O papel do passado e da memória na construção do presente esteve no cerne das discussões do IX Seminário Nacional, promovido Centro de Memória da Unicamp (CMU), que aconteceu esta semana na Faculdade de Educação (FE). Na última conferência do evento, nesta quarta-feira (31), a filósofa suíça, professora da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUS-SP) e livre-docente da Unicamp, Jeanne Marie Gagnebin, foi enfática ao afirmar que é preciso refletir sobre o período da ditadura militar brasileira e sobre como ela está se atualizando hoje. “O passado continua passando nas nossas vidas. Temos que reconhecer isso e cuidar dele. Não fazer de conta que não aconteceu, como se faz muito no Brasil”, afirmou.
Em sua palestra O presente do passado, abordou o tema da anistia, ressaltando seu caráter de manipulação da memória pública. De acordo com Gagnebin, a anistia deve ser compreendida com uma ação de curto prazo, capaz de restaurar as condições mínimas para a retomada da vida em comum, mas é incapaz de acarretar qualquer benefício em longo prazo. “À interdição de toda ação jurídica, pela interdição da perseguição dos criminosos, junta-se a interdição da evocação dos próprios fatos sobre sua qualificação criminosa. Torna-se, portanto, uma verdadeira amnésia institucional, que induz a fazer de conta que um evento não aconteceu”, afirmou.
De acordo com André Paulilo, diretor do CMU, o Seminário contou com participantes de todo país, com trabalhos que aprofundaram os debates sobre história local, identidades e diversidade. “Tivemos debates bastante relevantes acerca da memória, da relação do presente com o passado e da questão da identidade cultural”, apontou Paulilo, destacando das palestras das professoras Izabel Marson e Marta Rovai. Para o diretor do CMU, boa parte da riqueza do evento esteve nos 15 grupos de trabalho em atividade durante os três dias.
Plataforma Digital
Durante o encerramento do Seminário, foram lançadas a plataforma digital do CMU e os vídeos do projeto "Digitalização e Difusão do conjunto Adolpho Gordo", produzidos pela Rádio e TV (RTV) Unicamp.
O conjunto das atividades parlamentares e das correspondências do senador da velha República, Adolpho Gordo, foi a primeira coleção documental digitalizada e disponibilizada na nova plataforma. “Uma parte das correspondências dele era com a Berta Lutz, na discussão parlamentar sobre o voto feminino. Essa parte do nosso acervo foi nominada como património da UNESCO, em dezembro do ano passado”, contou Paulilo.
Segundo o diretor, o material disponibilizado representa aproximadamente 2% das nossas coleções documentais do CMU. “Isso significa que temos ainda muito trabalho para ser realizado”, explicou Paulilo. O projeto contou com apoio do edital do Programa de Incentivo à Cultura do Estado de São Paulo (PROAC-SP), voltados à área de arquivos permanentes.
Na sequência, nesta quinta-feira (1), será realizado o Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural, voltado para projetos culturais e financiamento público de acervos em museus. “Vamos apresentar o trabalho de organização do Acervo do Adolfo Gordo para digitalização do material e inserção na plataforma”, relatou Paulilo.