Uma semana em uma universidade pública

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Semana passada as aulas recomeçaram, após o recesso escolar os 20 mil estudantes de graduação voltaram aos espaços de aprendizagem da Unicamp. Ônibus e restaurantes universitários novamente movimentados nas horas de pico. Essa é a parte mais visível da universidade, mas o ambiente acadêmico é muito mais do que isso. Inspirado por uma matéria do Jornal da Unicamp de 1986, “A rica vida no campus”, vale a pena olhar para a semana passada nesse ano de 2019.

A rica vida no campus

 

A Unicamp é talvez mais conhecida na cidade de Campinas pelos seus hospitais e unidades de saúde. Esses não param no recesso escolar, afinal são realizadas mais de 1000 intervenções cirúrgicas por semana, baseado nos dados de 2018. Os estudantes de pós-graduação também não entram em férias sempre que há recesso escolar, afinal são mais de 1000 linhas de pesquisa na universidade que não param em julho. E precisam preparar as defesas de suas dissertações e teses, que resumem e validam os anos de dedicação aos projetos. Na semana passada uma defesa em particular chamou a atenção: Matheus Kleber defendeu seu mestrado sobre o músico Chiquinho do Acordeon com um recital de música. Mas não foi só isso: em 2018 foram defendidas 1364 dissertações de mestrado e 994 teses de doutorado e, somando esses números, alcança-se assim uma média de 45 defesas por semana nos diferentes institutos e faculdades. Exemplos da semana passada? Na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação, Rafael Ribeiro defendeu seu trabalho Sistema de Detecção de Zona de Visão do Motorista Utilizando Câmera de Profundidade. Do outro lado do campus, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Ricardo Martins defendeu o trabalho A Adequação da Habitação de Interesse Social aos Arranjos Familiares no Município de São Paulo em 2010. Temas diferentes, mas os títulos indicam a relevância para entender e enfrentar questões de interesse da sociedade.

Voltando um pouco à arte, a Galeria no prédio da Biblioteca Central inaugurou uma nova exposição. Outros temas importantes ainda foram apresentados e discutidos em outros espaços, tudo em uma semana, sendo a inovação o destaque. Houve, por exemplo, o lançamento de um edital de financiamento de startups em conjunto com a Petrobrás e o Sebrae para projetos na busca de inovações na área de energia. Alguém poderia perguntar: e os resultados dessas iniciativas? Coincidentemente, nessa mesma semana aconteceu a entrega dos prêmios para os vencedores do Desafio Unicamp 2019. Dois planos de negócio foram os vencedores. Um deles, na palavra de um premiado: “O nosso modelo de negócio é separar o plástico, papel e alumínio em uma produção química patenteada pela Unicamp. O serviço que vamos oferecer tornará as empresas mais responsáveis ecologicamente, pois os produtos reciclados poderão ser comercializados como matéria-prima” Sobre o segundo: “um modelo de negócio baseado em um fungicida natural patenteado na Unicamp que combate duas doenças agrícolas e evita a reaplicação de pesticidas tóxicos”. Pesquisa e planos para empresas baseadas nas patentes desenvolvidos na universidade. Esses dois vencedores provavelmente vão se juntar às outras 700 empresas filhas da Unicamp.

Caminhando um pouco pelo campus, tivemos outro evento importante, o seminário sobre “Trabalho e capital no século XXI”, com a presença de pesquisadora da Universidade de Cardiff no Reino Unido, com a qual, a propósito, a Unicamp desenvolve parceria estratégica. Para uma universidade, parcerias e colaborações fazem parte da sua essência. Neste e no parágrafo acima estão mencionadas parcerias com uma universidade, uma empresa e um órgão público. O tema, no entanto, não se esgotou aí na semana passada. A Unicamp sediou também atividades que discutiram e analisaram aspectos relacionados à economia dos BRICS, como parte do programa universidades em rede desse importante bloco de países do qual o Brasil faz parte.

Não custa lembrar que os 20 mil estudantes que voltaram das férias são formados nesse rico ambiente, que não pode ser comparado a uma empresa e sim a uma cidade, aliás mais de 50 mil pessoas passam todos os dias por aqui. E nesta semana comemora-se os 30 anos da autonomia das universidades estaduais paulistas, autonomia essa que torna possível as semanas como a descrita acima, semanas que se repetem durante o ano todo.

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IMECC - Unicamp | Foto: Antonio Scarpinetti

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004