, em tempo real, sobre procedimentos com os quais eventualmente não tenhamos tanta experiência”. Aqui, o diretor do Caism faz uma observação que qualifica como importante. “Nós seguimos um protocolo bastante rigoroso. No caso do uso ou transmissão das imagens, nós precisamos obter a autorização da paciente por escrito”.
O tocoginecologista aponta, ainda, outros ganhos proporcionados pela sala cirúrgica inteligente. Um deles diz respeito à logística envolvida numa cirurgia. O ambiente foi projetado para que nenhum equipamento toque o chão. Isso facilita muito o processo de limpeza do espaço, reduzindo assim o tempo entre uma intervenção e outra. “Além disso, não precisamos mais manter cilindros com gases, como o CO² [gás carbônico], na sala de cirurgia. Eles ficam do lado de fora e chegam até o ambiente por tubulação. Antes, a equipe era obrigada a trocar os cilindros dentro da sala, o que aumentava o risco laboral, bem como o tempo entre as cirurgias”.
A sala inteligente também dispõe de um sistema de nobreak, que faz com que não ocorra qualquer delay [breve interrupção] em caso de queda de energia elétrica. Todos esses ganhos, entende Baccaro, não somente otimizam as cirurgias, como também concorrem para uma recuperação mais rápida das pacientes. “Nesse ambiente inteligente, nós fazemos cirurgias abertas, mas o espaço é muito utilizado para a realização de procedimentos endoscópicos, que são menos invasivos e que facilitam a recuperação do paciente”.
O médico considera que a tendência é de que as salas cirúrgicas inteligentes sejam cada vez mais incorporadas pelos hospitais por causa do conjunto de vantagens que oferecem. “No futuro, penso que todo o centro cirúrgico seguirá esse conceito. Obviamente, isso não depende somente de vontade dos hospitais, mas principalmente da disponibilidade de recursos, visto que o investimento não é pequeno”.