
O corpo se debate, esbarra nos outros corpos, treme, é devorado. O corpo é protagonista das dores do mundo no espetáculo de dança “Tártaro”, com o grupo Meandros, da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp. O espetáculo integra a pesquisa de mestrado do coreógrafo Sandro Borelli e terá duas apresentações nesta terça-feira (3) e quinta-feira (5) no Espaço Cultural Casa do Lago.
Sandro Borelli é um reconhecido artista da dança independente paulistana, diretor da Cia Carne Agonizante. Ele já integrou o elenco do Balé Teatro Guaíra, do Ballet Ópera Paulista e do Balé da Cidade de São Paulo. Houve uma pré-estreia do espetáculo em São Paulo e a apresentação para a banca durante a defesa da dissertação.
“Tártaro” é uma referência à mitologia grega e remete ao fosso para onde são enviados os punidos por Zeus. Um lugar de sofrimento e dor, mas também de luta, como imagina Borelli. O coreógrafo trabalha principalmente com os mitos de Tântalo, Sísifo e Íxion. “Para Sandro Borelli os condenados seriam resistentes, figuras de luta. Esta não é a leitura tradicional que se faz da mitologia. A interpretação mais comum é de que eles são condenados por terem agido sem virtude”, detalha o orientador da pesquisa, Odilon José Roble, professor da FEF.
Meandros "Tártaro" - Borelli e Roble from Grupo Meandros on Vimeo.
O estudo que embasou o espetáculo ainda relaciona aspectos dos mitos às conjunturas contemporâneas com referências às obras de Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche, Franz Kafka e a poesia de Augusto dos Anjos. O trabalho propõe ainda um olhar sobre o corpo refém das barbáries físicas e psicológicas a que é submetido. “A ideia foi criar um trabalho de bastante intensidade física tentando trazer para a cena o sofrimento, a angustia, o tempo misturado com o não-tempo, onde um dia significa um século”, disse Sandro.


Com uma longa trajetória no universo da dança brasileira Sandro quis deixar algo mais aprofundado relacionado à mitologia grega, tema que ele já abordou em outro espetáculo chamado “Jardim de Tântalo”. O coreógrafo ressaltou sua despretensão em envolver a obra dos quatro autores da filosofia e da literatura referenciados no texto da dissertação. “São autores muito pesados, gigantescos. Mais a mitologia grega, eu levaria uma vida para conseguir alcançar a potência desses quatro atores”.
A escrita da dissertação e do espetáculo também tem um sentido político para o coreógrafo. Ele considera o trabalho uma espécie de expurgo contra as mazelas do país mais recentes.
A participação de um coreógrafo profissional nas atividades da faculdade é motivo de comemoração. Odilon Roble destaca a necessidade da Universidade ser porosa à presença do artista. “Na Educação Física não é usual. Lançamos a esse desafio e o resultado foi muito bom para todos, sobretudo para os alunos envolvidos”, afirmou.

Espetáculo de dança "Tártaro: Corpo-protagonista perpétuo das dores do mundo"
Espaço Cultural Casa do Lago
Data: 03/09/2019 e 05/09/2019
Entrada Franca.
19h30
Classificação Indicativa: 18 anos
