O time da casa não levou o placar, mas certamente um bom incentivo para consolidar seus treinos. O Clube dos Haitianos marcou 5, mostrando a que veio. Os Acadêmicos Indígenas não deixaram de comemorar seus 2 gols e o orgulho de jogar pela Unicamp. Promovido pela Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM) e pelo Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), o amistoso "Diversidade em Campo e no Campus" aconteceu este domingo (1), na Faculdade de Educação Física (FEF), apesar de toda chuva.
“A linguagem do futebol é universal. Crescemos nas nossas comunidades entendendo o futebol. Acredito que é exatamente algo que integra o mundo. O futebol tem essa capacidade de juntar pessoas. Isso é que é bonito. Ganhar não é nosso objetivo principal”, afirmou Arlindo A. Gregório, representante dos Acadêmicos Indígenas, que cursa Engenharia Elétrica (Feec) na Unicamp. O coletivo, que reúne estudantes de 22 etnias que ingressaram na Unicamp através do Vestibular Indígena 2019, resolveu ocupar o gramado a pouco mais de um mês, quando foi convidado a participar da Copa GGBS. “É um torneio de futebol que é tradicional da Unicamp. Nos sentimos honrados em participar”, comenta Arlindo, de etnia Baré de São Gabriel da Cachoeira.
O lado haitiano, apesar das dificuldades, já treina há três anos e tem como meta uma “seleção” haitiana de Campinas e região. “Tem meninos muito talentosos aqui, que tem vontade de jogar futebol. Vamos jogar! Aí surgiu o time”, contou Julien Milllieu, fundador e hoje presidente do Clube. “O treinamento não é fácil, porque não temos patrocinador. Lutamos para sustentar o time. Todo material ficam na nossa conta. Mas, estamos procurando”, afirmou. Segundo Julien, a população haitiana na região chega a duas mil pessoas, em sua maioria imigrante, mas também refugiados. “Muitos têm ensino médio e alguns ensino superior incompleto. Nosso desafio agora é dar oportunidade de voltar a estudar, aos que tem vontade”, explicou.
O evento teve como objetivo celebrar a diversidade e a inclusão na Universidade. “O jogo está em consonância com as políticas de inclusão e permanência da Unicamp. É um evento para mostrar que essa população é bem-vinda dentro da nossa universidade pública”, afirmou Helena Altmann, coordenadora do SAE e membra da CSVM. Para ela, o esporte também favorece a permanência por criar identidade de grupo e sentido de pertencimento à Universidade.
Para a professora do departamento de antropologia e representante dos docentes de humanas na CSVM, Isadora Lins França, que também acompanhou o jogo, o evento incentiva o diálogo e a promoção do respeito à diversidade na Universidade. “Essa ação da Cátedra busca promover o encontro com populações de diferentes origens, nacionalidades, experiências culturais, que estão aqui na cidade de Campinas e na Universidade. É um momento então rico de troca e diálogo cultural, importante para que consigamos promover um valor fundamental, hoje, que é o respeito à diversidade”, pontuou.
Além das equipes masculinas, o time feminino indígena também marcou presença no evento. Adilce Ferraz, que estuda Tecnologia em Saneamento Ambiental na Faculdade de Tecnologia de Limeira (FT), explicou que a equipe ainda está em formação. “É a primeira vez que algumas meninas tocam na bola”, contou. Ela, ao contrário, joga desde o ensino fundamental e já participa do time da atlética da FT.