“Como mostrar práticas humanas e humanizadoras em contextos tão adversos e xenofóbicos?”, é a questão colocada pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada (Gepec) no 9º seminário Fala Outra Escola, promovido entre 10 e 12 de julho no Centro de Convenções. Sob o tema “Co-lecionar: práticas de humanização com e para a liberdade”, estão sendo apresentadas experiências que professores e profissionais da escola e dos sistemas educacionais insistem em colecionar, mesmo em contextos adversos e insólitos. A programação traz rodas de conversas, sessões de diálogos e mostra de trabalhos pedagógicos, além de eventos culturais.
Inês Ferreira de Souza Bragança, professora da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp e integrante da comissão científica para o evento, explica que se trata de um encontro entre universidade e escola para diálogo e compartilhamento de conhecimentos comuns. “O Fala é um momento muito especial para professores, alunos de graduação e pós-graduação e pesquisadores do Gepec e de diversas regiões do Brasil. Sempre foi a reafirmação da nossa luta por uma escola pública de qualidade, humanizadora, libertadora e crítica.”
O contexto político atual confere relevância ainda maior ao evento, refletida na presença de mais de 300 professores da rede básica, na opinião da professora da FE. “Pensamos que teríamos um número menor de participantes porque o contexto que vivíamos em 2018 era de desesperança e de instabilidade (que persiste). Mas vemos o contrário. Isso porque nós da universidade pública e da escola pública entendemos que precisamos estar juntos para resistir. E a nossa forma de resistir é falar dessas práticas cotidianas e instituí-las.”
Inês Bragança vê ataques contra o trabalho dos professores no sentido da precarização, intensificação e controle; cortes no financiamento; a não prioridade da educação e da cultura; a inexistência de um projeto de educação. “Um encontro como este permite ver o que a escola pública faz com grande qualidade. O que nos chega pela grande mídia é o fracasso da escola pública. Mas, quando estamos com a escola, o que vemos são professores engajados e comprometidos, a despeito da inexistência de políticas públicas que de fato garantam a qualidade do ensino, a carreira, o salário e as condições de trabalho.”
A docente da Unicamp mediou uma roda de conversa no eixo da “Formação docente e saberes profissionais”, sobre “A pesquisa narrativa (auto)biográfica e seus ecos nas experiências de formação”, com a participação das professoras Eda Maria de Oliveira Henriques, Andreia Diniz e Roberta Jardim Coube. “É uma perspectiva de pesquisa que tem compromisso com a escuta daquilo que professores, crianças, jovens e adultos produzem juntos na escola: saberes, memória e uma história, conhecimentos precisam circular. Há um compromisso epistemológico e também político, visto que essas vozes em geral são silenciadas.”
Outras duas rodas de conversa tomaram a tarde de quinta-feira durante o Fala Outra Escola: no eixo “Subjetividades, memória e educação das sensibilidades”, o tema “Dança, tecnologias digitais e cinema na escola: construção de saberes sensíveis e autorias infantis”, com as professoras Adriana Carvalho Koyama, Ana Carolina de Araújo, Karla Lopes Beck; e no eixo “Cotidiano e práticas educativas”, o tema “Co-lecionando Linguagens: O ensino de arte e a construção do coletivo no ensino técnico integrado”, com Maria José Oliveira Nascimento, Rubia Cruz, Daniel Sávio Pereira da Silva.
Nas sessões de diálogos, professores e profissionais da escola e da universidade manifestam suas experiências e reflexões indicando a pluralidade de seus saberes e conhecimentos e suas práticas pedagógicas e educativas que humanizam e constituem-se em espaços de liberdade na busca de produzir uma “outra escola”. Já a mostra de trabalhos pedagógicos “Co-Lecionando” traz produções desenvolvidas com crianças, jovens e adultos do ensino básico (infantil, fundamental, médio, educação de jovens e adultos).