O Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp iniciou nesta terça-feira (3) as atividades do Programa “Cesar Lattes” do Cientista Residente com a vinda do físico italiano Francesco Vissani. Professor do Gran Sasso Science Institute (GSSI), ele está ministrando um minicurso voltado a pesquisadores da área de Física e Astrofísica de neutrinos e fará duas palestras de divulgação científica para um público não especializado.
Mestre pela Universidade de Pisa e doutor pela Scuola Internazionale Superiore di Studi Avanzati (SISSA), em Trieste, Vissani foi o primeiro cientista laureado com a Medalha Occhialini (2008), iniciativa da Società Italiana di Fisica (SIF) em parceria com o Institute of Physics (IOP), do Reino Unido. Diretor de pesquisa nos Laboratórios Nacionais do Gran Sasso do Istituto Nazionale di Fisica Nucleare (INFN), coordenou o curso de doutorado em Física de Astropartículas no GSSI de 2012 a 2018.
De volta ao Brasil pela terceira vez, Vissani tem um importante trabalho como pesquisador na área de neutrinos e como divulgador da ciência. Em 2016, ele criou o Prêmio Asimov, voltado a autores de livros de popularização da ciência e cultura científica com foco em jovens leitores em idioma italiano. “Eu acredito na colaboração entre cientistas e professores de ensino médio, e essa é a razão pela qual eu criei na Itália o Prêmio Asimov”, explica o físico. “Essa é uma iniciativa que atinge vários milhares de estudantes do ensino médio e algumas centenas de escolas secundárias italianas. É algo muito agradável e estou muito feliz por isso ser apoiado pelo INFN e pelo GSSI, a quem agradeço calorosamente.”
A sugestão do nome de Vissani para estrear o novo programa foi feito pelo físico Anderson Fauth, coordenador adjunto do IdEA e professor do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW). “Sinto-me honrado pelo fato de ter muitos colegas e amigos na Unicamp e é um enorme prazer voltar. Sempre gostei do tempo em que passei no país, por isso estou particularmente feliz com este convite e muito grato ao professor Anderson Fauth”, afirma o físico italiano.
Fauth explica que Vissani foi indicado pelo Conselho Técnico-Administrativo do IdEA como o primeiro cientista residente devido ao seu destaque internacional na área de Física e Astrofísica de neutrinos. Além disso, o italiano é o diretor de pesquisa do maior laboratório subterrâneo de neutrinos do mundo, o Laboratório Nacional do Gran Sasso, do INFN. “O avanço no conhecimento da Física de neutrinos nos últimos anos foi enorme, e as descobertas foram objeto de duas premiações Nobel, em 2002 e 2015”, destaca o coordenador adjunto do IdEA.
“Em suma, a Física e Astrofísica de neutrinos é um tema importantíssimo e atual da ciência para que possamos compreender mais sobre a natureza da matéria. A Unicamp tem pesquisadores atuando nessa área, e o minicurso deverá propiciar um ambiente de alto nível de discussões sobre os atuais e futuros projetos de pesquisa”, diz Fauth.
Programação
O curso Neutrino Physics and Astrophysics, que começou nesta terça (3), será formado por oito aulas, em inglês, às terças e quintas-feiras, na sede do IdEA. Com foco nos alunos de pós-graduação, tratará de história, descrição da partícula, neutrinos com baixa e alta energia e o futuro da Física e Astrofísica de neutrinos, entre outros tópicos. As palestras “Por que o Sol brilha?”, em 11 de setembro, e “Vampiros, Fantasmas, Mutantes: Metáforas sobre os Neutrinos”, em 25 de setembro, acontecerão no Auditório da Biblioteca Central Cesar Lattes da Unicamp, com tradução simultânea, e estão com inscrições abertas.
Na primeira palestra serão descritas as características do Sol e discutidas as previsões científicas sobre o fim da queima de combustível e extinção da estrela. Três hipóteses sobre o calor solar serão tratadas: as reações químicas, o efeito da força gravitacional e a energia do núcleo do átomo. Além disso, Vissani explicará as reações nucleares que ocorrem no Sol e suas validações experimentais. “É a história de como, no século passado, entendemos a maneira como o Sol funciona. Tem alguns aspectos engraçados, como erros cometidos por físicos famosos. É incrível perceber como nossos estudos de física nuclear e de partículas permitiram entender a natureza do Sol e das outras estrelas. Além disso, é uma história aberta, cujas palavras finais ainda não foram escritas.”
Na segunda apresentação na Unicamp, Vissani discorrerá sobre o porquê de, entre todas as partículas conhecidas, o neutrino se diferenciar pelo seu comportamento estranho. Em 1930, quando o neutrino foi proposto, o físico austríaco Wolfgang Pauli (1900-1958) ficou constrangido ao supor a existência de uma partícula “fantasmagórica”. Segundo Vissani, por se apoderar da energia de outras partículas e não ter uma imagem simétrica no espelho, ele também tem recebido a denominação de “vampiro”. A palestra pretende discutir também quais são as razões dessas escolhas lexicais e se o emprego dessas expressões é realmente útil para a compreensão da matéria.
O paranaense Cesar Lattes (1924-2005), que dá nome ao Programa do Cientista Residente do IdEA, gravou seu nome na história da ciência como um dos maiores físicos do Brasil. Graduado, em 1943, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), se interessou pela física experimental, dedicando-se ao estudo de raios cósmicos. Professor catedrático do Departamento de Física da USP desde 1959, Lattes ajudou a criar, em 1967, o Instituto de Física da Unicamp, onde se aposentou em 1986.
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