Entre os dias 15 e 19 de julho, o Instituto de Geociências (IG) da Unicamp recebe o workshop “Environment and Development: Shared 21st Century Sustainability Challenges”, que reúne pesquisadores de instituições paulistas e britânicas interessados em dividir e aprofundar conhecimentos. O evento foi organizado pelos docentes Lindon Matias, do Departamento de Geografia do IG/Unicamp, e Antônio Ioris, da Escola de Geografia e Planejamento, de Cardiff, e faz parte de uma série de atividades sendo desenvolvidas em parceria pelas duas universidades.
Dentre os participantes que foram previamente selecionados, há geógrafos, arquitetos, cientistas sociais, físicos, antropólogos, entre outros, de universidades britânicas como Cambridge, Bristol, Newcastle, York e Nottingham, e de brasileiras como UFSCAR, UNIFESP, UFABC e UnG, além de pesquisadores do Cemaden e Embrapa. Há representantes de cerca de 20 instituições do Reino Unido e 12 do Brasil. Os pesquisadores terão a possibilidade de aprofundar conhecimentos em palestras, discussões e visita técnica ao HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS) da Unicamp.
Paulo Artaxo, físico da USP e renomado pesquisador na área de mudanças climáticas, foi o convidado de honra para proferir a palestra de abertura do workshop. Dentre os pontos abordados em sua apresentação, o cientista destacou a importância da Amazônia, as consequências de seu desmatamento e a necessidade de diminuir a emissão de CO2 na atmosfera. Artaxo comentou o processo de desmatamento no Brasil, que voltou a aumentar, e a posição atual do governo brasileiro. “Todas as mudanças nas políticas públicas vão na direção de eliminar a legislação de proteção ao meio ambiente, facilitar a exploração econômica desenfreada do cerrado e da floresta amazônica, usar a maior quantidade possível de agrotóxico, esgotar nossos lençóis hídricos, comprometendo o futuro em função do lucro em um prazo muito curto”, constatou. Para o cientista, eventos que promovem a discussão do meio ambiente como o workshop na Unicamp são essenciais. “A ciência hoje é totalmente internacionalizada, particularmente a ciência das mudanças climáticas globais. É uma troca onde todos ganham. Não existe mais a ciência fechada no seu próprio laboratório, circunscrita no seu próprio domínio”, disse.
Segundo Lindon Matias, a informação é estratégica para todos os setores produtivos. Após o evento, haverá a publicação de um livro em língua inglesa com os principais resultados obtidos a partir do workshop. Ainda de acordo com o docente do IG, “há também a possibilidade de formular projetos de pesquisa com alguns desses pesquisadores”.
Dentro do tema do workshop, Antônio Ioris, que é cientista social, dimensiona a importância da questão ambiental dentro dos processos de tomada de decisão política e da justificativa do progresso. “Enquanto não se trouxer o meio ambiente para o centro das questões do desenvolvimento, da democracia e da integração social, os problemas vão continuar se ampliando. A questão ambiental está relacionada à maneira como as oportunidades sociais são criadas, como as desigualdades se perpetuam e a forma como as decisões políticas são feitas”, pontuou. O cientista também mostrou preocupação com a questão das universidades públicas. “Quando há uma erosão da independência da autonomia das universidades, com impacto direto da produção da ciência, é preocupante. O compromisso da universidade pública, como Unicamp e Cardiff, é com a população de seu país, devendo orientar nosso trabalho, servindo primordialmente aos interesses da sociedade”, destacou.
Dentre os pesquisadores participantes do workshop estão Evan Killick, da Universidade de Sussex, um dos moderadores do workshop, e Kátia Canil, docente da Universidade Federal do ABC. Killick, que é antropólogo e trabalhou com indígenas em Santarém, no Pará, espera encontrar no workshop pesquisadores interessados em trabalhar em cooperação. “Todos nós sabemos da importância do meio ambiente para a nossa sobrevivência”, disse. “É importante trabalhar globalmente, não apenas no Reino Unido ou no Brasil separadamente”, pontuou o cientista que faz sua primeira visita à Unicamp. Kátia Canil, que atua na área de gestão de riscos e mapeamento relacionado ao planejamento territorial, destaca a oportunidade de trocar experiências, integrar pesquisas e evoluir no conhecimento. “A questão climática afeta principalmente as áreas de maior vulnerabilidade, que é onde faço os mapeamentos. É importante conhecer a parte física, ouvir as pessoas que vivem nessas regiões e discutir quais seriam a melhores alternativas junto com a gestão pública, que deverá ter uma leitura correta do processo”, destacou.
Além de Lindon Matias e Antônio Ioris, compuseram a mesa de abertura do evento, o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, o diretor do Instituo de Geociências, Sérgio Salles, e Raissa Daher, do British Council. Knobel destacou a parceria da Unicamp com a universidade britânica. “É uma felicidade poder seguir com essa colaboração que está crescendo. Cardiff é uma das nossas colaborações mais estratégicas”, disse.
Uma nova atividade dessa parceria deverá ocorrer no início do segundo semestre - Antônio Ioris será o professor visitante em agosto na pós-graduação de Geografia no Instituto de Geociências, quando deverá discutir questões metodológicas, filosóficas e éticas em pesquisa. Lindon Matias comemora o fortalecimento na relação da Unicamp com a instituição britânica. “Estamos numa crescente nessa parceria. Há perspectiva que em 2020 um grupo de alunos do projeto de mestrado em ambiente e desenvolvimento de Cardiff consiga realizar trabalhos de campo no Brasil e a Unicamp deverá ser a instituição receptiva desse grupo”, apontou.
Parceria Unicamp-Cardiff
Em 2015, as duas Universidades assinaram um memorando de entendimento que tinha como objetivo estabelecer a colaboração entre as duas instituições nas áreas de Ciências Físicas e Engenharia. Como resultado desse passo inicial, ocorreu uma série de visitas às duas instituições. Essas visitas envolveram cerca de 100 profissionais e um crescimento nas publicações conjuntas, predominantemente em Geociências, Engenharia Elétrica, Odontologia e Química.
Em 2018, pesquisadores das duas Universidades participaram de um workshop na Unicamp que procurou levantar potenciais oportunidades de colaboração em todas as áreas do conhecimento. No final do mesmo ano, o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, assinou em Cardiff um acordo de cooperação para cobrir outras áreas de pesquisa e ampliar as possibilidades de mobilidade internacional. Desde então, ocorreram diversas ações conjuntas envolvendo as duas Universidades. Quatro docentes do Instituto de Geociências já realizaram pós-doutorado em Cardiff.
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